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Revista Pandora Brasil : Fragmentos de Ternura, Filosofia e Desterro
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"A aula de meus sonhos"
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além da sala de aula”

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Revista Pandora Brasil Nº 12
Outubro de 2009
ISSN 2175-3318

“O DUPLO”

Apresentação



O tema do duplo é, sem dúvida, uma das mais ricas manifestações da cultura humana. Desde tempos imemoriais, em que o homem era governado pelos mitos, ele aparece com força. Prometeu encarna a duplicidade, ao se revoltar contra os deuses e se aliar aos homens. Édipo é o arquétipo do homem desdobrado. No Gênesis, a bipartição pode ser entendida como um castigo que os deuses infringiram aos homens. A cisão, masculina e feminina, resulta num enfraquecimento, como confirma de forma subreptícia, por sua vez, a filosofia em O banquete, de Platão.

A representação do duplo, contudo, da Antiguidade ao início da Idade Moderna, vai privilegiar a ideia do homogêneo, do idêntico. Lembremos, por exemplo, das comédias de Plauto, tomadas por sósias. Ou as inúmeras representações do mito de Narciso, nesse extenso período, sejam nas artes plásticas ou na literatura. No início do século XVII, em coincidência com as mudanças geradas numa sociedade por um capitalismo incipiente, começa uma virada, o duplo passa a ser uma representação do heterogêneo, de uma relação binária sujeito-objeto. Esta mudança só foi se acirrando com o passar do tempo, à medida que a burguesia se consolida no poder. Dessa forma, no século XIX o artista romântico se depara com dois mundos, o próximo, da realidade, e o distante, da evasão e do sonho. No século XX, a psicanálise aprofunda a divisão identitária, mostrando que à sombra do império da razão o inconsciente é igualmente determinante da conduta humana. No século XXI, o fracionamento amplia-se numa dimensão antes inimaginável, a ciência assume de fato uma condição demiúrgica, o desafio do homem aos deuses se confirma prosaicamente nos laboratórios de genética espalhados pelo mundo, a duplicar os seres, de ovelhas e outros animais a clones de seres humanos. Mais uma vez, afirmam-se os acertos da literatura de ficção científica, que há muito previa o homem duplicado em larga escala.

Aberta a caixa de Pandora, descortinam-se as inumeráveis possibilidades do duplo: o segundo “eu”, o alter-ego; as almas gêmeas; a homonímia; o Eu e o Outro; as ambiguidades e paradoxos, faces complementares do mesmo ser, evidenciadas em dicotomias: corpo e alma, anjo e diabo, bem e mal, vida e morte, consciência e inconsciência, etc. Desde sempre, semelhanças e dessemelhanças são desdobradas nas representações culturais as mais diversas, a demonstrar um estado permanente de inquietude, de insubordinação aos limites, de um ser humano que faz vibrar o arco tenso do desejo artístico.


Dr.Wagner Martins Madeira
Coordenador de Pandora Nº 12
"o Duplo"


 

Súmario Revista Pandora Brasil Nº 12 - “O Duplo”
Novembro de 2009

Introdução ao conteúdo deste número

Sertão Desdobrado
Wagner Martins Madeira
Eu, tituba, feiticeira... negra de salém, de Maryse Condé: aspectos do duplo e outros mitos
Lilian Cristina Corrêa
A transformação do “eu” e a formação do duplo em “Frente ao Espelho” de Machado de Assis
Anita Jovelina Brito de Jesus
Alguma teoria acerca do duplo e da construção da identidade
Angela Sivalli Ignatti
O duplo em “Nória, o Paraíso do Doutor Godot”
Edson Roberto Lanzoni
O apolíneo e o dionisíaco em questão: o homem duplicado à luz da filosofia nietzschiana
Nefatalin Gonçalves Neto
O duplo e o gótico em “O Vôo da Madrugada”
Maria Andrade
Anita Jovelina Brito de Jesus
Enquadramento: uma análise do conto sobre tela de Adriana Lunardi
Mariana Ferraz de Albuquerque
Neide Medeiros Kazan
not dead, de José Luís Peixoto: a contemplação de um duplo
Kátia Medeiros Suelotto
O duplo em “A Queda do Solar de Usher”, de Edgar Allan Poe
Paula Silveira de Aquino
O duplo na personagem de Amleto em Viva o Povo Brasileiro:
transformação e ascensão social

Rosana Bignami Grecchi
Iara(Conto)
Anita Jovelina Brito de Jesus




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