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Cartaz do Evento


Cartaz

XV Semana de Filosofia - Mackenzie

"Apresentação de Trabalhos"
Resumo das comunicações

 

    Apresentação de Comunicações

    Lista de trabalhos aceitos e dia e hora da apresentação
    Local: Auditório Flamíneo Fávero


    QUARTA FEIRA 8 DE OUTUBRO, 20:45 h – 22:30 h, Primeira Sessão



    O CASO ODRADEK – A LEITURA DE KAFKA POR SLAVOJ ZIZEK

    Rodrigo Suzuki Cintra
    Doutor pela Faculdade de Direito da USP
    Pós-Doutor pela Universidade de Coimbra

    Toda a arte de Kafka consiste em obrigar o leitor a reler.
    Albert Camus

    Em A visão em paralaxe, o filósofo esloveno Slavoj Zizek escreve, em poucas linhas, sua visão sobre a obra de Kafka. Apresenta três arcabouços interpretativos mais tradicionais sobre a obra do autor tcheco: o teológico, o sociocrítico e o psicanalítico. Porém, assim o faz não para se filiar a nenhuma destas correntes, mas para apresentar a visão segundo o qual sempre se deve ler Kafka a partir de uma leitura “cândida”, como se a primeira leitura fosse necessariamente a mais acertada.
    Nesse sentido, Zizek propõe analisar o conto Odradek, como ele o intitula, para tentar demonstrar sua tese. Para Zizek, a segunda leitura é aquela que tenta superar o impacto cru da primeira leitura, na tentativa de fazer o texto caber no arcabouço de uma interpretação dada.
    Parece que quase ouvimos ressoar a leitura de Adorno sobre Kafka em que o filósofo propõe que não se deve interpretar Kafka. Tudo no autor tcheco deveria ser lido de maneira literal: “somente a fidelidade à letra pode ajudar, e não a compreensão orientada”.
    Acreditamos que a proposta de literalidade no processo de leitura e compreensão dos textos de Kafka, e por extensão de qualquer texto literário, é, e aí sim, uma leitura “cândida”.
    No fundo, o que se quer com essa posição é uma dupla operação: reduzir ou transformar Kafka em um escritor realista por excelência e inviabilizar qualquer forma de contestação de uma interpretação dada. A tática é simples. Se Kafka deve ser lido “ao pé da letra”, suas imagens distorcidas correspondem à lógica do próprio real e podem ser perfeitamente conhecidas por qualquer leitor.
    Um Kafka para além da interpretação se torna, assim, extremamente útil para as interpretações que situam esse autor como alguém que expressou o real, particularmente as estruturas de poder e dominação, melhor do que ninguém. Acreditamos que a literalidade ou a “leitura cândida” são completamente impossíveis em Kafka e, no caso da leitura de Odradek, são especialmente formas de interpretação fora do lugar. Para mostrar isso, teceremos uma interpretação própria sobre esta pequena obra-prima de Kafka e tentaremos comparar com a leitura do filósofo esloveno.
    Afinal, o que faz Zizek, no caso Odradek, senão apresentar a sua própria interpretação?
    Uma interpretação que estaria acima de qualquer suspeita uma vez que existiria certa visão inocente, pura e, portanto, correta de Odradek. Mas, no entanto, parece-nos que Zizek não poderia ter pego pior exemplo para satisfazer e pontuar as exigências de sua tese sobre Kafka. Pois é da natureza do personagem Odradek ser fugidio e parecer escapar por entre nossos dedos quando pensamos determiná-lo por completo...


    ABORDAGEM DOS VEIOS NIILISTAS PRESENTES NO ROMANCE “O ESTRANGEIRO” A PARTIR DO ENCONTRO/CONFRONTO COM O PENSAMENTO DE GIANNI VATTIMO

    Omar Lucas Perrout Fortes de Sales

    Doutor em Teologia pela FAJE
    Doutorando em Filosofia pela UFMG

    O romance de Albert Camus – “O estrangeiro” (1942), ao lado de “O mito de Sísifo” e de “Calígula” compõe o conjunto de obras escritas pelo autor denominado ciclo do absurdo. As intrigas da narrativa culminam no encontro/confronto de Meursault (protagonista do romance) com o capelão da prisão na qual Meursault se encontra. Este fica irritado com a insistência do capelão para que o prisioneiro direcione seu coração para Deus. O intenso diálogo alcança seu ápice com Meursault reconhecendo o que denomina a indiferença do universo em relação à humanidade. Essa atitude de indiferença, bem como de recusa do reconhecimento de uma ordem natural já dada, constituem os traços do que posteriormente se compreenderá por niilismo, morte de Deus e fim dos absolutos metafísicos. Tal temática apresenta-se recorrente na literatura como se pode constatar, a título de ilustração, no romance “Irmãos Karamazov” (1879) de Fiódor Dostoiévski.
    O anúncio nietzschiano da morte de Deus coincide, em boa medida, com o fim da metafísica apregoado por Heidegger, como explicita o filósofo italiano Gianni Vattimo. O consequente processo de enfraquecimento das verdades absolutas e da perda da força coercitiva da objetividade metafísica de outrora é apreendido e proposto por Vattimo em sua original formulação do pensiero debole (pensamento fraco). O pensiero debole (1979), a saber, o reconhecimento e a aceitação de que depois da desconstrução da metafísica não se pode chegar à essência última da verdade, antes estar de acordo com uma multiplicidade de interpretações, permite a Vattimo desenvolver sua hermenêutica niilista. Tal hermenêutica, por sua vez, possibilita a compreensão do destino de enfraquecimento do ser.
    Diante do exposto, pretende-se ler criticamente “O estrangeiro” a partir das lentes filosóficas oferecidas pelo pensamento de Vattimo e a partir deste embate demonstrar em que medida o texto de Camus expressa veios precursores do niilismo e do enfraquecimento dos fundamentos. Importa também depreender de que modo o conteúdo filosófico imbricado em “O estrangeiro” contribui para a compreensão do niilismo expresso por Vattimo, e da morte de Deus na perspectiva de Nietzsche.


    MEMORABILIA POETICA - OBLITUS CARMINA, AMORE ET DESIDERIO DE JORGE LUIS GUTIÉRREZ: um percurso pelos desertos, vales e mares do amor, do desejo e do esquecimento

    Egisvanda I. A. Sandes
    Doutora e Mestre em Letras pela Universidade de São Paulo (USP)
    Professora da Unesp - Campus de Araraquara

    A comunicação analisa a relação entre filosofia e poesia no livro Memorabilia Poetica - oblitus carmina, amore et desiderio de Jorge Luis Gutiérrez. Memorabilia nos remete diretamente à memória, assim que se um livro leva o título Memorabilia Poética já se sabe de antemão que cada verso estará cheio de recordações, sensações, experiências, conhecimentos, de ícones importantes para o eu poético. No entanto, este eu poético ao que me refiro não é um simples eu. É um eu poético que se mistura com um eu real. Um eu que se compõe de dois mundos... dois seres... duas formas de ver e interpretar a vida e alguns de seus componentes essenciais como oblitus carmina, amore et desiderio, isto é, o esquecimento, o amor e o desejo... Dois mundos, dois seres e duas formas de interpretar que se descompõem em vários eixos... posso falar do eu poeta e eu filósofo, em fim… são muitos “eus” os que formam um único, completo e complexo eu, que é Jorge Luis Gutiérrez.
    A memória no poema “Epigramas de Outono”, por exemplo, é como um rio no que fluem temas que permitem ao eu poético “construir ao ser amado em seus devaneios e despi-lo na névoa”, e ver nesse ser “abrangências deleitosas" e a "claridade das fronteiras”. Ademais, a voz da amada constitui uma “episódica lucidez, transbordamento e ostentação de eternidade”, sobretudo, porque ela lhe pede que fale do amor, do vale, das paixões, dos desertos.
    Nos Epigramas de Outono se desenham versos que tratam “a garoa do fugaz que nos banha”, “os exílios que se expandem infinitos, “as cicatrizes dos paraísos nunca tidos”, “a solidão dos oásis”, “as fotografias das emoções latentes”, “o além dos desertos” e “as asas da vida”. Verdadeiras metáforas sobre o amor, o esquecimento e o desejo são as que nos brinda Jorge Luis Gutiérrez em sua obra.


    O BILDUNGSROMAN FEMININO: UMA PERSPECTIVA HEGELIANA

    Lívia Bono
    Formada em Filosofia (Bacharelado) Universidade Mackenzie
    Faap (História da Arte)

    A comunicação trata de discutir a possibilidade de existir um romance de formação na literatura cuja personagem seja feminina, análise esta feita com base na filosofia hegeliana. A discussão é feita a partir da fenomenologia do espírito, de hegel, tomando a obra literária Jane Eyre, de Charlotte Brontë, como exemplo de um romance de formação que tem uma personagem principal feminina. O exame da referida possibilidade segue o percurso da consciência hegeliana, descrita na fde, comparado ao da personagem-título de Je, traçando um paralelo entre filosofia e literatura, focado no bildungsroman.


    POR UMA FRAQUEZA INFINITA: MAURICE BLANCHOT

    João Gomes
    Doutorando - Université Paris I

    Nenhum autor parece ter habitado mais intimamente a zona de indiscernibilidade entre filosofia e literatura do que Maurice Blanchot. Esta forma de “demeurer”, como explicou Jacques Derrida, pode ser entendida também através – palavra arriscada – da noção de fraqueza presente de forma explícita ou discreta em quase todos os textos de Blanchot. Esta noção, jamais definida pelo autor, circunscreve justamente a maneira pela qual esta zona entre filosofia e literatura pode ser constituída e o preço a se pagar para nela permanecer. Além do conteúdo estético evidente, que transborda sobre a questão da autoria, do “eu” e do “ele” impessoal, é possível e desejável tomarmos a fraqueza sob o ângulo de sua potência política mais contemporânea, contrária às exigências de poder, força e dominação. Algo advém do pensamento fraco.




    TERÇA FEIRA 7 DE OUTUBRO, 15:00 h – 17:00 h, Segunda Sessão

    “SE DEUS NÃO EXISTE, TUDO É PERMITIDO”: A FILOSOFIA DO PERSONAGEM IVAN NO ROMANCE “OS IRMÃOS KARAMÁZOV”, DE DOSTOIÉVSKI.

    Luana Martins Golin
    Doutoranda em Ciências da Religião
    Universidade Metodista de São Paulo

    Dostoiésvki, ao escrever seu último romance “Os Irmãos Karamázov” (1878-1880) cria e dá vida ao personagem Ivan Karamázov. De acordo com o conceito de polifonia, desenvolvido por Mikhail Bakhtin, Dostoiévski teve a capacidade artística de criar personagens autônomos que não fossem mera representação da vontade do autor, mas pessoas/personagens com voz própria. Ivan é uma voz muito importante do universo dostoievskiano. Típico intelectual questionador, de tendência ocidental liberal, racional e que não aceita Deus. É dele a célebre frase: “Se Deus não existe, tudo é permitido”. Esta frase expressa o pensamento euclidiano e a relativização da moral, defendidos pela personagem. Ivan não é propriamente um ateu, mas alguém que se revolta contra Deus, que “devolve o bilhete”, que não aceita o mundo tal como é. Esta comunicação busca compreender a filosofia de Ivan, nos seus momentos mais críticos, descritos no romance, tais como: o tema da existência de Deus e da imortalidade da alma; a posssibilidade de estar acima do bem e do mal; o tema do sofrimento humano, principalmente o tema do sofrimento das crianças inocentes diante de um suposto Deus de amor, a teodiceia e a liberdade humana.


    LITERATURA E FILOSOFIA: TENSÃO E INTERLOCUÇÃO

    Pedro Henrique Ciucci da Silva
    Mestrando em Filosofia - Faculdade de Filosofia de São Bento - Sp
    Pós-graduação em filosofia PUC-SP

    Ser e nada e a náusea são duas obras fundamentais publicadas por Jean Paul Sartre, em seu trabalho como escritor. Podemos designar o primeiro livro como obra filosófica e o segundo como obra literária. Tal designação implica a possibilidade de marcar dois campos de saber (literatura e filosofia), partindo daí uma série de argumentos para dispor as relações entre eles. Na história da filosofia, encontramos múltiplos exemplos de escritores que produziram obras filosóficas e ao mesmo tempo, literárias. O filósofo dinamarquês Soren Kierkegaard que na primeira metade do século xix, transitou com desenvolvimento entre os dois campos é apontado como fundador do movimento existencialista, marco histórico da aurora da filosofia francesa nos anos 1950-1960. Pode-se afirmar que uma das marcas mais evidentes do existencialismo foi justamente estabelecer uma sólida interlocução entre a escrita filosófica e a literária. Sartre é certamente a estrela mor do movimento, ao publicar extensa obra, analisada de diferentes perspectivas. Temos que estabelecer uma relação de complementação recíproca entre filosofia e literatura a fim de analisar o projeto sartriano de pensar a ordem humana, a compreensão da existência como condição e da contingência com seu horizonte.


    VERSOS DA LITERATURA NO REVERSO DA FILOSOFIA, Um contraponto entre Tolstói & Nietzsche

    Paulo Roberto Lima de Souza
    UECE- Universidade Estadual Do Ceará

    O que Filosofia e Literatura convocam como significação? No cenário histórico ocidental, ambas atividades de criação convocam a uma enunciação da expressividade do pensar e do agir humano em fulcro. A pretensão deste texto é expor as visões de mundo a partir das distintas escritas que se desvelam constitutivas do pensamento entre o escritor russo Liev Tolstói e filósofo alemão Friedrich Nietzsche, a partir da obra “L’Idée Du Bien Chez Tolstoi et Nietzsche” do filósofo existencialista russo Léon Chestov publicado em 1949, em Paris. Em sua conhecida obra literária “A Morte de Ivan Ilitch” Tólstoi evidencia uma ética que louva o altruísmo mas que resvala para o maniqueísmo, como ele bem exprime, “fora do Bem não existe salvação”, porém como frisa Chestov, esse é um típico exemplo paradigmático do que Nietzsche chamará de “moralidade altruísta” ou de “auto-renúncia” por sua vez, são com frequência repletos de uma outra indignação, nos antípodas da fúria tolstoísta – aquilo que indigna a Nietzsche é a arrogância dos que se arrogam o direito de fulminar os descrentes, dentre os quais se encontram com frequências os mais livres dos espíritos livres! Com este resumo pretende-se apenas trazer um contraponto de suas visões, tendo como pontos semelhantes seus modos de expressão poético-filosófico. Em suma, mesmo diante das diferenças que dicotomizam estes autores, é necessário o reconhecimento no uso literário da linguagem – que exibe, mostra ou encena – a capacidade de deixar maior liberdade a quem lê de se posicionar pessoalmente perante o que está em causa, como também o pendor da Filosofia para a univocidade e para a determinação, assim como bem expõe Léon Chestov.


    SEXUALIDADE E FORMAÇÃO (BILDUNG) NA OBRA O ATENEU (1888)
    Lucas Alves de Almeida



    Em uma sociedade na qual o patriarcalismo mantinha-se como verdade insuperável, o homem tenta fazer da mulher uma criatura tão diferente dele quanto possível. Ele, o sexo forte, ela, o fraco; ele, o sexo nobre, ela, o belo. Como os personagens identificam o efeminado no Ateneu? Quando o aluno procede como o ‘‘sexo fraco’’. Sérgio assume tal postura quando deseja o amparo dos garotos mais velhos, os ‘‘protetores’’; entretanto, ao longo de sua formação ele supera esse comportamento, despindo-se de traços culturalmente considerados femininos. Em suma, a obra de Pompéia representa os conflitos no qual o século hipócrita está inserido. Ora, se a sexualidade era algo tão importante para o século que a historiadora Mary Del Priori chamou de hipócrita, não há como O Ateneu distanciar-se do discurso de rejeição social do homossexual. É por meio de uma ótica histórica, filosófica e literária que pretendemos levantar dois questionamentos: é possível estabelecer um diálogo entre o conceito de formação(Bildung) proposto por Hegel e a obra O Ateneu? É possível também caracterizar O Ateneu, à luz do Realismo, como uma obra que representa a moral do século XIX?


    O PAPEL DA METÁFORA EM NIETZSCHE E BERGSON

    Leonardo Magalde Ferreira
    Licenciatura em Filosofia Centro Universitário São Camilo

    O objetivo deste trabalho é o de expor e compreender os motivos pelos quais dois pensadores contemporâneos, Bergson e Nietzsche, utilizam-se da metáfora em seus escritos e afirmam ser esta um meio muito mais adequado para o filosofar. Ambos os pensadores tecem em diversas partes de suas obras, duras criticas à pretensão da linguagem, fruto do intelecto humano, de abarcar o real, bem como de se utilizar dela para atribuir valores à uma busca pela verdade. Nosso percurso se iniciará expondo as críticas dos autores à linguagem para adentrarmos ao uso que estes fazem da metáfora propriamente dita.







 

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