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A fragmentação do saber
Cláudia Queiroz
Erica Maki
Isabeli Pinheiro
Jacqueline Dumangin
“Os desenvolvimentos discilpinares das ciências não só trouxeram as vantagens da divisão do trabalho, mas também os inconvenientes da superespecialização , do confinamento e do despedaçamento do saber.” Morin (1999 apud ARAÚJO, 2003)
As ideas do modelo cartesiano trazidas pelo filósofo René Descartes trouxeram para o século XVII um novo paradigma para a ciência e para diversas áreas do conhecimento e da vida humana.
Segundo esse modelo a natureza, assim como a Matemática, pode ser dividida em inúmeras partes, mais simples, mais fáceis de estudar, pois, segundo o pressuposto, se entendendo as partes, entender-se ia o todo.
É nesse contexto que surge a divisão disciplinar da natureza, de diversas disciplinas que passaram a estudar cientificamente as diferentes classes de fenômenos do universo, da matéria, da vida humana e dos seres vivos. A formação de especialistas em cada uma das disciplinas que se formavam permitiu um avanço significativo na área da ciência e da filosofia, permitindo que misteriosos fenômenos fossem mais bem compreendidos. Porem, à medida que essa metodologia e ideais foram trazidos para o âmbito acadêmico e posteriormente, para o espaço escolar, foi ocorrendo uma simplificação, uma redução da complexidade característica dos fenômenos naturais, porque cada vez mais se pendia para especialização de tal forma que retornar ao todo já não era mais possível.
Para o campo dos conhecimentos, foram separadas três grandes áreas, a Física, a Biologia e as Ciências do ser humano. No campo da educação a “disjunção” refletida no cotidiano escolar, aconteceu pela separação entre corpo e mente e as diferentes disciplinas estudadas na escola.
Há uma prática recorrente das instituições escolares, em dividir o tempo e o espaço em dois momentos distintos. Um dedicado a mente, destinado a aprendizagem dos conteúdos, em que é exigido um controle do corpo dentro das salas de aula; e aquele dedicado ao corpo em aulas de Educação Física ou nos momentos de recreio, em que a movimentação corporal é permitida.
Os conteúdos a serem estudados também são divididos, fragmentados. O tempo e o espaço são novamente divididos para atenderem a diferentes conteúdos específicos, por exemplo, primeiro se tem a aula de Matemática, a segunda é a de História, a terceira de Língua Portuguesa, e assim por diante. Para atender ao modelo, promoveu-se a especialização dos professores e profissionais da educação, que passaram a receberem essa formação especializada nas universidades.
Nesse processo de aprendizagem há uma abstração dos conteúdos, uma abstração da realidade que não condiz e se afasta da realidade complexa em que vivem os alunos, da realidade complexa do universo. O que acaba por provocar um ensino distante das reais necessidades, interesses e desejos dos alunos e alunas.
Nesse contexto de dicotomias presentes na educação, também podemos considerar a constante separação entre teoria e prática. Por muito tempo e ainda hoje, em algumas práticas pedagógicas, é nítida a divisão entre a prática e a teoria e a atribuição de diferentes valores dado a cada uma. A teoria normalmente é atribuído um maior valor por esta relacionada a ideias estáveis, com uma validade no tempo, que aprofunda conhecimentos porque se propões a responder questões. A prática possui um valor inferior porque é dita como mutável, por estar ligada a matéria, é comum o pensamento que diz que para se ter uma boa prática é necessário se conhecer teorias. Porém, uma boa prática pedagógica é a que consegue aproximar teoria e prática e demonstrar que ambas tem seus valores e são fundamentais no processo educacional.
Para Edgar Morin é necessário que a educação recupere a complexidade do universo e da vida humana, que supere essas divisões e dicotomias. Ele propõe uma educação do futuro, elencando sete saberes necessários, que considerem: conhecer o que é conhecer, evitando as ilusões e erros; o conhecimento dos problemas globais e a inserção dos problemas locais, que estabeleçam relações e influências entre as partes e o todo, refletindo o mundo complexo; a identidade humana, como objeto essencial de ensino, a identidade complexa de cada um e a identidade comum a todos os seres humanos; o conhecimento da identidade terrena, da crise planetária que nos une num destino comum; o ensinamento da compreensão, numa reforma de mentalidades; e a ética do gênero humano, da sociedade pelo indivíduo, do indivíduo pela sociedade, através da democracia, buscando a “cidadania terrestre”.
Segundo Ulisses F. de Araújo, a proximidade dos conteúdos escolares com a vida e os interesses dos alunos, poderia e deveria acontecer através da estratégia de projetos, com uma grade curricular montada por temas transversais, em que as disciplinas se unam e dialoguem sobre um mesmo tema contextualizado e de acordo com os interesses dos alunos. Permitindo que se faça uma aproximação dos conteúdos científicos tradicionais e os saberes da realidade vivenciada cotidianamente pelos estudantes.
Existe um caminho, não com uma direção única, que conceba uma educação que aproxime teoria e prática, considerando experiências cotidianas, aliadas as teorias científicas, que leve em conta interesses e saberes dos alunos, que pensem e trabalhem a complexidade do universo, do ser humano e da vida em sociedade, que construam uma educação do futuro, preocupada com a instrução e a formação ética, buscando a formação crítica e autônoma e antes de tudo, democrática, para todos e para todas as crianças e adolescentes.
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