Mariana Nicodemo: cursa Administração com linha de formação em comércio internacional na Universidade Mackenzie. Além de se voltar à essa área, sempre se dedicou à sua grande e maior paixão - a escrita - escrevendo, desde sua infância, poesias e contos nos quais procura sempre expressar suas crenças e sentimentos.





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Índice dos poemas


POEMAS

                                            Mariana Nicodemo


Soneto da Saudade

chei os olhos de supetão na cama imersa
Às vezes não é bom acordar
Tranquei-os numa espécie de grade de cílios
Para evitar a água desabar

Repassei minhas lembranças na mente
A fim de me contentar
Enganei-me, sem sentido, no momento

Em que, na esperança, pensei que fosse adiantar

Um pouco mal acostumada, um tanto viciada demais
Não me julgo, nem fujo
De te amar cada segundo mais

Saudade, hostil, enfim, te conheço de perto
Não me anima tua visita; me tira o sono tua conversa
Deixe-me amar na presença,
e seja você em mim a única ausência inversa.


Amo-te

Amo-te, com o verbo amar que não exige complemento
Com a verdade nada humana das palavras
Que a nenhum dicionário faz menção

Amo-te, com a calma ludibriante de um relógio sem ponteiros
De um amor que vai além, atravessa o futuro e alcança a saudade
Que logo hei de sentir na dor da eternidade de cada instante ausente

Amo-te como bela, como a fera
De um amor carnívoro e nunca satisfeito
Que despertaste em mim sem mistério algum
Junto ao desejo incessante e traiçoeiro

Amo-te, atordoada pelo encanto embaçado
Que vem e me inferniza feito um santo
Não me deixa dormir sem ser pra sonhar
Com o amor que me arrancou o sono

Amo-te devagar, tanto, lentamente
Amo-te passo a passo e de repente
Amo-te morta, que de tanto amor me sugou as veias
Amo-te viva e eterna, pois renasço no amor permanente, urgente
Porque da pressa é primo,
Da falta, inimigo
Nosso, e sempre muito.


Ambíguo

E confesso, com toda a obscuridade
que esses versos carregam consigo:
Ardo, queimo de amor
Em minha loucura chego a trepidar de dor
Mas, com alívio, eu te possuo
Doendo tranquila no limite do inseguro
Amando atenta ao que demais é seguro
Na ambiguidade que meu peito me traz
Ah, é o meu amor. É o meu amor que dói em paz...

(...)
Em cada sombra
Em cada escurecer banhado ao sal da maresia que corta
Você adormece, em paz, e sabe
Sabe bem como devia
Que enquanto dormes, que enquanto descansas
Rouba meu sono e me cansa
De um cansaço nada, nem se quer um tanto ruim.

(...)
E é impensado, eu sei
Tamanhos riscos vivem assombrando
O caminho que a gente sempre quis
Quantos desastres, devaneios em nossas mãos
E maldições que arriscamos para ser feliz.


Ainda bem...

... Que o tempo passou
Que a semente brotou
De onde eu não esperava

Ainda bem
Que a chuva regou
Que o inverno passou
E só seu calor em mim faz morada

Ainda bem
Que eu abri o meu peito
Mesmo que meio sem jeito
Para ajudar na sua entrada

Ainda bem
Que te vi nos meus olhos sorrindo
Encantei-me, droguei-me num segundo
Sem a chance de revogar o amor

Ainda bem
Já não sinto saudades de sentir saudades
E hoje se sinto, me sinto a vontade
Sempre perto o bastante para matá-las de vez

Ainda bem
Que o seu gesto é motivo de encanto
Que seu rosto emudece meu pranto
Que seus lábios atiçam os meus


Ainda bem
Que nos tremores de minha cutes pálida
Sinto-te quebrando a muralha
Descobrindo-me, completa, de vez

Ainda bem
Que descobri não estar mais sozinha
Descobri que o caminho se trilha
De mãos dadas e pernas também

Ainda bem
Que te vejo dormir em memória
Que te escuto chamando lá fora
E te procuro pra ver se está bem

Ainda bem
Que só durmo se escuto sua voz
Que só vivo em virtude de nós
E perduro nos sonhos e além

Ainda bem
Que o que sinto tu sentes em resposta
Que do medo não sou credor
Que me acalmas por sentir tanta verdade

Ainda bem
Que sou capaz de doar minha alma
E pra você
Todo o tempo e todo o amor do meu mundo

Ainda bem
Que revogo a sentença da dor
Toda vez que recordo do amor
Que eu brinco de aflorar em mim

Ainda bem
Que o amor já não dói como ferida
Que o seu eu não exige mitiga
Que recheia meu peito e me afaz

Ainda bem
Que não poupo nem sangue nem coração
Que te doou, te entrego, te despejo
Sem receio, tudo o que já foi somente ilusão

Ainda bem
Que você não existe só em mente
Que veio assim, tão de repente,
Tirou-me e me deu o sossego de vez

Ainda bem
Que eu tenho sentido para a escrita
Que as palavras não fogem da vista
Do que sinto para então transcrever

Ainda bem
Que meu sonho desde criança
Brinca comigo, me dá esperança
Enobrece-me, me rejuvenesce, me encanta

Ainda bem
Que o que temos é tão de verdade
Que a inveja não quebra a imagem
Do amor perfeito que nos faz assim

Ainda bem
Que repito tantas vezes eufórica
Que esfrego em todos a sua arte heróica
De salvar-me de mim mesma e do fim

Ainda bem
Digo isso em virtude do amor
Repetirei quantas vezes preciso for
Ainda bem, ainda bem, ainda bem

Ainda bem
Que a saúde não há de faltar
Porque nada melhor para tudo curar
Do que um amor correspondido

E nós o temos,
Ainda bem...


De cama

Eu vou amar demais
E quando este me faltar,
Eu vou atrás.
Vou sugar dos teus sonhos
Meu cálice vital,
Retirar do teu peito
Meu alimento carnal.
Descobrir, num instante, Este, talvez o último,
Que falta ainda mais sede,
Ainda mais doce,
Ainda mais beijos,
E tantos outros sufocos, remorsos, doenças
Que amor é adoecer, é ficar de cama
É ganhar em vão num minuto
E eternamente perder, feliz.


Conduz (Preciso)

Preciso conduzir seu tempo ao meu
Achar um jeito de prender meu eu ao seu
Que na urgência que te aguardo
Morro soterrada num amor sem fim

Preciso ainda impedir seu choro
Tratar seu sangue, ninar seu sono
Carimbar em mim seu rosto, seu hálito, seu nome
Registrar-te em cada espaço decorrente
Em cada vestígio presente
A fim de ter-te comigo na eternidade
que existe atrás de cada segundo


Eu preciso que saiba

Já não há mais nada pronto para existir
Que seja melhor do que ti, melhor do que nós
Que se compare aos seus semblantes,
Ou ao som de sua voz
Ou que procure sustentar
Seja a essência da mesma a que for
Algo próximo à tua cor
Algo próximo ao calor que o teu corpo conduz ao meu

Não há nada no mundo
Nem no meu - nem no dos outros -
Que chegue perto de ser,
De tentar imitar,
O que você é por essência
O que causa em mim sem remediar
O que tu sopras ao vento
Com as palavras no ar
O que parece mentira
O que eu desejo sem hesitar

Estou pronta, cada vez mais
Já não sei se me possuo,
Hoje flutuo em mente e sou somente você
Não sei se me perco, talvez...
Mas, se perdida, sou segura em ti,
Mapa de toda minha trilha.

Já não me importo comigo,
Só conto os sorrisos que me és capaz de dar
Se sou feliz, é porque sou contigo
Se estou aqui
É porque seus braços me sustentam por trás.







Revista Pandora Brasil - Edição Nº 48 - Novembro de 2012 - "Poetas Poesia III"
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