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Se eu fosse...
Um grande pensador dentro de um caixão
Rafael Araujo de Castro
Imaginemos que o grandioso pensador de verdades absolutas em suas relatividades acordasse dentro de seu caixão.
Não que este estranho fato contradiga com suas contradições, mas podemos pensar no desespero frente a um caixão fechado. Mas pior que a angústia, só a dor que percorreria por todo o seu corpo, metade osso, metade carne podre: anos e mais anos de caixão não fazem bem a ninguém.
Imaginemos ainda mais, que por um acaso dos céus ele conseguisse sair de sua cova. De certo o ar poluído dos novos tempos o faria vomitar, mas vomitar o quê?
Mesmo com toda a incoerência dessa situação, o primeiro zumbi poderia muito bem passear pelo cemitério, cuja tranqüilidade fúnebre nem seria notada, visto que há muitas coisas para se pensar quando se é zumbi.
O problema maior seria quando ele deixasse o cemitério e entrasse naquela cidade completamente diferente de tudo o que ela já havia visto. As pessoas ao vê-lo não o reverenciariam, muito pelo contrário, correriam desesperadamente. Não que isso o incomodasse, em vida sempre fora acostumado à solidão, e não seria agora, em sua vida além da vida que ele iria se incomodar.
Mas algo o entristeceu demasiadamente, ao passar por uma vitrine, reparou que não porta aquele seu elegante e imponente bigode de sua aurora...
Assim foi andando e se desapontando cada vez mais com a pós modernidade, mas o pior aconteceu quando ele se deparou com uma faculdade e viu o que faziam de suas teorias. O mundo interpretara o seu presente à humanidade, o maior presente dado a ela, de uma maneira completamente errada. É certo que tudo é interpretação, mas o que fizeram é esculhambar geral!
No fim, tão desiludido com tudo, o zumbi decide voltar novamente para a tumba de onde nunca devia ter saído. Não que ele tenha sido incoerente perante suas teorias, o problema é que não há vontade de viver, quando não há vida...