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Edição Nº 39 - Fevereiro de 2012 - "Poetas Poesia II"






É ESQUECIMENTO
Nicanor Parra




Nicanor Parra Sandoval: Poeta chileno, matemático, nasceu em San Fabián de Alico o 5 de setembro de 1914 . Parra é o criador da antipoesía, uma expressão literária que rompe com os cânones tradicionais da lírica. Uma de suas obras mais reconhecidas é Poemas e Antipoemas, onde substitui uma sintaxe cuidada e metafórica por uma linguagem cotidiana e direta..



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    Homenagem ao Poeta
    Nicanor Parra
    Premio Cervantes 2011


    A Revista Pandora Brasil oferece uma tradução
    para o português do poema de Nicanor Parra Es Olvido.


    É ESQUECIMENTO

    Nicanor Parra



    Juro que nem lembro o nome dela
    Mas vou morrer chamando-a María,
    Não por simples teimosia de poeta:
    Por seu aspecto de praza do interior.

    Tempos aqueles!, eu um espantalho,
    Ela uma jovem pálida e sombria.
    Ao voltar uma tarde do Liceu
    Soube da sua morte imerecida,
    Nova que me causou tal decepção
    Que derramei uma lágrima ao ouví-la.
    Uma lágrima, sim, quem o cresse!
    E isso que sou pessoa de energia.

    Se tenho de conceder crédito ao falado
    Pelas pessoas que trouxeram a notícia
    Devo acreditar, sem hesitar um ponto,
    Que morreu com meu nome nas pupilas.
    Fato que me surpreende, porque nunca
    Foi para mim outra coisa que uma amiga.
    Nunca tive com ela mais do que simples
    Relações de estrita cortesia,
    Nada mais que palavras e palavras
    E uma que outra menção de andorinhas.

    A conheci em meu povo (de meu povo
    Só fica um punhado de cinzas),
    Mas jamais vi nela outro destino
    Do que o de uma jovem triste e pensativa
    Tanto foi assim do que até cheguei a tratá-la
    Com o celeste nome de María,
    Circunstância que prova claramente
    A exatidão central de minha doutrina.

    Pode ser que uma vez a tenha beijado,
    Quem é o que não beija a suas amigas!
    Mas tende presente que o fiz
    Sem dar-me conta bem do que fazia.

    Não negarei, isso sim, que me agradava
    Sua imaterial e incerta companhia
    Que era como o espírito sereno
    Que às flores domésticas anima.

    Eu não posso ocultar de nenhum modo
    A importância que teve seu sorriso
    Nem desvirtuar o favorável influxo
    Que até nas mesmas pedras exercia.

    Acrescentemos, ainda, que da noite
    Foram seus olhos fonte fidedigna.
    Mas, apesar de tudo, é necessário
    Que compreendam que eu não a amava
    Senão com esse incerto sentimento
    Com que a um parente enfermo se designa.

    No obstante sucede, no obstante,
    O que a esta data ainda me maravilha,
    Esse inacreditável e singular exemplo
    De morrer com meu nome nas pupilas,
    Ela, múltipla rosa imaculada,
    Ela que era uma lâmpada legítima.

    Tem razão, muita razão, as pessoas
    Que se passam queixando noite e dia
    De que o mundo traiçoeiro em que vivemos
    Vale menos do que roda que parou:
    Bem mais honorável é uma tumulo,
    Vale mais uma folha escarnecida.
    Nada é verdade, aqui nada perdura,
    Nem a cor do cristal com que se olha.

    Hoje é um dia azul de primavera,
    Acho que vou morrer de poesia,
    Dessa famosa jovem melancólica
    Não recordação nem o nome que tinha.

    Só sei que passou por este mundo
    Como uma pomba fugitiva:
    Esqueci-a sem querê-lo, lentamente,
    Como todas as coisas da vida


    (Traduzido do espanhol por: Jorge Luis Gutiérrez)





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