HAI-KAI
Universo de grãos de areia
Ângela Zamora Cilento.
ALGUNS PROBLEMAS DE EXTENSÃO
Questão de extensão:
Tu és meu cosmos
Mas queres ser grão.
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PRODUTO INFLAMÁVEL
Cada vez mais, A.G.
E o que eu sou agora?
Produto inflamável.
Isqueiro aceso
Em papel-jornal
Consumo-me a mim mesma.
Trópico selvagem
Na mesmice rotineira
‘Tropos’ sem lugar
Até você me chamar
Aos laboratórios da química
E lições de anatomia.
Ardo, queimo, incendeio
Coração em chamas
Sorrisos irreversíveis
Momentos de nuances indescritíveis
Em fórmulas mágicas e alquímicas
Que nenhuma razão pode decifrar
Flâmula de mistério profundo
Produto inflamável:
Elementos heterogêneos
Carregados de dor e
Desejo.
Combustão -
Combustível para além
Do imediato.
Você me transpõe a todo o momento
E me faço em pedaços.
E das cinzas, fênix branca,
Renasço.
BARBÁRIE INTERIOR
MEDUSA, MEDÉIA
METAFÓRAS INSUFICIENTES
PARA EXPRESSÕES FRUSTRADAS
DO DESEJO
TANTO MÁRTIRIO PRA NADA
TANTA NEGAÇÃO PARA O QUE SE SENTE
MEDUSA: AQUELA QUE ULTRAPASSOU O MÉTRON
DAQUILO QUE NÃO DEVIA SENTIR, MAS SENTE!!
E AGORA, COITADA, PRESTES A TER A CABEÇA CORTADA,
ESTRANGULADA PELOS SOCIAIS LAÇOS QUE A PRENDEM.
TRANSFIGURADA POR TRANSTORNOS
INCONTROLÁVEIS E INCOMPREENSÍVEIS
EM TENTATIVAS INGLÓRIAS DE ANIQUILAR
REBENTOS QUE INSISTEM
O DESEJO É COMO A HIDRA DE LERNA
QUE RENASCE A TODO INSTANTE,
CADA VEZ QUE HÁ PENSAMENTO TUDO
CRESCE E BROTA NOVAMENTE.
E NÃO HÁ FÔLEGO, NEM HERÓI
QUE O COMBATA DEFINITIVAMENTE.
QUE BARBÁRIE INTERIOR!!
QUE LUTA INSANA
QUE DESGASTE DE ENERGIA,
QUANDO SE SABE QUE NÃO HÁ ESPADA
NEM CRUZ QUE A ACALENTE.
QUANTO DESEJO SUFOCADO
QUANTOS SONHOS Á NOITE
SENTINDO PELE A PELE, O AMADO
E OS SUSPIROS PELO QUE VEM...
BEIJOS DE APAIXONADO
CENAS DE CINEMA
LENÇOIS DESMANCHADOS
CABELOS DESALINHADOS,
NA FRANJA ENTRE O SONHO E A REALIDADE.
E ENTÃO, CHEGA MEDÉIA
EM SUA VERSÃO MODERNA E BATE
À SUA PORTA
PARA ASSASSINAR
O BEIJO MAIS COMPRIDO
O ABRAÇO MAIS ÍNTIMO
O TOQUE MAIS ACALORADO
TÃO BARBÁRA QUANTO PODE SER UMA MULHER.
LUTA TRAVADA CONTRA SI MESMA
PARA ROUBAR-SE DO QUE É MAIS CARO
ESFACELAR-SE,
MUTILAR-SE, DESFAZENDO-SE EM PEDAÇOS.
MEDUSA HORRORIZADA
PELA SUA FACE
CONTEMPLADA NO SEU PRÓPRIO ESPELHO
DESCOBRE-SE MONSTRO
QUANDO NA VERDADE É
APENAS UM HUMANO
QUE SE ALIMENTA DE SONHOS
QUE ACORDA EM PLENO VAZIO
DA REALIDADE
PROCURANDO UM NOVO SENTIDO
QUE A PREENCHA
DILUINDO ELEFANTES INVISIVEIS
PARA QUE POSSA LEVANTAR.
Revista Pandora Brasil - Edição Nº 48 - Novembro de 2012 - "Poetas Poesia III"
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