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UM DEVANEIO FILOSÓFICO
Rodrigo Luiz Cunha Gonsalves
Inicio a suposição de como dar-se-ia a minha aula dos sonhos retratando-me, pois, primeiramente devo alertar acerca das esferas cintilantes que se fazem presentes a minha paisagem, que são a mim inerentes e que são próprias ao que instiga meu olhar. Para que estas apontem suas validades em si mesmas por clamarem sobre esta proposta como uma das aberturas que nos suscita a busca por um “ir além”, de forma muito particular e pertinente ao caráter filosófico comum à possibilidade de sonhar com este ideal de aula. Tomo estas esferas cintilantes como germes do esclarecimento em detrimento a uma dialética, como pequenos florescimentos de um devir intrínseco ao saber e seus propósitos dentro da filosofia.
Quando nos permitimos aguçar nossos sentidos ao extremado do delírio, próprio de nossa imaginação, abrindo-nos ao ponto de aflorar o nosso desejo para dar conta desta proposta; suscita-se um prazer em embasar como está mesma aula se daria, ou vislumbra-se em um deleite filosófico próprio que sobrevoa aprofundando acerca do “como” esta aula seria, ou poderia ser. Extremando-se filosoficamente aos limites do questionamento, levando-nos ao espanto da formulação de que este exercício de conjecturas poderia ou não nos contar como está aula sonhada se daria. E mesmo se fosse possível defrontar este sonho em realidade, como este poderia nos contar sobre o que já não lhe cabe, sua relevância fundamental intrínseca da transmissão do conhecimento sonhada nos ajudaria para a realidade que enfrentemos? Ou, nos engana frente ao ponto severo destes sujeitos que aguardam à minha frente encarando-me?
Estes levantamentos são necessários, e creio que sonhar esta aula e dar asas ao idealismo faz renascer um ir além, pertinente à vida. Que nos distancia em partes, (“em partes”, pois como já disse anteriormente estas esferas condizem comigo, dentro de minhas perspectivas; mas que são fundamentalmente pertinentes por permitirem uma elucubração conjectural, embora particular, acerca da realidade que nós todos dividimos) da caminhada em direção ao último homem nietzschiano, do niilismo que se vê apontado em gerações humanas e das perspectivas críticas que as indústrias em geral, para manterem-se dentro da lógica do capital, fazem questão de devorar fazendo com que estas façam eventualmente parte de seu mecanismo do esvaziamento do sujeito.
A educação, os moldes estéticos, a relevância, a pertinência, a verdade, a unidade e o múltiplo, o próprio e o impróprio, o tempo, ... ; são inúmeros os temas que precisam e merecem serem debatidos e revisados sob a ótica filosófica. E sonho eu, que nesta possibilidade, neste sonho de aula, há um provável refreamento. Haverá uma calma, que clama pela e para sua naturalidade filosófica.
O meu sonhar ergue-se diante de tais raízes: - Entre a busca pela calma pertinente à filosofia e este ser-homem que defrontamos diariamente, com suas manias adaptativas próprias do seu enjaulamento artificial-consumista.
Como seria então, esta aula dos meus sonhos? Basicamente, esta já tem intrínseca ao particular do meu “sonhar” (como já explicitara anteriormente) um solo próprio que a retira muitas vezes de seu caráter onírico, para uma pertinência humana. E que, porém, se faz fazendo-se nesta pertinência; enxergando-se em um rememoramento para tocar novamente vossos pés contra o solo, sem necessariamente obrigá-los a fazê-lo abrindo assim ao possível deste sonhar e sua abertura. Pois, é pertinente ao meu fantasiar acerca desta aula, que esta se adentre à morada filosófica.
Não haveria como dar conta da totalidade desejante inerente aos meus sonhos em uma sala de aula, ou em qualquer aula; caso esta mesma, se encontra-se em alguma outra destas diminutas cisões positivistas que buscaram especificidade e perderam-se em si próprias, ou em anedotas artificiais do utilitarismo pragmático que nos recobre com a pressa da troca mercantil e seus mecanicismos “robotizantes”.
Curiosamente quando comecei a elaborar este relato acerca do meu sonho em uma sala de aula, em como sucederia minha aula; notei claramente como esta poderia recair sobre um pesadelo horrendo; em que a realidade nos diz e condiz muito com o simbolismo presente e recorrente de nossa jaula cultural industrializada. Porém, reconforta-me delimitar onde o meu sonho com certeza não está, pois encontrar esta condição negativa me propicia a busca pelo seu oposto. Perco-me caçando este outro lado, que me diz muito do que pertence ao não-dito. Que me conta muito sobre o que é deste movimento, da abertura, da verdade e centralidade, da qualidade e da realidade; de tudo aquilo que se faz presente na vida.
A obrigação de esta disciplina ser a filosofia se faz clara. Não haveria como não remeter a este solo. Constituiu-se em si filosoficamente este meu sonho, em argumentos sólidos que puxam meus pés contra o chão, e me suscitam saltar mais longinquamente que qualquer outro salto vão. Pois são por tais métodos que se compreendem os abismos, e o respeito próprio ao vazio da forma mais humana possível.
Dentro de um arcabouço bem ordenado de idéias, translúcidas em um discurso solidificado em uma argumentação. Cunha-se um germe esclarecido, que faz cintilar uma consciência pertinente de um ser lúcido que diz respeito à verdade, sem querer de forma alguma solidificá-la, que na pugna consigo mesma dá vida ao devir que nos espanta e nos tira do lugar, nos pondo em cheque diante de nossa realidade. Que por poder sempre nos derrubar, e fazer-nos nos bestificar seja pelo extremo do maravilhar-se seja pelo terror da atrocidade. Reconhece-se na capacitação de nos sensibilizar frente aos seus móbiles próprios, e às nossas construções que nos cercam.
Minha aula dos sonhos deve dar conta do que é próprio e pertinente à filosofia. Por sempre nos levar ao deparar-se com o que nos espanta e ao que nos desafia. Por possibilitar a liberdade própria da existencialidade e sua multiplicidade, permitindo com que haja estância comum aos que se espantam platonicamente, ou aristotelicamente, e ainda assim, se sintam também violentados como nos diz Deleuze, pela pertinência de nossa busca pelo saber através destes signos que caçamos como se fossemos “egiptólogos” em nossos significantes; fazendo que nos esforcemos para traduzi-los. Espaço filosoficamente comum e permissível para com que de forma contraria e não contraditória se possa permear dentro de um mesmo lugar próprio da voz à retirada da violência do conflito dialético como contribuí Jaspers e ainda assim, dentro de uma mesma possibilidade. O de um sonhar filosófico.
As aulas trazem com seus debates e as suas oposições, de forma elevada e interessante, todos estes aspectos filosóficos. Onde mergulhando todos aqueles presentes às profundezas destes abismos do conhecimento, nos faz voar para além de nós mesmos com os nossos espantos, que são manifestos em sorrisos de reconhecimento e orgulho embaraçado frente a este tombo que torna a nos engolir neste sentimento de vôo para além das barreiras deste possível na trama onírica de uma aula pautada na vida em sua pertinência filosófica. Em que todos contribuam nestes re-significantes sonhados, nesta vontade por esta minha aula e sintam-se impactados e impelidos a fazê-lo todos os possíveis debates e contestações nesta aula. E estes seriam alguns dos traços centrais e principais desta aula tão sonhada; e que ainda assim, se faria validada para a busca de um ir além necessário para a filosofia para todos os presentes habitantes deste nosso contexto.
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