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EXISTENCIALISMO DEUS


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EXISTENCIALISMO DEUS



León Chestov



Vida de Chestov

León Chestov, certamente, é um dos filósofos contemporbâneos menos conhecido. Foi filósofo e escritor “radical”; um ardente místico, inimigo implacável da filosofia especulativa, da ciência, da razão e da moral. Seu principal pensamento permeia a questão da fé incondicional, e sua filosofia, toca o trágico e o absurdo se detendo em Deus, ou seja, Deus é o absurdo. Sua linha filosófica é identificada como religiosa.

Nasceu na Rússia, no ano de 1866 e, ao que parece, morreu na França, em Paris, no ano de 1938, pouco antes da Segunda Guerra Mundial. Apesar de ser russo, atuou no panorama do existencialismo francês juntamente com Berdjaev, seu compatriota e também filósofo, onde residiam como imigrantes desde a Revolução Soviética na Rússia, na antiga URSS. Em sua obra, "História da Filosofia", Reale e Antiseri (1991), citam que Chestov e Berdjaev foram os dois mais importantes representantes do existencialismo russo.

León Chestov, na verdade se chamava Issaakovitch Chuartzsman, dito Lev ou Lev Chestov, como normalmente é conhecido. Polemizado contra as pretensões da razão e da ciência, defendeu a idéia de uma fé incondicionada, levando ao extremo a oposição entre fé e razão traçada por Kierkgaard. Entretanto, não está de acordo no atinente às relações entre a moral e a religião kierkgaardiana.

É quase que impossível se referir a Chestov sem que se faça menção de seu amigo Berdjaev. Durante o período entre guerras - Primeira e Segunda Guerra Mundial - é constatada a presença de muitos escritores e filósofos russos em Paris, que por certa singularidade permite perceber um certo ar de família, enquanto apagando diferenças. Inclusive essa notificação, constitui-se como uma espécie de ferramenta para se distinguir Chestov e Berdajaev, que embora russos, divergiam nas idéias e nos procedimentos.

A concepção de mundo de Chestov era bem diferente da de Berdjaev. No tocante ao seu relacionamento com seu amigo e compatriota, Berdjaev, sempre discutiam. Mas, de certo modo, tinham uma espécie de comunhão existencial, o que aponta o quanto que pesquisavam a vida com sensação, embora com diferenças.


A Fé Incondicional

Um dos principais temas em Chestov, senão o principal, é a fé incondicionada. A fé na concepção de Chestov vê a Bíblia e o divino acima de tudo. A filosofia é especulativa. Mata a vida ao invés de desvendar o senso da vida. Inclusive, a vida é para razão um escândalo. Mas, não é a vida também uma filosofia? E a filosofia, vida?

A questão é que a filosofia, na maioria das vezes, se porta como um olhar lançado para trás e que então desprovê o indivíduo da fé, ao que conclui que, com esta percepção, isto é, viver olhando para trás, é viver a vida sem a dimensão da fé. Portanto, olhar para frente e para o que está vindo, com um tom inclusive de atrevimento, é buscar o reino de Deus que só é alcançado, diz Chestov, com violência. Todavia, a sua principal preocupação é o alcance do reino de Deus, que as pretensões da razão e da ciência, em sua ótica, não consideram como é preciso, com prioridade.

A fé conduz à vida, a ciência ao conhecimento, mas cabe ao ser escolher: árvore da vida ou árvore da ciência? – uma boa alusão ao Édem. “É preciso escolher entre Deus que nos põe de sobreaviso e a serpente que enaltece seus frutos”. Outrossim, a salvação reside na fé em Deus, e a terra prometida é para aquele que possui a fé. A verdade que a razão supõe ter não compreende Deus; antes, na sua tentativa de compreender Deus, aprisiona-o a conceitos que são limitados e em momento algum consegue exprimir a essência da realidade de Deus. É então, mediante ao desespero da razão que se dá a libertação, e o indivíduo passa do estado de impossibilitado de se abrir à fé, à vida e ao próprio Deus, ao estado de dimensão da fé.

O desespero, na verdade, está na impossibilidade da compreensão de Deus, que não é mensurável, racional; antes, é inefável. Aquele que confia na razão, na ciência, enquanto potencial humano para se alcançar Deus, está condenado ao “nada”. Mas, o que deixa de depositar suas esperanças na razão, pode viver a fé que não necessita de se justificar a outrem senão a si mesmo.

Chestov critica a filosofia especulativa e admite a filosofia existencialista. A propósito, leva ao extremo a oposição de Kiekergaard entre fé e razão. A filosofia existencialista, na sua concepção, está tão unida a fé, que aquela leva a efeito a obra desta e é o único meio de se ter uma nova dimensão, despega da filosofia especulativa.

Conforme Chestov, a filosofia faz do europeu um exímio seguidor da serpente. A serpente, que só dispõe da árvore da ciência, faz com que esses, transformem suas visões em juízos, afastando-o da terra prometida, que em hipótese alguma existe para o homem que sabe. Em outras palavras, ao ler-se as entrelinhas de seu pensamento, um conselho é oferecido: feliz é aquele que nada sabendo, permanece nada querendo saber.


O Deus do Absurdo e da Liberdade
Pensamento de Chestov sobre Deus


Chestov, como filósofo existencialista, afirmava que todas as decisões do homem são somente por ele tomadas. A existência precede a essência, ou seja, os fatos ou realizações da vida não são fruto de pré-estabelecimentos ideais ou divinos. O homem de hoje é fruto de suas decisões passadas, podendo desfrutar de plena liberdade de escolha. Porém, essa liberdade pode estar ameaçada pela própria racionalidade humana, a partir do momento que ele é impedido de projetar-se ao Absurdo. Vê-se o Absurdo como o ilógico e indecifrável. Afirmar a existência de uma realidade extra-racional é afirmar o Absurdo. Logo, Deus é o absurdo e aquele que não o reconhece é escravo da razão. O homem livre é aquele que se projeta a Deus.

Entretanto, o projetar-se a Deus não consiste na busca de melhor compreendê-lo ou classificá-lo, mas aceitá-lo como Absurdo. “No termo das suas apaixonadas análises, Chestov descobre o Absurdo fundamental de toda existência, não diz “eis o Absurdo”, mas “eis Deus”: é nele que se deve confiar, mesmo que ele não corresponda a nenhuma das categorias racionais que se possa ter.

Assim, buscar compreender Deus é tornar-se escravo dos limites da razão, negando-se a liberdade que há na aceitação do incognoscível. Daí se entender que a filosofia existencial é filosofia da vida, porque é filosofia do “único necessário”: Deus; enquanto que a filosofia especulativa escraviza o homem, na medida em que estabelece padrões, limites racionais na compreensão do mundo e do próprio Deus.

O homem racional somente consegue segurança existencial diante das convicções lógicas, plausíveis. Ele possui a necessidade da racionalização de sua realidade. O homem da fé está convicto da impossibilidade de se compreender Deus, e é diante dessa impossibilidade que ele se projeta a Deus pela fé. Deus é contraditório e incompreensível, mas está na medida em que o seu rosto é mais indescritível que mais se afirma seu poder. A sua grandeza é a sua inconseqüência ou não previsibilidade, ou seja, para que o homem mergulhe em Deus, mister se faz a irracionalização de Deus. Para Chestov a aceitação do Absurdo é contemporânea ao próprio Absurdo: Deus.

Existe uma oposição entre a verdade de Deus, que consiste na plena contemplação do não racional, e a verdade filosófica, escravizada pela razão. Daqui a polêmica de Chestov contra os imperativos da moral e pretensões da razão. O Absurdo da fé não pode viver com a “necessidade” racional nem com os “tu deves” da moral. Ou o homem depende totalmente de Deus e se liberta da escravidão do saber e do pecado; ou o homem depende da razão e, neste caso, está perdido para Deus e para a liberdade: ou a liberdade ou o saber, ou a razão ou a fé.

Deus é incomensurável com as verdades racionais, com o bem e com o mal dos juízos morais. O homem da razão é o homem privado de si, privado de seus direitos particulares. Ele não passa de uma coisa ou um acontecimento dentre as outras coisas ou acontecimentos da natureza, uma pedra dotada de consciência, e não homem vivente”. Depois que os homem estenderam as mãos para a árvore da ciência, perderam para sempre a liberdade, que é essência da vida.

Ao se observar o olhar sobre teólogos mais ou menos notáveis, nota-se que não há alguém que, nas “aspirações ávidas”, não tenha sido influenciado pela razão kantiana – essa concupiscência invisível que provocou a queda do homem, ninguém viu nela o potencial de levar o homem à escravidão e à morte. Muito ao contrário: é tão grande o medo do homem diante da liberdade proclamada pela Escritura e diante do divino ilimitado, que prefere submeter-se a qualquer princípio, fazer-se escravo que qualquer força antes que se ver privado de um guia seguro.

Deus não obriga ninguém a nada: esta idéia parece insuportável. Mas a idéia de que Deus não está ligado por nada, absolutamente por nada, parece pura loucura. Se o próprio Deus é o Absurdo e projetar-se a ele é alcançar a liberdade, porque se distanciar dessa concepção existencial, estabelecendo leis morais, afirmadas como divinas, e racionalizando a forma de se apreender toda a realidade?

E aí está a noção de pecado para Chestov. Deus criou toda a natureza e criou o homem como seu mordomo. As leis de sobrevivência já estavam definidas, cabendo ao homem tomar todas as decisões plausíveis à sua liberdade. Porém, este homem afastou-se de Deus quando se submeteu aos limites da razão humana, ou seja, conheceu da árvore da ciência do bem e do mal. O homem, na soberba de sua ciência, buscou abarcar toda realidade criada e não criada aos limites de sua compreensão, distanciando-se da essência de Deus, somente alcançada pela aceitação do irracional, do Absurdo.

Portanto, é na aceitação do Absurdo que se conhece a verdade verdadeira, dom divino da inocência e não privilégio do saber orgulhoso. É através da fé, da aceitação do Absurdo à razão, que se pode experimentar da árvore da vida e da liberdade.





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