Colaboladores | Capas | Sobre | home

Edição Nº 39 - Fevereiro de 2012 - "Poetas Poesia II"





“Esta foto é de minha autoria. Tirei em Bolonha, no ano passado, da janela do apartamento onde morava...” (Bruno)


POEMAS DO LIVRO
VIAGEM TAL ESQUECIMENTO
Bruno Ribeiro de Lima




Bruno Ribeiro de Lima: paulista de Caieiras, 26 anos, graduado em Letras-Tradução pela Universidade Mackenzie é mestre em Culturas Literárias Europeias (programa europeu Erasmus Mundus) pelas Université de Strasbourg (França) e Alma Mater Università di Bologna (Itália). Tem publicado na revista Pandora n° 31 “A magia do teatro”, assim como na edição especial n°7 “poetas e poesia” da mesma revista. Atualmente organiza o livro de poesia Viagem tal esquecimento.



[E-mail]    [Índice]





 

    POEMAS DO LIVRO
    VIAGEM TAL ESQUECIMENTO

    Bruno Ribeiro de Lima



    a cada passo
    uma viagem
    nova nos leva

    nós mesmos a lembrança
    no fundo no
    futuro meu do teu futuro


    *


    antigamente
    a palavra guardava
    os primórdios da lembrança

    a palavra saudade trazia nos
    espaços brancos de
    suas letras um imenso

    sussurro

    hoje
    quando vejo você
    ainda colada na parede
    o meu agora é
    para sempre
    antigamente


    *


    a paisagem de meus olhos
    desenha o meu corpo e
    a palavra

    a paisagem entre as minhas pernas
    escorrega pela pele pelos pés
    não existe nada de
    solitário na paisagem mas

    na passagem o
    vazio de meu corpo completa
    a paisagem


    *


    talvez soubesse talvez
    seríamos caso não
    houvesse a voz
    mas é tarde e
    já não ouço já não
    está aqui o canto
    noturno talvez desta
    vida passada a limpo no destino
    nessa vontade

    de se fazer
    presente


    *


    tocou-me e
    disse talvez

    na pele
    a cicatriz a

    nossa pele


    *


    não disse e não
    adianta dizer

    se for
    assim

    sem mim nada
    é feito


    *


    sentir sem sofrer
    o silêncio melodioso do
    erro

    murmúrio confuso
    gozo átono

    fissura do
    átomo


    *


    não tira e nada leva
    a lugar algum

    a palavra sabe
    na boca do outro guiar o
    corpo nosso para onde
    ela nos quer


    *


    o de menos em minhas mãos
    faz o que
    em tudo
    menos em dizer

    e talvez em talvez


    *


    órfão sem luz
    de minhas mãos eis
    o nosso caso

    suspiro solar inverno

    no alto
    em nosso hemisfério
    tudo gira e tudo

    recomeço


    *

    olhar não
    para ver tal qual mas
    deixar o olhar sair dos
    nossos olhos incompletos e deixá-lo
    nos passos lentos de um
    caminho o passo sem subir o pó
    o pensamento
    não se esvai
    isso não é mais então
    estrela poeira símbolo poema
    é paisagem isso visão corriqueira
    sem redenção sem presença sem
    isso ou aquilo
    visão não sei se fogo sem fronteiras
    deslize no escuro do escuro


    *


    sempre o mesmo
    depois as folhas em
    flores tais o assim
    rasgado
    antes do antes
    não disse como e
    ao longe ela caminha não
    estrada só em ruas eu
    talvez resquícios pequenas
    folhas simples palavras como sempre
    o mesmo sempre disperso
    sem fôlego talvez


    *


    não e depois veio
    como palavra após palavra
    e isso o início deixado atrás

    mas também aparece feito
    amor do outro lado
    a palma da mão dizendo
    somos nós o corpo a corpo
    a memória a busca

    não é sempre lá tal e qual
    e de repente do meio do quadro
    desloca-se a imagem o som

    a voz sem a nossa língua

    pra ti eu te falo
    eu escuto este como

    este meio
    o nosso fim


    *


    onde tudo existe é assim o deserto onde
    uma coisa branca é tudo além da coisa
    é a cor branca dizendo tudo é
    a coisa branca no deserto o pensamento fora
    da guerra a luz branda
    nossa em cada passo eu
    devo deixá-lo seguir
    o andar na pedra
    batida
    a poeira está além de nós

    é a paisagem é a memória
    deserto vazia presente
    em nós imensamente
    em cada passo em cada
    aspecto o teu rosto o

    teu passo é uma coisa branca assim
    acima de nós no meio de nós

    estar é deserto estar
    parado num grito tudo deixa de
    existir para ser apenas grito
    e vontade vontade minha
    essa coisa limite em que
    somos nós


    *


    eu vejo você longe não
    distante deslocada em
    seu canto sempre bela
    talvez ainda mais bela não
    porque a distância muda
    o olhar mas assim você é mais
    verdade é mais pureza sem poeira
    diria eu

    a nossa vida disse
    você se lembra e disse para
    afastarmos para
    um lado oposto cada
    um de nós mas
    hoje eu vejo você dentro
    da memória e o que
    era vida do lado de fora
    fez você dentro de um pensamento fora
    fronteiras sem limites
    nas quais não
    vivo e sinto é você
    eu sinto você mais na distância

    porém afaste agora
    este pensamento e serei inteiramente teu quando longe estivermos
    juntos outra hora
    uma vez juntos no mesmo horizonte
    onde a pele nossa
    se refaz


    *


    distante desta nova linha
    contrários um aqui
    outro mais ao lado

    logo abaixo a inocência celebrada o
    vazio desta linha onde tudo é
    coisa objeto som

    eu falo no silêncio
    em pele falsa o ruído
    este discurso

    graça desfeita
    o teu sorriso perde-se
    no erro
    no espaço branco
    você mora o teu rosto mora

    resto linguagem cenas paisagem
    trabalho e coisas
    surdez a voz do grito

    é nosso corpo esse sopro
    o meu ar no meio disso


    *


    eu passo sobretudo
    no estreito e fino espaço das mãos
    essa costura lenta a nossa pele
    pregada uma sobre a outra
    talvez eu seja talvez somos
    tal e qual ou semelhança
    embora seja
    o de menos a nossa linha de passagem

    preenchendo assim somos

    a boca em boca
    a língua na mesma língua


    *


    casa
    entre casas rio
    entre homens o tempo do outro
    lado nós mãos atadas à espera
    de mais uma
    viagem tal esquecimento





[Índice] [Top][Home]

 


Copyright © REVISTA PANDORA BRASIL - ISSN 2175-3318 - Todos os direitos reservados - Todos los derechos reservados - All rights reserved