Poemas
Igor Marques dos Santos
Pequeno Monstrinho
Não me lembro muito bem –
Fato ímpar – mas lembro quando
Vi andando peludo animalzinho:
Suas patas de veludo, gordos dedinhos,
A presa afiada, olhar bobinho;
Era, de fato, pequeno monstrinho
Via-o grunhindo no meio do mato,
Era pois recatado por parecer enfezado,
Sendo que dentro, batendo, ia tremendo
Um solidário coração descompassado.
Foi então que eu quis, curioso,
Me aproximar de tal animal bondoso;
Dei-lhe atenção, prestei-lhe cuidado,
E por tal proteção fui recompensado:
O pequeno a mim se mostrou fiel;
Ensinou-me sobre plantas, terra e céu,
Compartilhou comigo algo que não sabia –
Brilhava em seus olhos minha companhia
E com o tempo foi crescendo,
E então, foi seguir seu rumo.
Hoje, paro e percebo
Como foi importante ao meu futuro
Ter esse monstrinho conhecido:
Pois mesmo sendo monstrinho,
Sabia que era tão civilizado;
E eu, humano acreditando ser de ninho,
Não era ainda domesticado.
E ao lhe ensinar o que é companhia
Ele, assim, sem motivo,
Me ensinara o que é um amigo.
Marinheiro
Ah, se não lhe fosse outro,
poderia dizer que era você mesma;
Meus olhos em seu corpo
São união e vontade, certeza
Pois tu és mar, paixão,
Por onde navego e habito-
Águas calmas e douradas, morenas,
Da tua carência que trago comigo;
Acariciar tuas ondas, mulher,
Sentir o cheiro salgado da maré
De sua fonte, tomo e me banho Pois me imerso em tal encanto
Que são teus olhos, brilhos dos olhos-
Seguro fico, seguro me sinto-
Outro dia e fico à beira
De teu corpo e de seu oceano-
À você me rendo, espontâneo,
Ao seu carinho, teu toque
Delicioso que flutua em teu riso;
À você, sou teu amigo,
Companheiro, morador-
Toco teu mar, tua pele
E me anestesia tão conforto
E morar em tuas maçãs do rosto:
Perto assim, pareço-me tão somente dela...
Me imerge e me cuida
Pois sou teu e não há outra
À qual me sentiria tão sua.
Revista Pandora Brasil - Edição Nº 48 - Novembro de 2012 - "Poetas Poesia III"
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