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Revista Pandora Brasil
Nº 78 - Janeiro 2017
ISSN 2175-3318
“O poder da paixão na filosofia moderna e contemporânea”
Apresentação
Jasson Martins
O tema do presente volume da Revista Pandora é o poder da paixão, no contexto da filosofia moderna e contemporânea. Os textos são provenientes de duas fontes: a. alguns foram produzidos por alunos de filosofia, no contexto do curso de Extensão: “Oficina de leitura e produção de textos filosóficos”, realizado pelo NEIL (Núcleo de Estudos sobre o Imaginário e a Linguagem). O objetivo principal da oficina foi acompanhar todos os momentos da elaboração de um texto acadêmico, através do desenvolvimento e/ou aperfeiçoamento da prática da leitura e escrita, a partir deste gênero literário específico, que é o gênero filosófico. b. outros foram elaborados no contexto de Trabalhos de Conclusão de Curso (TCC) e, no contexto da Oficina, foram redimensionados, para atender algumas especificidades.
É indiscutível a importância do tema paixão na filosofia moderna. O tema foi tratado por René Descartes e ganhou um contorno inestimável com Baruch de Espinosa. O fato é que para todo grande autor do início da modernidade a paixão é um tema amplamente tratado ou ao menos pressuposto. Em Thomas Hobbes, por exemplo, é nuclear para entender o funcionamento da lógica do poder e também do corpo orgânico e social. Em todos estes autores, o tema é apresentado como uma potência essencialmente humana e capaz de colocar o mundo em movimento: a paixão, concebida, pelos filósofos modernos, revela ao homem, o seu poder criativo, animalesco e humanizador. Longe de ser o resultado de uma natureza depravada ou pecadora – como pressupõe a teologia paulino-agostiniana –, a paixão expressa o poder do homem sobre si mesmo e sobre a natureza, de tal modo que governar o homem ou agir no mundo, envolve o conhecimento desta potência humana: paixão é algo humano, nossa herança dos deuses gregos, nossa diferença do Deus cristão.
Alguns autores contemporâneos também revelam o quanto a paixão é central em suas reflexões. Kierkegaard, por exemplo, pressupõe a paixão como estruturante da sua antropologia, expressa na angústia do homem moderno. Sua crítica aos sistemas filosóficos coincide com a crítica da ausência de paixão, lugar da subjetividade e individualidade. Em Nietzsche a crítica à ausência de paixão na filosofia, conduzirá à crítica de toda moral até então em vigor. Com estes autores, a paixão revela o seu lado contestador, destruidor e, por isso mesmo, instaurador de uma nova explicação da vida. A vida pode ser considerada o receptáculo das paixões que definem o homem: em seu viver, através do seu agir.
A aliança entre vida e paixão, viver e agir, é indispensável em qualquer sistema explicativo, quer seja, filosófico, teológico ou artístico. Afinal, como o indivíduo pode agir sem uma paixão poderosa? A paixão é o que impulsiona o homem na direção de sua realização, na direção da elaboração de seu ideal. É por isso que a paixão pode ser caracterizada como uma potência ambígua: ela está na base da elaboração de todo grande projeto, como afirma Hegel, em sua Filosofia da história: “nada de grande acontece no mundo sem paixão”; mas também no âmago de todo projeto que se pretende inovador e crítico, como transparece em todos os escritos de autores como Kierkegaard e Nietzsche.
Quer seja na filosofia, na política ou na arte... importa reconhecer o poder edificante – no sentido arquitetural do termo – da paixão humana. Essa potência ambígua está presente no homem e também em cada um dos textos que ora apresentados aos leitores.
Um abraço e uma boa leitura!
Professor da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB)
jassonfilos@gmail.com
Coordenador da Edição nº 78 da Revista Pandora Brasil