Igor Marques dos Santos

Um Leve Prefácio sobre Igor
(Auto-apresentarão)

Sou de 1994, do ano da criação do Plano Real, da eleição de Nelson Mandela e da morte de Airton Senna, fatos que insistem em dizer que eu deveria entender como se alguém nascesse lendo ou vendo noticiários. Além disso, estou cursando o terceiro ano do ensino médio, sendo que tenho a professora Georgina Corral como instrutora na matéria de filosofia, e tenho grandes interesses no campo da Psicologia, que é a profissão que irei seguir.

Sou destro, caucasiano, olhos castanhos e nariz “interessante”, ou devo dizer que me interesso profundamente nos assuntos da natureza – ah, de foto alguém pode me descrever, então acho melhor focar na personalidade.

Como disse, o orgânico me cria curiosidade, e é por isso que se acha tão presente em meus escritos; a natureza como irmã, como comunidade, não uma instituição, não um conceito; como algo que fazemos parte, que é feito do mesmo tanto e da mesma coisa que somos feitos. A natureza por meio de movimentos tácteis, que aguçam o tato e o equilíbrio, ou entre sons e pedaços de palavras que quando tocadas com os olhos sussurram suas rimas e seu ritmo; o livro que se come, que se janta, e então se vive e se acalenta: é esta minha lírica. É uma conversa, uma função ou uma máquina que ganha movimento e expressão com a mente do leitor; uma sensação, praticamente, ou algo muito próximo disso que eu procuro expressar.
v Se falo de amor, não é apenas alegórico; é dinâmico, mutante. Se falo de pensamento, é apenas início – de resto, a ideia, já concebida e inoculada, se alimenta e desenvolve dentro do próprio leitor. E se descrevo, além do papel faço minhas letras: são sensações, são momentos vivos, dimensões para existir por poucos segundos, até acabar a rima, porém deixando uma lembrança de viagem, de passeio.

Uma literatura orgânica, além da dualidade da razão e emoção, pois se encontra em um momento anterior a estas: primeiro vivemos, antes de tudo nosso coração começou a empurrar o sangue quente por nossas artérias, fez o pulmão se encher do ar fresco desse mundo, e a boca se alimentar dos nutrientes da terra e do homem; somos antes seres vivos, depois racionais e/ou emotivos.

Eu quero uma lírica que respire no mesmo ritmo que o peito de quem lê, e que fique tão calorosa como as mãos que seguram o livro, que viram a página, ansiosas pelo suspense ou pelo desfecho. Uma poesia que existe como ser, como corpo.

De então, acho que isso seria o necessário a saber sobre mim, e o que eu procuro fazer dessas palavras aleatórias, suspensas no pensamento humano.

Destaco que seria mais fácil falar de outrem.





Voltar →



Índice dos poemas


Poemas

                                 Igor Marques dos Santos



Pequeno Monstrinho

Não me lembro muito bem –
Fato ímpar – mas lembro quando
Vi andando peludo animalzinho:
Suas patas de veludo, gordos dedinhos,
A presa afiada, olhar bobinho;
Era, de fato, pequeno monstrinho

Via-o grunhindo no meio do mato,
Era pois recatado por parecer enfezado,
Sendo que dentro, batendo, ia tremendo
Um solidário coração descompassado.

Foi então que eu quis, curioso,
Me aproximar de tal animal bondoso;
Dei-lhe atenção, prestei-lhe cuidado,
E por tal proteção fui recompensado:
O pequeno a mim se mostrou fiel;
Ensinou-me sobre plantas, terra e céu,
Compartilhou comigo algo que não sabia –
Brilhava em seus olhos minha companhia

E com o tempo foi crescendo,
E então, foi seguir seu rumo.
Hoje, paro e percebo
Como foi importante ao meu futuro
Ter esse monstrinho conhecido:

Pois mesmo sendo monstrinho,
Sabia que era tão civilizado;
E eu, humano acreditando ser de ninho,
Não era ainda domesticado.

E ao lhe ensinar o que é companhia
Ele, assim, sem motivo,
Me ensinara o que é um amigo.


Marinheiro

Ah, se não lhe fosse outro,
poderia dizer que era você mesma;
Meus olhos em seu corpo
São união e vontade, certeza
Pois tu és mar, paixão,
Por onde navego e habito-
Águas calmas e douradas, morenas,
Da tua carência que trago comigo;
Acariciar tuas ondas, mulher,
Sentir o cheiro salgado da maré

De sua fonte, tomo e me banho
Pois me imerso em tal encanto
Que são teus olhos, brilhos dos olhos-
Seguro fico, seguro me sinto-
Outro dia e fico à beira
De teu corpo e de seu oceano-
À você me rendo, espontâneo,

Ao seu carinho, teu toque

Delicioso que flutua em teu riso;
À você, sou teu amigo,
Companheiro, morador-
Toco teu mar, tua pele
E me anestesia tão conforto
E morar em tuas maçãs do rosto:
Perto assim, pareço-me tão somente dela...

Me imerge e me cuida
Pois sou teu e não há outra
À qual me sentiria tão sua.  

                                









Revista Pandora Brasil - Edição Nº 48 - Novembro de 2012 - "Poetas Poesia III"
Voltar →