Colaboladores |
Capas | Links | Sobre | home
Nº 32 - Julho de 2011
ISSN 2175-3318
"Educação de jovens e adultos: da invisibilida- de à cidadania"
Apresentação
(...) É preciso ter viajado num destes transatlânticos para se fazer uma ideia das fronteiras que separam os homens e as classes, mesmo dentro duma casca de noz. E somos poucos, aqui, não mais de cinquenta: que faria se fôssemos os duzentos ou quatrocentos da lotação, só Deus sabe, amontoados na imunda gafaria que é a terceira dos emigrantes. (...)
Na literatura brasileira há que se referir ao escritor Graciliano Ramos que, em Angústia (1936), aborda a questão da dialética da comunicação ao dizer “A linguagem escrita é uma safadeza (...) para enganar a humanidade. (...) Acredite que não vale a pena. Uma pessoa passa a vida remoendo essas bobagens. Tempo perdido”. E, em Vidas Secas (1938), caracteriza o destino cruel do retirante nordestino nos áridos sertões, movido pela esperança de alcançar a justiça social. Observa-se, neste sentido, o descompasso entre o ser humano e o cidadão, titular de direitos e obrigações. No campo da poesia nacional vale ressaltar o terrífico olhar de Manuel Bandeira em O bicho (1947) nesta conhecida passagem “Vi ontem um bicho na imundície do pátio (...). O bicho, meu Deus, era um homem.”
Prof. Dr. Luiz Fernando Pinto Bahia
A invisibilidade social e política de alguns seres humanos, por falta de acesso à educação e à cidadania, tem sido debatida, não só por educadores em todo o mundo, como, também, descrita em prosa e poesia ao longo da história da literatura universal, deno- tando a importância da pesquisa e busca de solu- ções na área da inclusão.
Inúmeros textos literários, que espelham a dinâmica da evolução ou involução das sociedades ocidentais, poderiam ser lembrados da Grécia Antiga ao Século XXI.
Todavia, fazendo um necessário recorte temporal em séculos mais recentes, é possível citar Gente Pobre, o primeiro romance de Fiódor Mikhailovich Dostoiévski, escrito em 1846, aos 25 anos de idade, cujas personagens retratam humildes habitantes de São Petersburgo em seu sofrido cotidiano. Em Portugal, outra obra instigante é Gente da terceira classe (1962) de José Rodrigues Miguéis que indica a saga dos emigrantes em busca do sonho americano: “Jornal de bordo – 1935”
E, sem sombra de dúvida, a (in) visibilidade dos homens e mulheres que anseiam pela alfabetização, leiturização e complementação dos estudos, almejando a cidadania, pode ser ressignificada a partir da reflexão sobre os célebres versos de Cecília Meireles, no Romance XXIV ou da Bandeira da Inconfidência (1953): “ Liberdade - essa palavra, que o sonho humano alimenta: que não há ninguém que explique, e ninguém que não entenda!”
A proposta da nossa equipe de pesquisa da Educação de Jovens e Adultos (EJA), por via de consequência, é a de aprofundar os estudos dessa modalidade de ensino e ajudar todos aqueles que desejam, pela educação, sentir-se uma pessoa atuante e respeitada em nossa sociedade.
Algo como tentar validar as utopias, desconstruindo, na medida exata, as imagens iniciais contidas nos belos versos de Álvaro de Campos, heterônimo do grande poeta português Fernando Pessoa, que em Tabacaria (1928) diz: “Não sou nada. Nunca serei nada. Não posso querer ser nada. À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.” (...). Estas palavras poderiam significar aos alunos da EJA, parodiando o poeta, a seguinte versão: “Sou tudo. Sempre serei tudo. Posso querer ser tudo. Por isso, sim, tenho em mim todos os sonhos do mundo.”
Assim, esta edição, em 2011, proporá reflexões no campo da invisibilidade humana nas dimensões social e política sob a óptica conceitual; um mergulho histórico nas raízes da modalidade de ensino de jovens e adultos; a abordagem da linguagem como veículo básico de interação social; a apropriação do conhecimento matemático como fator de inclusão; as abordagens biopsicossociais inerentes ao desafio de um novo sujeito em sociedade e as perspectivas políticas próprias da exegese do conceito de cidadania.
Os autores dos textos são professores e alunos do Grupo de Pesquisa e Formação de Professores para a Educação de Jovens e Adultos (EJA) – credenciados pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM) e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (até 1971 denominado Conselho Nacional de Pesquisa, cuja sigla, CNPq, se manteve).
Sejam bem-vindos e boa leitura!
Coordenador do Nº 32 da Revista Pandora Brasil
Contato:
lfpbahia@uol.com.br; lfpbahia@mackenzie.br
A capa reproduz a tela Operários (1933) de Tarsila do Amaral
©Todos direitos reservados.
Clique nas miniaturas