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Edição Nº 39 - Fevereiro de 2012 - "Poetas Poesia II"






INEXPRIMÍVEL
O QUE É TRÁGICO NA PAIXÃO
CHOCOLATE COM LICOR: COISAS DE MENINA
Ângela Zamora Cilento




Ângela Zamora Cilento: Possui gradua- ção em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1988) , mestrado em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1995), aperfeicoamento em Mitologia Grega e Latina pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1982) e aperfeicoamento em Semiótica do Tempo pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1994). Atualmente é Professora da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Tem experiência na área de Filosofia. Atuando principalmente nos seguintes temas: genealogia da moral, pulsões, moral em Nietzsche.



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    INEXPRIMÍVEL

    Ângela Zamora Cilento


    Há em mim
    Um novo hóspede
    Talvez um anjo
    Talvez não.

    Há em mim
    Um turbilhão
    De sentimentos
    Sem nome
    Vagando no meu coração.

    Que inundam meus olhos de lágrimas
    Que provocam desesperos imensos
    Grandes tempestades
    Maré alta no plúmbeo céu.
    Horizontes inexpressos
    Quadros revoltos
    Deste hóspede
    que se chama solidão.


    O QUE É TRÁGICO NA PAIXÃO

    (Para A.G. nestas férias)

    O que é trágico na paixão
    É conviver
    Com o inebriamento
    E, ao mesmo tempo,
    Com o terror
    Do possível esquecimento.

    Mares de delícias:
    Para enfim, perder a concentração.
    Ter a sensação
    De que qualquer outra
    Coisa, irrelevante.

    É estar atento
    A apenas um olhar
    Entre outros tantos no mundo.
    Entre tantas bocas,
    Somente aquela.
    Entre milhares de corpos,
    Apenas um.

    Entre possíveis desejos
    Somente o seu
    Interessa.
    Não há como livrar-se.
    Nem esquivar-se:
    Inevitável sofrimento.

    Trágico: não poder
    Estar em outro lugar;
    Nem viver uma vida outra
    Nem ser um outro alguém
    Para lhe ofertar.

    Cadê a saída?
    Sem deslocamentos,
    Paralelos ou alteridades.
    Fico no meio do caminho:
    Não vou e não deixo ir.

    Trágica é a subserviência,
    à espera
    do despertar
    Da sua paixão e da sua presença.
    Refém
    De uma vontade que não é só minha.
    Cativo
    Anseio libertar-me
    E, ao mesmo tempo,
    Descubro que a felicidade
    Reside em estar preso.

    Por que do encontro destas águas
    Tão profundas
    Surgem gotas iluminadas
    De pura luz.


    CHOCOLATE COM LICOR: COISAS DE MENINA

    (Para A.G.)

    Eu quero que você se lembre sempre
    Do que nós somos para nós dois
    O que lhe entrego é tão doce
    Um chocolate de cerejas ao licor.
    Assim deve ser nosso amor:
    Açucarado com mimos e beijinhos
    Repleto de minutos roubados
    De horas inventadas, extorquidas
    A Duros Passos.
    Quero a espessura da cereja
    Como se me mordesse de fato.
    O gosto do licor encharcando os teus lábios
    Verdadeira água na boca
    – metáfora deste desejo insensato.
    De consumir tudo de modo imediato.
    Olhos salivantes, pelos eriçados
    Sob uma lua fulgurante
    Na tempestade, ou na lua cheia...
    E porque muito doce
    Presa fácil
    Você degusta vorazmente
    Na tentativa de perder o compasso
    Mas o que eu amo em nós
    Neste precioso momento
    É o manjar dos desesperados.






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