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"Poetas Poesia II" Homenagem a: |
POEPANORAMAS 3 X 4 Guilherme Rocha Braga de Araujo a noite insone a que eu desejo coroada de pele e fumo invencível instante eterno de mármore de mármore [room in rome] neste espaço diminuto e infinito nesta montanha russa invisível gira uma coisa de cada vez [copo sóbrio] os sons da vida que não escolhi que gosto de pensar que me escolheu movimentam-se lá fora convidando-me para uma festa e para a elaboração de meu próximo remorso [antepoema] cidade dos loucos de lautréamont breton rimbaud éluard onde está racine em que caçamba despejaste molière paris é bem menor que são paulo um dia toparei os clássicos [paris] minhas promessas meus fantasmas uma dor de ouvido que não me deixa paris aqui do lado lá fora da janela girando sem parar (sinto-me neste quarto de pensão rue d’Assas 78 como um raskolnikov sem estória) e baguetes baratas mulheres bonitas cidade luz eu não tenho certeza mas deve haver algum jeito de ser feliz por aqui [cadeau] os dias brilham sobre os telhados as noites bombardeadas de estrelas o meu desinteresse é injusto mas real [só] espaços fantasmas tateio no escuro das coisas quero saber [cego] quando você voltar te esperarão a flor o vaso a água do teu lado da cama ninguém dormiu o disco continua o mesmo [ausente] DO VÁCUO À FORMA Guilherme Rocha Braga de Araujo RÉQUIEM XXI I Através das palavras, nas, pelas, com as palavras descobriremos nosso último nome. Talvez não seja nada interessante. Talvez nem te faça olhar para trás todo dia entre as quatro e as cinco da tarde quando sais pela cidade sabe-se lá em busca do quê e nada se converte num jardim. A cidade é implacável. Nosso nome talvez seja implacável. Mas a cidade também é louca. Nosso nome está a salvo para sempre a salvo de nós atrás de nossa própria vida. Através das palavras, nas, pelas, com as palavras descobriremos nosso último nome. Se olhares para trás pode ser que encontres alguma coisa e alguma coisa é muita coisa, talvez alguma coisa nem caiba mais em nossas mãos. Talvez estejamos mortos. II Mortos e não obstante vivos. Se esquecem de nos enterrar. Mas apodrecemos, num escritório ou ao ar livre apodrecemos, de shorts ou no invólucro de um terno. Nossos olhos perderam todos os motivos de brilhar e os tentam resgatar nos bares: freqüentemos bares! freqüentemos bares! religiosamente freqüentemos bares! Quem disse que não vamos encontrar um anjo proscrito jogado nas cadeiras rotas? Nunca é demais vasculhar nos restos, acreditar pelo menos um pouco nos restos... Nosso amor é dado com desconfiança e parcimônia. Nosso amor quase não é dado. Nosso amor é vendido em troca das moedas do sono, das moedas da inconsciência. III Por enquanto o tempo demora e não se caminha num mundo que gira por costume. O amor seria uma espécie de salvação se um beijo não fosse uma ofensa. Esperamos, naturalmente. Temos esperado sempre. Dizemos palavras que o vento corta e o sol esquece estendidas num solo estéril. Encaixotados em nossos respectivos apartamentos envolve-nos uma neblina de fumo, de lembrança, de esperança escarnecida exatamente como deve ser. E a cada vez que lavamos a cara tentando nos livrar dos fragmentos da noite vemos uma água intacta descer pelos canos e tudo permanecer em nós. Inúteis, as nossas mãos enxugam um rosto que continua nosso, confeccionam objetos sem a mínima importância para a questão crucial. Sabemos de nossa desgraça. Por isso somos completamente sérios. Num retrato onde o fundo é triste e as árvores mortas seria vergonhoso sorrir. 24 H Para Luiz Camilo Lafalce I Sem o que dizer, apenas a vontade de palavras na boca. Na noite turva nenhuma promessa, nenhuma lembrança que valha ser lembrada. Ah não haver ao menos o que não existe! Tudo ser tão real, tão espectralmente real! Quimeras espantadas até das páginas, proscritas até dos sonhos, eu, que nasci para vós, nada encontro entre os detritos do tempo, os excrementos de tantos séculos! (Apenas, no limiar do silêncio, a horrível sombra de um som.) II É duro falar, é duro responder aos apelos do tédio, do tempo. Lutamos por quê, nos despertamos para quê, se há paredes de perfil em toda estante? Por hábito; porquê, não importa o quê, o espaço continuará conosco nele Obrigados a viver, obrigados a agir até para morrer, ocupados com nossos problemas, escrevendo nossos livros que não adiantam de nada, coando nosso café. III Longas tardes seguidas por mais longas noites que vão dar num longo dia... Que esperar dessa sucessão de intervalos? Quais segredos serão descobertos quando o tempo já não soprar? Um amigo me disse que o livro mais verossímil ainda não foi escrito. Um outro amigo me disse “É claro que não pois essa é a sua condição.” Sem extravagâncias: sejamos simples. Sigamos escrevendo poemas velhos. Sigamos escrevendo. Matemos o tempo a cada dia. Não posso Escapar De mim. HOMAGE TO BOB DYLAN Guilherme Rocha Braga de Araujo Você companheiro distante e próximo nas horas altas e baixas me ensinou o termo e o início e o que vai no meiov todas as cores do amor você com sua cara esquálida seus olhos azuis seus cabelos loucos você com sua voz pequena e uma infinidade de palavras e sonhos ninguém nunca saberá quantas noites brilhou o sol de nossas cabeças quantos dias passamos imprestáveis a boca seca a memória borrada sobretudo muita gente não entenderá nossos problemas todas as nossas dores dirão que tudo é fraqueza sem saber que o nosso veneno é a vida meu amigo meu companheiro te envio estas palavras em português e afeto lembro da primeira vez que te ouvi it ain’t me babe também não tem sido eu a trazer respostas abrigos contra a chuva trago flores que já morreram há bastante tempo é claro que eu apontarei o caminho por dias melhores por homens melhores longe daqui quando você disse uma vez eu sou um homem constantemente triste em inglês nenhuma direção para casa nona faixa 50 e poucos reais era só apertar o botão e você dizia de novo não importavam desavenças decepções incompatibilidades pessoais você nunca me deixou sozinho numa sexta-feira por mais chuvosa que fosse por mais chuvoso que eu fosse você me acompanhou em meus caminhos difíceis você como um sol maltrapilho brilhando do sony sobre a mesa de vidro me ensinando o que as escolas esqueceram e as mulheres sugeriram o que eu soube apanhar sem nenhum esforço como borboletas mortas estou para ver o dia em que não haverá um homem como você pois não foi nas terras áridas de andaluzia que o manancial de lorca correu? e os tempos estão cada vez mais difíceis a poesia cada vez mais necessária vejo uma horda de loucos em uníssono explodir de tanto cantar como você com sua voz de último álbum fora dos e u a longe de toda pátria perto de cada casa enterram robert zimmerman bob dylan e muitos outros nomes isto não passa de uma previsão certeira matemática escrita a 14/09/2011 às 22 horas não obstante abra as portas jogue flores no chão agradeça à guisa de epitáfio bardo descabelado com um inventário de nomes e roupas country folkv pop ou rock star não pôde escapar de si do peso das canções autênticas de sua época the weary songs no entanto a poesia nunca foi tão jovem como em suas mãos acho que nunca houve alguém mais jovem é bem possível que este tenha sido o homem mais jovem do mundo |
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