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Ah! se eu fosse...
sendo, por estar sendo.


José Carlos Simonetti

Se fosse... Tales de Mileto e ser considerado o primeiro filósofo e formular a doutrina da água como elemento primordial, qualquer coisa que dissesse que faria, seria mera suposição.

Se fosse... Heráclito que vê todas as coisas em movimento, e diz “não podemos banhar-nos duas vezes no mesmo rio, porque o rio não é mais o mesmo”, a idéia de um fazer nessas condições, seria pura imaginação.

Se fosse... Parmênides que diz as coisas são imutáveis, imóvel, eterna e una, afirmando que o “o ser é, o não-ser não é”, supor uma ação nada mais seria que mera especulação.

Poderia até ser um sofista, mestre da retórica e da oratória ou mesmo Sócrates preocupado com a verdade, sustentando que: “só sei que nada sei”, parece pouco provável que fizesse algo. Que tal se fosse Platão que nos da esperança de uma vida melhor ou Aristóteles que diz que o homem feliz, cuja virtude adquire-se como princípio de atividades de disciplina, que valor teria o que quisesse fazer? Pouco importa, é só especulação. Ser um poeta como Agenor de Miranda de Araújo Neto que escrevia versos como ninguém ou um padre que celebra as primeiras missas na história, imaginar fazer qualquer coisa, seria um excelente exercício da imaginação.

Em suma, não tem qualquer outra hipótese que eu considere a não ser eu mesmo contingente.

Poderia ser Santo Agostinho que dizia que a verdadeira ciência é a teologia ou ser Santo Anselmo de Cantuária que compreende Deus sendo “o ser do qual nada maior pode-se pensar”, interessaria a alguém o que suponho que faria? Creio que não. E se fosse São Tomás de Aquino que apresenta “as cinco vias da prova da existência de Deus”, sustentar uma ação nestas condições como suposição, é mais provável que seria um pulo metafísico sem qualificação no modo como reconheço.

Em suma, não tem qualquer outra hipótese que eu considere a não ser eu mesmo em minha transitoriedade.

Eu poderia ser René Descartes que existe enquanto pensa ou John Locke que sustenta que a mente é como uma “folha de papel em branco”, não tenho a menor idéia o que faria se os fosse. Talvez David Hume que duvida de tudo e Baruch Spinoza que diz “Deus, isto é, a natureza”, nesta esfera duvido que faria alguma coisa, até porque não sei. E se fosse Wilhelm Leibniz que entende que todo o conhecimento é inato e diz “Tudo já é conhecido previamente” ou Jean Jacques Rousseau que defendeu a idéia que “O homem nasce bom, a sociedade o corrompe”, suponho que fizesse algo, não iria além do que disseram.

Em suma, entre várias hipóteses que considero ser, o que eu queria ser é eu mesmo na minha efêmera fragilidade.

Eu poderia ser Voltaire que diz “Morro adorando a Deus, amando meus amigos, sem odiar meus inimigos e detestando a superstição”, se pudesse supor fazer algo, só queria sustentar a minha fé. Se fosse Immanuel Kant que estabelece uma moral do dever dizendo que “Age de tal forma que sua ação possa ser considerada como norma universal”, ou talvez Georg Wilhelm Friedrich Hegel que nos mostra a outra face das relações com “A dialética do senhor e do escravo”, na verdade, essa é a instância em que eu não queria nem supor o que queria fazer nada. Talvez Karl Marx que podemos considerar seu pensamento, de certa forma, como uma “filosofia do fim da filosofia”, a suposição que melhor cabe aqui é assinar a certidão de óbito da razão.

Em suma, entre várias hipóteses que considero ser, o que eu queria ser é eu mesmo na minha simples existência.

Sei o que fiz, tento compreender o que estou fazendo, mas não posso prever o que vou fazer. Vou sendo, por estar sendo. Minha identidade é fruto de uma formação histórica, os meus valores são reflexos das minhas crenças. Não creio que exista alguém igual a mim, e não sou igual a ninguém. Nas mesmas condições não creio que alguém faria o que faço, nem eu faria o que os outros fazem nas suas condições concretas. Se disse que faria algo no lugar do outro, em condições que desconheço, desconsidere, é mera suposição ingênua e sem cabimento.



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