Cátia Rodrigues: mulher, mãe, esposa, filha, neta, irmã, amiga. No decorrer dessas experiências pessoais intensas, também tornou-se Psicóloga pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, Escritora, Mestre e Doutora pela PUC-SP em Ciências da Religião (Campo Simbólico), e Professora Universitária. Atualmente, realiza clínica psicológica na zona Norte de São Paulo, ministra aulas na graduação e pós graduação da Universidade Presbiteriana Mackenzie, e arrisca-se na experiência de artes plásticas, literatura e fotografia.





Voltar →



Índice dos poemas


POEMAS

                                            Cátia Rodrigues


Momento errado

Românticos, vivem toda a eternidade
em um momento de imaginação,
num um lance de fantasia.

Basta um instante
E todo o desenrolar de um processo
Existe: no coração de um espírito romântico.

O amor a um projeto, a um objeto, a um amante;
que importa?
O que importa é apaixonar-se.

Ah! Essas almas boêmias e ordinárias,
que anseiam por um escape lírico ao realismo
às existências embrutecidas pelo desespero!
Almas que buscam viver a poesia de outra realidade
- a sua própria subjetividade, a existência humana em si...

Almas que sentem demais,
mas que esvaziam-se se não viverem um grande amor.
Eu sempre tenho um grande amor.
E que bom é amar.
Mesmo que isso seja piegas no século em que vivo.


Desapego, desapego

Desapego, desapego.
O que dói não é o amor; é o apego.
É a ideia de controle.

Amar liberta.
Mas, como tudo nesta realidade é finito,
os objetos de nossas afeições também se acabam,
ou se vão - pela vida ou por escolha.

Daí a ideia de que o amor dói,
quando o que se ama não se está presente.
Mas é uma ilusão.
Quem ama, traz em si a maior de todas as energias,

capaz de gerar vida.
Amar liberta.
Desapego, então.


Quereres

Eu gostaria muito de ser elegante,
mas Deus me criou prática.
Sempre achei bom ser racional,
mas a vida me ensinou a procurar ser razoável.
Ainda quero ser magra,
mas a natureza me ofereceu pernas grossas.
E corpo carnudo.

Meu lugar de origem e destino
é o mundo: tenho que circular.
Mas desenvolvi raízes
contexto tradicional familiar.

Queria ter a leveza da bailarina,
Queria a resistência do yogue,
Queria a inteligência de um nobel prize.

Só consigo escrever versos de angústia,
permanecer determinada no amor,
transbordar intuição em pinturas tímidas e secretas.

Tudo o que almejei sempre foi bom.
Mas o que consegui é ser feliz.
Asas abertas, raízes no chão:
como é da minha natureza ser.


Exatamente

Neste peso e nesta altura,
com meus sons, silêncios e barulhos;
Eu sou quem eu sou.
Satisfeita por exatamente aquilo que faço
que sou
que sinto
que agrego.

Sem vergonha por ser quem sou
Com a humildade de buscar aprimorar.

Já é tarefa exigente demais saber de si mesmo
Querer conhecer e julgar o outro deve ser coisa pra gênio.
Ou divindades.

Eu sigo a vida em paz.
... e a gente tem apenas uma vida, e ela é bonita demais.


Colibris e Querubins

Colibris e Querubins dançavam no céu sob minha cabeça.
Borboletas, grandes e azuis, foram vistas em minha garganta.

Enquanto isso, na realidade, um homem grisalho
E de cabelos compridos
lava e esfrega a sacada de sua casa,
numa rua qualquer da cidade que nunca dorme.

No sonho quis fotografar anjos.
Na realidade, dispenso a vulgaridade
daquilo que não é verdadeiro.

Mas quem vive verdades inteiras é como colibris em sonhos:
não se pode captar na sua totalidade.


Silêncio Ausência Liberdade

Havia som, no coração,
e havia palavra, nas mãos.
Nenhum gesto, ou toque,
ou motivo que lhes correspondessem.

Mas muitas e muitas palavras,
longas cartas para ninguém.

Perguntas, hipóteses, dúvidas.
Nenhuma resposta.
Elucubração maior que elucidação.

E, um dia, silêncio.
Ruptura de comunicações.
Aniquilamento de contato.
Cale-se, som. Cale-se, palavra.
Uma porta batida à face.
Um quarto vazio.

E eu senti a Liberdade propulsando minha vida.
Agora, os meus sons, as minhas palavras,
e o silêncio
pertencem a mim.
E não são da conta de mais ninguém.

O silêncio e a ausência me libertaram.

Dizem que o mundo está por acabar...
a vida está apenas começando.
Melhor cuidar dela - a vida, a bela vida.








Revista Pandora Brasil - Edição Nº 48 - Novembro de 2012 - "Poetas Poesia III"
Voltar →