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EXISTENCIALISMO DEUS


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EXISTENCIALISMO DEUS



ALBERT CAMUS



A VIDA DO FILÓSOFO



Albert Camus (1913-1960) foi uma personagem que deixou profundas marcas na história do pensamento humano. Seus ideais retratam posturas de alguém que, a despeito da “absurdidade da vida”, tem prazer por desfrutá-la plena e incessantemente não se permitindo abater pelas dificuldades que se levantam, mas, ao contrário, nelas encontrando forças para alcançar grandes objetivos.

Nascido em 7 de dezembro de 1913 em Manclovi, na Argélia, Albert Camus desde cedo se deparou com situações que lhe ofereceram consciência real do mundo em que vivia. Seu pai, bretão, agricultor, foi morto durante a 1ª Grande Guerra Mundial em 1914. Sua mãe, argelina, desde então, trabalhou duramente para sustentar sua família.

A infância de Camus deu-se no bairro popular de Belcourt, em Argel. Ali viveu sob condições simples inserido num círculo familiar que mais tarde marcou profundamente a sua obra. Contudo, foi sem preconceito ou vergonha que ele próprio descreveu este período: “Embora eu tenha nascido pobre, nasci sob um céu feliz, num ambiente natural onde alguém se sente em união, desalienado”.1 De fato, foram essas condições conflituosas que o fizeram “descobrir que o absurdo da existência somente poderia ser vencido por uma consciência lúcida e sem preconceitos... A miséria serviu-lhe como uma escola de descoberta do homem e da criação de novos valores que o ajudassem a construir um mundo novo”.2 René Char, citado por Barreto, expressou com precisão o sentimento da vida e da obra de Camus ao dizer que “aquele que vem ao mundo para nada modificar, não merece respeito e paciência”.3

De fato, sua vida e obra evidenciam o “espírito empreendedor” que o impulsionava à constante luta de “reconstruir sobre os escombros”. É o que afirma Barreto ao dizer que “a primeira mensagem que Camus nos transmite em sua obra é a de como retirar das situações mais negativas da vida a lição e a razão para modificá-las”.4 Com o tempo, o garoto pobre de Belcourt tornou-se importante ensaísta, novelista, dramaturgo, filósofo e escritor, tendo dedicado sua vida, ao lado de outras ilustres personagens de sua época, a repensar os valores apresentados e impostos por uma sociedade que pouco se importava com a dignidade humana.

O início de sua "escalada" deu-se quando, na escola primária, deparou-se com um professor que se interessara por ele conseguindo-lhe uma bolsa de estudos no Ginásio de Argel, tendo aí descoberto duas grandes paixões em sua vida: a literatura e o futebol, neste exercendo a função de goleiro. Mais tarde formou-se em Filosofia pela Universidade da Argélia. Cedo escreveu seus primeiros artigos na revista Sur e, sob influência do poeta e ensaísta Greiner, seu professor, a quem dedicou seu primeiro livro ("O Avesso e o Direito", e também "O Homem Revoltado"), descobre sua vocação de escritor e a linha sistemática de pensamento que seguiria.

Na historiografia filosófica e nos dicionários, Camus é classificado usualmente como um filósofo existencialista, embora tenha ele próprio negado esse título afirmando: "Não, não sou existencialista... e o único livro de idéias que eu publiquei” Le Mythe de Sisiph “(O Mito de Sísifo), foi contra os filósofos chamados existencialistas".5 Seu pensamento filosófico é firmado sobre dois pilares principais: o conceito do absurdo e o da revolta. A sua definição de "absurdo" diz respeito ao confrontamento da irracionalidade do mundo com o desejo de clareza e racionalidade que se encontra no homem. Quanto ao conceito da revolta, está ele vinculado, em última análise, à busca inconsciente de uma moral. Nas palavras de Camus, "ela é um aperfeiçoamento do homem, ainda que cego".

Para se compreender o pensamento e a vida de Camus, é preciso inseri-lo em seu contexto histórico, pois, sua filosofia foi fruto de uma realidade e necessidade latente do ambiente em que viveu. Neste contexto, tomou-se corpo e forma um movimento literário que deixou sua marca pela expressividade e participação na vida das pessoas, procurando ele atender os grandes questionamentos que aí eram levantados. Quanto à relevância de sua obra para a época em que viveu, Barreto diz que "Camus escreveu uma obra imersa no real e no concreto".6 Sua geração presenciou alguns acontecimentos capitais na história da humanidade. Entre eles:

A I Guerra Mundial, a depressão econômico-financeira de 1929, os expurgos dos processos de Moscou em 1936, a Guerra Civil Espanhola (1936-1939), a defecção da democracia liberal-burguesa diante de Hitler em Munique (1938), os massacres e destruição de populações inteiras na II Guerra Mundial, culminando as suas experiências históricas com a destruição cientificamente controlada de Hiroshima e Nagasaki. Todos esses acontecimentos viriam alterar fundamentalmente a vida e a obra de toda uma geração.7

Diante destes fatos, o ideal da literatura romântica do séc. XIX quanto à natureza essencialmente boa do ser humano e a idéia de que o progresso traria necessariamente a felicidade para a humanidade, cedia lugar a um pessimismo histórico e à crescente desvalorização destes conceitos. Os pensadores do início do séc. XX começaram por questionar alguns valores sociais impostos e a retratar a disparidade existente entre estes discursos e a prática que então se exercia. A realidade dura do cotidiano que experienciavam passou a ser descrita cruamente em suas obras visando proporcionar consciência real sobre a realidade que se encerrava. Este novo movimento "não se constituiu propriamente numa escola literária ou filosófica, mas no sentimento comum de que viviam uma época contraditória e irreconciliável” · tendo representado para cada um dos autores que surgiam diferentes realidades. Alguns protagonistas da literatura desta época que, junto com Camus, se despontaram foram: Malraux, Sartre, Grahan Greene, Hemingway, etc.

Segundo Barreto, três são as características desta nova literatura9: a) a eliminação das tradicionais diferenças entre o bem e o mal, entre o certo e o errado; b) fidelidade aos fatos, devendo-se refletir a vida concreta e absurda do homem; c) ênfase na responsabilidade humana.

Este ideal na vida de Camus traduziu-se em engajamento prático de ação. Filiou-se à militância antifascista contra o governo de Hitleriano participando das atividades do Partido Comunista. Aí foi encarregado quanto à propaganda entre os muçulmanos e sob esta ligação, mais tarde, dirigiu a Casa de Cultura em Argel. Nesta mesma cidade fundou o "Théâtre du Travail" com o intuito de elevar o nível intelectual das pessoas oferecendo-lhes atividades orientadas por considerações políticas e sociais. Também neste mesmo período exerceu outras funções profissionais como: funcionário do serviço de meteorologia, vendedor de acessórios de automóveis, empregado no escritório de um corretor marítimo e funcionário da prefeitura. Ainda no Partido Comunista, que representava a força com que os intelectuais contrários ao regime de Hitler podiam contar, dedicou-se a organizar conferências, debates e mesas-redondas com intelectuais antifascistas. Quando diplomado em Filosofia, escreveu uma tese sobre as relações entre o Helenismo e o Cristianismo através de Plotino e Agostinho, iniciando aí suas primeiras preocupações filosóficas. Nesta mesma época, por motivos financeiros, começou a trabalhar também como ator no grupo teatral da Rádio Argel percorrendo por várias cidades do interior argeliano. Após isso, trabalhou ainda no jornal "Alger Republicain", de onde saiu em maio de 1937 por motivos de saúde.

Próximo à II Guerra Mundial rompeu ele com o Partido Comunista; com isso ocorreu a conseqüente dissolução do "Théâtre du Travail" cujo nome passou a ser "Théâtre de L'Equipe", que a partir de então mudou seu enfoque de ação, tornando-se mais "neutro" enquanto movimento de resistência. É nesta época que acontece o primeiro contato entre Albert Camus e Jean P. Sartre. A amizade entre eles foi marcada por fortes momentos de aproximação e distanciamento. Mas, é a partir deste período que Camus inicia seu mais importante de publicações. Em 1940 terminou o romance "O Estrangeiro", começando logo após a escrever "O Mito de Sísifo", terminado em fevereiro, preparando logo em seguida a obra "A Peste" por influência de Moby Dick de Herman Melville.

Sua vida em face da guerra sofreu grandes alterações. Em virtude do fechamento do jornal em que trabalhava pela imposição da censura, mudou-se para Paris, tendo aí trabalhado no "Paris-Soir". Contudo, após a ocupação nazista, refugiou-se em Clermont. Veio então o engajamento no movimento clandestino de resistência; o seu principal papel nesta missão foi o de jornalista, profissão esta que o obrigou a participar ativamente dos acontecimentos políticos. Em 24 de agosto de 1944 o jornal de resistência "Combat", do qual Camus era editor, publicou seu primeiro número. Neste mesmo ano foram encenadas as suas peças "O Mal Entendido" e "Calígula", termina a escrita de "A Peste", obra publicada no final de 1947. No ano seguinte a sua peça "L'Etat de Siege" representou grande fracasso de bilheteria.

No período pós-guerra iniciou-se o movimento de reconstrução do mundo. Intelectuais como Sartre, Malraux, Koestler, Manés Sperber e Camus formaram um grupo que discutia novos caminhos para o desafio da construção de uma sociedade democrática. Este caminho para Camus seria feito através do estabelecimento de alguns valores morais que viessem diferenciar a sociedade democrática da totalitária. Em 1947, quando por motivos políticos e financeiros o jornal "Combat" saiu de circulação, Camus passou a intercalar a sua vida literária com participações em movimentos de protestos tendo participado ativamente a favor dos gregos condenados à morte.

Em 1951 é publicado o livro "O Homem Revoltado" que deu a Camus maior projeção no debate político. Contudo, sua repercussão entre os críticos da revista “Os Tempos Modernos”, dirigida por Sartre, que promovia violentos debates entre comunistas e progressistas, não foi a melhor. Nesse ambiente se inicia a desavença entre estas personagens. Sartre mantinha uma atitude de “colaboração crítica” com o stalinismo já, Camus, considerava que qualquer tipo de colaboração com o stalinismo era impossível. Após a publicação da crítica feita por Francis Jeason em “Os Tempos Modernos” quanto ao “O Homem Revoltado”, deu-se a ruptura definitiva entre Sartre e Camus; suas concepções de filosofia de vida para a construção da almejada sociedade democrática mostravam-se distanciadas em suas práticas de ação.

Entre os anos 1955 e 1960 Camus participou de movimentos diversos. Publicou o livro “La Chute” obtendo grande sucesso com a tradução e adaptação do “Requiem Para uma Freira” de Faulkner. Os contos que constituem o livro “L´Exil et el Royaume” foram publicados em março de 1957 seguidos dois meses depois por “Reflexions sur a Guilhotina”. Em 1957 recebeu o prêmio Nobel de Literatura. Nos anos 1958 e 1959 recomeça a trabalhar no inacabado romance “Le Premier Homme”.

No dia 4 de julho de 1960 regressando à Paris morreu em um desastre de automóvel dirigido pelo seu amigo. Susan Sontag assim definiu a morte de Camus: “Kafka desperta piedade e terror, Joyce admiração, Proust e Gide respeito, mas nenhum escritor moderno que eu me lembre, exceto Camus, despertou amor. Sua morte em 1960 significou ao mundo, uma perda pessoal”.10


ALBERT CAMUS, SUAS OBRAS

Albert Camus presenciou em seu tempo o fracasso do progresso, da liberdade, da ciência, da democracia. Isto influenciou suas obras que foram muitas e variadas que vão desde romances, passando por peças de teatro e artigos em revistas e jornais.

Três características podem ser observadas em suas obras: A vida humana é fundamentada em incoerência, confusa, sem as diferenças tradicionais entre o bem e o mal, o certo e o errado. Em segundo lugar pode-se observar a fidelidade dos fatos, refletir a vida absurda e concreta do homem. E por fim, a ênfase na responsabilidade humana.

Para se compreender melhor, de uma maneira geral sobre as obras de Camus, Barreto afirma:

“A obra de Albert Camus insere-se neste mundo. Seus personagens partem em busca de um mundo novo, formado por valores novos, criados pela absurda experiência humana. Talvez um dos pontos mais interessantes da personalidade de Camus tenha sido essa dependência entre a obra e a vida do escritor. A sua vida intelectual nasce de suas primeiras experiências, sentindo-se em algumas de suas obras, principalmente nas primeiras, a necessidade de escrever aquilo que realmente estava sendo vivido e pensado. Todas as categorias intelectuais progressivamente definidas por Camus, sendo as duas mais importantes o absurdo e a revolta, foram elaboradas em conseqüência das experiências que ia acumulando. Dele não se pode dizer que foi um escritor com um universo independente e próprio. Tendo uma alta capacidade criadora ele escreveu uma obra imersa no real e no concreto”.1

Exemplo de que em suas obras constava muito de sua própria experiência, cita-se sua primeira obra escrita em 1935, com 22 anos de idade, “L’Envers et l’Endroit” (O Avesso e o Direito), em que ele descreve o ambiente em que viveu o primeiro ano de sua vida. Esta autobiografia, a exemplo de outras, é recheada de recordações.

Em 1940 O Estrangeiro fica pronto. Nesta obra Camus apresenta Meursault, um escriturário de Argel que viaja até uma cidade próxima para enterrar sua mãe, sem chorar no enterro, demonstrando ser um tanto insensível. Meursault mata um árabe, é preso. Até então esta personagem tem a característica de uma pessoa despreocupada na vida, sem aspirações com o futuro, aceitando a vida conforme ela é. Através de um grande choque em sua vida, ser condenado à morte, desperta em Meursault a descoberta da beleza da vida, modificando assim sua postura, fazendo nascer dentro de si uma revolta.

Outra obra de destaque de Camus é A peste, em que representa a vida coletiva que O Estrangeiro é para a vida individual. Da mesma forma que Meursault descobriu a beleza da vida através de um grande choque, toda uma cidade será despertada para a consciência quando se encontrar isolada nos negócios e no hábito, devido a uma epidemia de peste inteiramente imaginária. “A Peste é um livro de humanista que se recusa a aceitar a injustiça do universo”.2

O Mito de Sísifo tinha sido publicado em 1943, um ano depois de O Estrangeiro e continha a essências das mesmas idéias que este. Este mito é uma imagem da vida humana onde os deuses tinham condenado Sísifo a rolar interminavelmente um rochedo montanha acima, até o alto de onde a pedra tornava a cair por si mesma, tornando assim o seu trabalho inútil e sem esperança. Tomar consciência da inutilidade de tantos sofrimentos é descobrir o absurdo da condição humana.

Outra obra de destaque é “O Homem Revoltado consagra a visão camusiana por excelência; o valor precede ação. A ação justifica, porém, a revolta. No pensamento historicista e existencialista, o valor aparece no final como consumação da ação”.3 Nesta obra, Camus “examinará dois séculos de revolta, fazendo uma história das ideologias e das mentalidades européias”.4

As obras de Camus são observadas também no teatro. Calígula é o homem que descobre o absurdo do mundo pela morte de sua irmã Drusilla, não sendo ele um louco, mas uma crônica dos tempos atuais. O Mal-entendido (peça friamente recebida), conta à história de uma mãe e sua filha, as quais vivem em uma mansão isolada na Morávia, e matam os viajantes que recebem. A Mãe se cansa de tantas mortes e a filha está revoltada com o seu destino, que é o de viver naquele lugar de solidão e sem amor. Passa mais um viajante que, sem ser reconhecido, é morto por elas. Mexendo no meio de seus documentos, elas descobrem que ele era o irmão e o filho que há muito tempo partiu. Estas duas peças são consideradas como teatro absurdo. Os justos (uma peça carnal, emocionante) de origem em um episódio verdadeiro do terrorismo russo em 1905, que relata o conflito entre o revolucionário absoluto que não recua diante de injustiça alguma para fazer triunfar a causa, e o revolucionário que mantém o respeito dos limites morais. O Estado de Sítio (uma peça-demonstração) que é A Peste esquematizada para o palco com a ajuda de Jean Louis Barrault aparece “debilitada pela falta de equilíbrio entre ação dramática e suporte mitológico”.5 Esta peça é apresentada e fracassa.

Muitas outras obras de sua autoria: Revolta em Astúrias (redigida para teatro), resenha crítica em Alger Republicain, funda com outros intelectuais a revista Rivages, publica Núpcias e Inquérito em Cabilia (como jornalista), redige boletins clandestinos para o grupo.

Combata (mais tarde sai da clandestinidade dando o nome a um jornal), Carta a um Amigo Alemão (Primeira e Segunda), escreve artigos da série Nem vítimas nem verdugos, redige os contos de O Exílio e o Reino, escreve O Verão (continuação de Núpcias), publica A Queda e Reflexões sobre a Guilhotina (esta última, junto com Koestler), e como última obra de sua vida, a projeção de um romance intitulado de: O Primeiro Homem.


PRINCIPAIS PENSAMENTOS DE CAMUS

Segundo Cláudio Carvalhaes, absurdo é “aquilo que acontece, mas não poderia acontecer. É o impossível que se torna realidade. É o não aceitável que, embora acontecido, continua como inaceitável”.

Para “capturar o sentimento do absurdo” (expressão usada por Camus), o ser precisa invocar outros sentimentos. Esses sentimentos variam do desconforto ao pessimismo até a angustia e o desespero.

Camus sofreu, neste sentido, uma forte influ6encia do filósofo Nietzsche. Os seus pensamentos caminham lado a lado com os do seu filósofo preferido. Albert possuía um profundo amor pela vida, fato este que o tornava extremamente ciumento e invejoso. Por essa razão sua filosofia de vida era buscar nessa vida o máximo de prazer e alegria, pois esse sim era o grande desafio para o ser humano, e não esperar essa recompensa numa vida vindoura.

Para Camus, a felicidade era medida pelo prazer sentido pelo corpo, fato notadamente destacado em sua obra “Bodas em Tipasa”. Aqui se observa que segundo ele, quanto mais a vida lhe valer, maior será o absurdo trazido por ela. Assim sendo felicidade e absurdo vivem em parceria, e um pertence ao outro.

Quanto mais o homem buscar a vida, mais se deparará com o absurdo. O cultivo desse sentimento pela vida e sua trágica experi6encia com a morte acidental de sua noiva, levaram Camus, ao escrever sua obra “O Avesso e o Direito”, declarar seu inconformismo em “face da impotência humana contra a morte, a velhice e a escuridão”.

Essa noção de absurdo seguida por ele, foi na verdade o motor que o impulsionou a adentrar no tema que seria o seu campo de questionamento pelo resto de sua breve vida, a revolta.

Discutindo ainda, porém a questão do absurdo verá que faltou a Albert Camus trabalhar uma definição mais clara sobre o como ele realmente entendia o absurdo. Para ele o absurdo era um “abismo sem fim, colocado diante do ser humano". Para se entender a intensidade do absurdo seria preciso pular neste, para desta maneira explorar sua existência. Carvalhaes traça aqui um paradoxo dizendo que “o absurdo era o vazio de onde Camus tirava o sentido para preencher sua vida”.

Como citado anteriormente, ouve uma mudança no pensamento de Camus, na qual vê-se uma transição do absurdo para a revolta. Não que o filósofo tenha abandonado o absurdo, pelo contrário, ele o via como um estágio de mudanças do pensamento.

Assim Camus era um homem revoltado que não se sentia bem com a situação absurda dos acontecimentos da vida. Para ele o homem revoltado era aquele que descobriu a maneira frágil e perecível com a qual sua vida se depara. Por essa razão ele era um forte opositor a degradação do ser humano. A obra de Albert gira em torno dos acontecimentos de sua própria vida, e nela podemos ver suas limitações, suas angustias e a maneira subjetiva como levava sua vida, mesmo com todas essas barreiras, ele foi alguém que acreditava na vida, e sentia profundo respeito pela vida humana. Esse conjunto de fatores faz com que o estudo de sua obra e pensamento se torne algo interessante e prazeroso.


CONCEITO DE DEUS EM CAMUS[1] Camus vai recusar a idéia de Deus, ele diz não aceitar a noção de um Deus cuja existência não teria nenhum assento na realidade sensível. Ele não faz nenhuma concessão a esse Deus que não intervém no problema do mal. Do problema do mal nasce o silêncio de Deus, e esse silêncio se moldará a noção dessa divindade. Camus não aceita que o assassinato de Abel não fosse impedido por Deus. Para ele, se Deus permite tudo, ele é responsável por tudo. Pior ainda, foi o próprio Deus que insuflou o homicídio no coração de Caim. Para Camus Deus é: “Uma divindade cruel e caprichosa, aquela que prefere, sem motivo convincente, o sacrifício de Abel àquele de Caim e que, por isso, provoca o primeiro assassinato”. Por isso, Camus não vai aceitar um Deus arbitrário em suas decisões.Camus tira a razão de Deus por motivos morais. Ele recusa duplamente a fé como recusa a injustiça e o privilégio. Deus, para Camus é visto como o pai da morte e o supremo escândalo. Mais tarde, Camus amenizará seu tom na denúncia de Deus, mas não deixará de fazê-la. O ser humano não é mais inocente e Deus não é mais o culpado de tudo. Ele temperará o arbítrio divino com o arbítrio humano, a criminosidade divina com a criminosidade humana. Mesmo assim, ele não deixará de ver o mal como um escândalo e Deus, com seu mutismo, longe e indiferente a tudo. Até o fim Camus se pergunta, porque Deus permite tudo? Porque ele permite que neste mundo crianças tenham fome, sofram e morram? Chavanes conta um episódio da sua vida. Em 1959, alguns meses antes de sua morte, Camus declarou ao pastor de Lourmarin e à sua esposa: Vocês os crentes, vocês são eleitos, é por isso que eu estarei sempre do lado dos outros. A esposa do pastor lhe respondeu: Os homens, muito freqüentemente, são decepcionantes, apenas Deus não o é. Após um instante de silêncio, Camus lhe perguntou: Você está segura disto?

O problema do mal será questão central em todo o pensamento de Camus. De um deus considerado horroroso no Antigo Testamento, Camus verá como frustra a tentativa de eliminação do mal pelo cristianismo, pois este se mostrou uma religião que aceita paradoxalmente o assassinato de um inocente, Cristo. Camus fará um jogo contrário à doutrina cristã entre o Jesus divino e o Jesus humano dizendo que enquanto Jesus era visto como Deus, seu sofrimento na sua morte era a justificação do mal no mundo. Por isso sua aproximação com Marcião. Diz ele: só o sacrifício de um deus inocente poderia justificar a longa e universal tortura da inocência.Só o sofrimento de Deus, e o sofrimento mais desgraçado, podia aliviar a agonia dos homens. Se tudo mais, exceção, do céu a terra, está entregue à dor, uma estranha felicidade então é possível. Entretanto, Camus irá dizer que quando da critica da razão, o Jesus divino descoberto como homem e a medida em que a divindade do Cristo foi negada, a dor voltou a ser o quinhão dos homens, Jesus frustrado é apenas um inocente a mais, que, os representantes do Deus de Abraão torturaram de maneira espetacular. Esse falseamento da suficiência cristã para o problema do pecado ficou encoberta até o século XVIII. A partir daí se de um lado Camus diz que o pensamento libertino abriu espaço para a grande ofensiva contra o céu inimigo, para aqueles que descobriram e queriam se rebelar contra o mal que os assolava com suas próprias forças, mas que não podiam uma vez que a religião os vedava, de outro lado, os cristãos teimosos e cegos fizeram da história o ligar para resolver o problema do mal. Como diz Hanna: Mas se a perda do Cristo trouxe aos homens à face do mal, isso deixa os homens no mesmo estado de espírito de antes, porque eles sabem agora que a história é sua justificação, e está em suas mãos realizar a promessa que a história contém.

Camus achava a palavra salvação demasiado grande, não há e nem mesmo é necessário salvação para o ser humano. Camus fala outro não, e desta vez é ao sobrenatural, pois não precisava dele, sabe de sua responsabilidade e dever sobre seu próprio destino, sabe da força e fraqueza que o habitam e não aceita qualquer interferência externa sobre o que diz respeito somente a ele. Para Camus a salvação não existe, ele afastou veementes as soluções fáceis propostas como remédios ao terror inspirado pela morte, seu campo vivencial é o mundo e liga-se a si mesmo no mundo e faz dele o seu reino. Camus amava mais a natureza do que a história. Acusou o cristianismo de dar lugar e valor privilegiado à história eliminando a relação de contemplação com a natureza mudando o seu eixo para um relacionamento de sujeição. A natureza é, para Camus, o lugar do prazer do corpo. Ela é sua mediação com o sagrado.

A revolta é a atualização da vida, não se tem mais deus e tudo o que se tem é a vida dada gratuitamente e sem explicação. Nesta vida, é preciso se revoltar, pois pela revolta acabamos por nos conduzir num mundo perdido e com valores que mantenham ou mesmo animem nossa dignidade. A revolta é capaz de nos fazer transcender, a única transcendência de que Camus faz conta e é luta contra o absurdo, a única capaz de reivindicar clareza e ordem num universo que parece pouco razoável. A grandeza da revolta contra todo ataque à dignidade humano reside igualmente na afirmação implícita da transcendência do espírito humano, o único capaz de julgar em nome de uma justiça que somente ele pode conceber.


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NOTAS

1 CAMUS, Albert; citado por: Material internet.

2 BARRETO, Vicente. Camus: vida e obra. 2 ed. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 19, p. 14 (grifo meu).

3 CHAR, René citado por BARRETO, op. Cit. P. 209

4 BARRETO, op. Cit. P. 14

5 BARRETO, op. cit, p. 20-21.

6 Ibidem. p. 14

7 Ibidem. p. 10

9 Ibidem. p. 12-13

10 1 BARRETO, Vicente. Camus, vida e obra. 2ª. Ed., Paz e Terra. p. 13-14.

2 MOUROIS, André. De Proust a Camus, vida e obra dos maiores escritores franceses do século XX. Rio de Janeiro, Editora Nova fronteira, 1965. p. 371.

3 GONZÁLEZ, Horácio. Albert Camus – a libertinagem do sol. São Paulo, Editora Brasiliense, 1982. p. 77.

4 Idem.

5 Idem.

[1] CARVALHAES, Cláudio. Albert Camus e o Cristianismo. São Bernardo do Campo, UMESP, 1997.







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