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Poetas Edição Nº 39 "Poetas Poesia II" Homenagem a: |
SANGUE PORTUGUÊS Raquel Naveira Fiz jus Ao meu sangue português, Este foi o meu fado: Deixar o passado, Arremeter-me contra o desconhecido, Acima da minha pequenez. Desejei tudo: Uma nova estrela, Uma nova sorte, Atribuí ao fado O meu cansaço De alma forte. Estaria morto, Absorto em mim mesmo, Se não tivesse partido; Velas ao vento Entre rosas e cruzes, Viajei em busca do meu ideal, Bem ou mal, Não sei quando chegará minha hora, Minha vez, Mas sei que fiz jus Ao meu sangue português. LORD BYRON EM SINTRA Era ele, Lord Byron, Na carruagem que seguia Pela serra Rumo ao mosteiro suspenso, Encostado à penedia. Era ele, Lord Byron, O poeta romântico, Buscando a liberdade Com a paixão De uma eterna idolatria. Eu o vi: A face lívida, A capa negra de vampiro, O sorriso de D. Juan cínico Que enfeitiça a alma das mulheres Na mais cruel vilania. Era ele, Na estrada de Sintra, Naquele glorioso Éden, Naquelas ruínas melancólicas, Ele, tão jovem e propenso à desgraça, Mestre supremo do ócio e do spleen, Imerso naquela verdura E no perfume das camélias. Era ele, Cheio de carisma e beleza, Aristocrata da tormenta. Foi depois daquele passeio que ele escreveu: “_ Há um prazer nas florestas desconhecidas, Um entusiasmo na costa solitária, Uma sociedade onde ninguém penetra; Amo não menos o homem, mas também a natureza.” Lord Byron... Ninguém foi tão disputado quanto ele Desde os tempos da Guerra de Troia, Eu o vi Em sua viagem por terras da Ibéria, Subindo em direção ao lago, Como um anjo negro, Maestro de uma gótica sinfonia. A carruagem sumiu na neblina E era emoção O que eu sentia. RICARDO REIS NO RIO DE JANEIRO Encontrei Ricardo Reis Certa vez Na esquina do Flamengo, Estava magro, Caminhava trôpego, Os olhos fitos na baía de Guanabara, Andamos entre palmeiras, Ele me falou da infância, Do colégio jesuíta, Das lições helenistas E, saudoso monarquista, Lembrou das caravelas Que chegaram ao Brasil Exatamente Naquela paisagem bonita. Senti-me com Lídia Quando ele disse que minha testa branca Ficaria bem coroada de rosas (Rosas que se apagam tão cedo), Abelhas voavam ao nosso redor E as folhas estalavam aos nossos pés. Netuno está quieto Sob as águas tranquilas, Ninfas passeiam Com asas de libélulas Enquanto as Parcas Tecem os fios de nossas vidas; Logo será noite, Após o ouro de Apolo Segue-se a prata de Diana E a chama estremece. Por algum tempo Ficamos mudos, Inscritos na consciência dos deuses, Depois seguimos rumo à igreja da Glória, Ele contou que não temia a morte, Que fugia da dor E lutava contra a timidez. Confessou que era dolorido Ser um expatriado Mas que vivia alto, Acima das circunstâncias, Acima de onde os homens têm prazer ou dores, Cheio de lucidez. Não foi embriaguez, Encontrei Ricardo Reis no Rio de Janeiro Certa vez. FLORBELA ESPANCA (a ela) Florbela, Fada branca, Dolorosa, A dor foi teu dote, Teu embate, Teu prazer, Transfiguraste o mundo Em arte. Florbela, Asa branca, Amorosa, O amor foi tua sede, Tua loucura, Teu vinho forte, Choraste sempre O ausente. Florbela, Égua branca, Potranca insaciável, Eros foi teu amante, Bebeste fel amargo, Na luminosa taça De um sol agonizante. Florbela, Branca castelã, Princesa de boca rubra, Isolada numa torre de névoa, Espalhaste sangue Pelos cravos Da volúpia. Alavanca de quimeras, Primavera na charneca, Força demoníaca, A poesia de Florbela Espanca. D. MARIA, A LOUCA Sabe quem era D. Maria? Rainha do Reino Unido De Portugal, Brasil e Algarves, D’Aquém, D’Além-Mar em África, Senhora da Guiné E da Conquista? Era louca. Perdeu marido, Filho, Confessor, Tanta dor... Viu cabeças rolarem, Tronos se despedaçarem, Traições, Covardias, Ficou louca, A pobre Maria. Ela, Amante da paz, Tão fervorosa e pia, Servia a todos os santos, Ia com as outras, A pobre Maria. Tinha medo das sombras, Das batinas pretas, Das fogueiras, Do inferno, Das marés e maresias, Veio num navio A doida Maria. Viveu Viajando em sonho Pela Arábia, Pela Pérsia E Índia Por um caminho sem volta E sem guia. Era louca D. Maria. |
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