Home | Links | Sobre


ALBERT CAMUS EM PORTUGUÊS PÁGINA DE DIVULGAÇÃO E ESTUDO DA OBRA DO ESCRITOR E FILÓSOFO ARGELINO ALBERT CAMUS

REGRESSO A TIPASA
Albert Camus



Navegaste com ânimo impetuoso para longe da morada paterna. Transpondo os duplos rochedos do mar e, agora, habitas uma terra estranha.
Medeia

Há cinco dias, uma chuva sem trégua caía sobre Argel, terminando por molhar até o próprio mar. Do alto de um céu que parecia inesgotável, aguaceiros incessantes, viscosos de tanta espessura, desabavam sobre o golfo. Cinzento e flácido como esponja enorme, o mar ia-se intumescendo na baía sem contornos. Entretanto, a superfície das águas parecia quase imóvel sob a chuva constante. Apenas de longe em longe um imperceptível e amplo movimento fazia alçar-se por cima do mar um vapor turvo, que vinha até o porto, toldando e envolvendo as avenidas malhadas. De Argel, com a umidade a emanar de todas as paredes brancas, também exalava-se outra espécie de vapor aquoso que ia ao encontro do primeiro. Então, qualquer que fosse o lado para onde se virasse, tinha-se a sensação de respirar água e de que se podia beber o próprio ar.

Diante do mar afogado, caminhava e esperava nessa Argel que continuava sendo para mim a cidade dos verões. Viera, fugindo da tristeza européia, como inverno a refletir-se em todos os rostos. No entanto, a cidade dos verões também se esvaziara de seus costumeiros risos e, em troca, oferecia-me dorsos recurvados e reluzentes de chuva. Á noite, nos bares violentamente iluminados, onde me ia refugiar, lia minha idade nas fisionomias que reconhecia, sem conseguir, porém, associar os nomes aos seus donos. Lembrava-me somente de que haviam sido moços quando eu também o fora, e já não o eram.

Apesar de tudo, obstinava-me naquela espera,sem saber exatamente o que estava aguardando, a não ser que fosse talvez o momento de rever Tipasa. Não resta a menor dúvida de que é loucura imensa, quase sempre punida, regressar aos lugares onde se passou a juventude, no desejo de reviver aos quarenta anos de idade tudo aquilo que se amou ou se gozou intensamente aos vinte. Noutra ocasião, já me haviam prevenido contra essa loucura. Da primeira vez,voltara a Tipasa pouco tempo depois dos anos da guerra que, no meu caso, se tinham tornado o marco final da juventude. Voltara, talvez na esperança de reencontrar uma liberdade cuja lembrança me acompanhava sempre. Pois nesse lugar, efetivamente, há mais de vinte anos, passara manhãs inteiras a vagar entre as ruínas, aspirando o perfume dos absintos, recostando-me ao calor das pedras, descobrindo as rosas pequeninas, que tão depressa se despetalavam, únicas sobreviventes da primavera. E só ao meio-dia, hora em que até as cigarras se calavam fatigadas, afastava-me dali apressadamente ante a ávida rutilância de uma luz que tudo devorava. Havia noite sem que dormia com os olhos abertos sob um céu rebentando de estrelas. Nesses momentos, sentia-me vivo. Quinze anos depois, voltei para reencontrar minhas ruínas, a poucos passos das primeiras vagas; segui as ruas da cidade esquecida; atravessei os campos cobertos de árvores amargas e, sobre as encostas que dominam a baía, pude ainda acariciar as colunas cor de trigo. Agora, porém, as ruínas estavam cercadas de arames farpados; para transpô-los, precisava estar munido de um bilhete carimbado com autorização especial. Também estavam proibidos (ao que tudo indica, por motivos aprovados pela moral) os passeios noturnos pelo recinto; durante o dia, encentrava-se sempre, montando guarda, um vigia juramentado. Naquela manhã, certamente por mero 'acaso, chovia sobre toda a extensão das ruínas.

Desorientado, caminhando pelo campo ermo e úmido, tentava reencontrar ao menos a força, fiel até,aquele preciso instante, que sempre me ajudara a aceitar as coisas como são, quando reconheço não ser capaz de mudá-las. Na realidade, entretanto, era-me impossível refazer o curso de um tempo já passado, restituir ao mundo o rosto que eu amara e que desaparecera, num certo dia, muitos anos antes. Em 2 de setembro de 1939, efetivamente, não partira para a Grécia, que era o que deveria ter feito. A guerra de desforra chegara até nós e, mais tarde,estendera-se pela própria Grécia. Essa distância, esses anos que se interpunham entre as ruínas cálidas e os arames farpados, foram os mesmos que reencontrei em mim, naquele dia, diante dos sarcófagos cheios de água escura e sob as tamareiras encharcadas. Educado desde o início no espetáculo do belo, que era a minha única riqueza, eu começara pela plenitude. Mais tarde, vieram os arames farpados, isto é, as tiranias, a guerra, as polícias, o tempo da sublevação. Fora necessário ajustar-se às regras estabelecidas pela noite: a beleza do dia era apenas uma recordação. E agora, nessa Tipasa coberta de lama,.até mesmo essa lembrança se toldava. E eram justamente a beleza, a plenitude ou a juventude que eu procurava evocar! Sob o clarão dos incêndios, o mundo deixara repentinamente à mostra suas rugas e cicatrizes, antigas e recentes. Envelhecera de um só golpe, sem transição, como nós. Bem sabia eu que a sensação de arrebatamento cuja busca me trouxera até aqui, subleva apenas aquele que ignora estar prestes a abalançar-se sobre algo. Ausência total de amor, nem um pouco de inocência. Onde estaria a inocência? Os impérios desmoronavam, as nações e os homens mordiam-se uns aos outros com truculência; nossas bocas estavam enxovalhadas. A princípio inocentes sem que o soubéssemos, éramos agora involuntariamente culpados: o mistério aumentava na mesma medida em que crescia nosso conhecimento. Por isso nos ocupávamos com a moral, ó derrisão! Enfermo, sonhava com a virtude! No tempo da inocência, ignorava que a moral existisse. Hoje o sabia, mas não era capaz de viver à sua altura. Sobre o promontório que antigamente amara, entre as colunas molhadas do templo destruído, parecia-me estar caminhando atrás de alguém, cujos passos continuava a ouvir sobre as lousas e os mosaicos, mas por quem jamais tornaria a esperar. Voltei a Paris, ali permanecendo durante alguns anos, antes de regressar novamente à minha terra.

No entanto, durante todos esses anos, sentia obscura e constantemente a carência de alguma coisa. Se nos foi dada, embora numa só vez, a oportunidade de amar intensamente, passamos o resto da vida à procura de uma renovação desse mesmo ardor e dessa mesma luz. A renúncia à beleza - e ao sensual bem-estar que lhe é intimamente ligado – e a servidão exclusiva à infelicidade exigem ambas uma grandeza que me falta. Mas, afinal, nada existe de verdadeiro que não nos obrigue à exceção. A beleza isolada. termina por tornar-se exagerada, assim como a justiça solitária acaba por oprimir. Aquele que pretender servir a uma pela exclusão da outra, não serve a ninguém, nem a si próprio; e, finalmente, serve duplamente à injustiça. Chega-se então a um ponto tal que, à força de tanta rigidez, nada mais nos produz encantamento, tudo é conhecido e passa se a vida a recomeçar. Ê o tempo do exílio, das vidas estioladas, das almas mortas. Para reviver, necessitasse um estado de graça, o esquecimento de si mesmo ou uma pátria. Em certas manhãs, ao dobrar a esquina de uma rua qualquer, um orvalho delicioso tomba sobre nosso coração e depois se evapora. Mas a sensação de seu frescor continua perdurando. E é ela que o coração exige sempre. Foi preciso que eu partisse de novo.

E, em Argel, pela segunda vez, caminhando sob a mesma chuvarada que parecia não ter cessado ainda desde aquela outra partida (definitiva, como então a considerara), imerso na imensa melancolia com gosto de chuva e de mar, apesar do céu feito de brumas, dos dorsos a fugirem do aguaceiro, dos bares cuja iluminação sulfurosa desfigurava as fisionomias, eu teimava em minha espera. Além disso,acaso não sabia que as chuvas de Argel, apesar da impressão que nos dão de serem infindáveis, costumam parar subitamente, de um instante a outro, tal como os rios de meu país que se enchem em duas horas, devastando vários hectares de terra e que, dechofre, estancam? Certa tarde, como era de prever, a chuva parou. Esperei ainda mais uma noite. No dia seguinte, uma alvorada líquida emergiu deslumbrante sobre a pureza do mar. Do céu, úmido como um olho, lavado e relavado pelas águas, restituído por aquelas sucessivas barrelas à sua mais perfeita e diáfana textura, baixava uma luz vibrante que ia conferindo a cada casa, a cada árvore, um contorno definido, uma assombrosa renovação. A terra, nos alvores do mundo, deve ter surgido envolta por esse mesmo resplendor. Uma vez mais retomei o caminho de Tipasa.

Para mim, não há um só desses sessenta e nove quilômetros de estrada que não esteja recoberto de lembranças e de sensações. A infância violenta, os devaneios adolescentes ao ronronar do carro, as manhãs, as moças viçosas, as praias, os músculos jovens sempre retesados no auge de sua pujança, a suave angústia do entardecer num coração de dezesseis anos, o desejo de viver, a glória, e sempre o mesmo céu ao longo do tempo, inesgotável de força e de luz, ele próprio insaciável, devorando uma a uma, com o passar dos meses, as vítimas que se lhe ofereciam, crucificadas sobre a areia, na hora fúnebre do meio-dia. Assim também o mar, sempre o mesmo, quase impalpável pela manhã, e que tornei a encontrar no fim do horizonte, a partir do momento em que a estrada, afastando-se do Sahel e de suas colinas plantadas de videiras cor de bronze, começou a descer em direção à costa. Não me detive, porém, a contemplá-lo. Ansiava rever o Chenoua. Essa pesada e sólida montanha, recortada num só bloco, que se estende ao longo da baía de Tipasa a oeste para depois descer e penetrar no mar. Pode-se divisá-la a grande distância, muito antes de chegar, eflúvio azul e tênue que se mistura com o céu. Pouco a pouco, porém, vai-se condensando, à medida que se avança em sua direção, até adquirir a tonalidade das águas que a circundam, imensa vaga imóvel cujo prodigioso impulso parece ter sido brutalmente paralisado por cima do mar, de repente acalmado. Mais perto ainda, quase às portas de Tipasa, eis que surge sua massa sobranceira, eis o velho deus recoberto de musgo que nada abalará, refúgio e porto para seus filhos, entre os quais me encontro.

A contemplá-la, transponho finalmente os arames farpados e estou de novo no meio das ruínas. E aqui, sob a luz gloriosa de dezembro, tal como acontece apenas uma ou duas vezes em certas existências (que, após esse instante, podem considerar-se realizadas por completo), reencontrei precisamente aquilo que viera buscar e que, apesar do tempo e do mundo, me estava sendo oferecido e, em verdade, só a mim, nessa natureza deserta. Do foro juncado de oliveiras, vislumbrava-se o povoado a contrabaixo. Nenhum ruído ali chegava: tênues fumaças subiam através da limpidez do ar. Também o mar se calava, como se estivesse sufocado sob a ducha ininterrupta de uma luz cintilante e fria. Das bandas do Chenoua, um longínquo canto de galo celebrava solitário a frágil glória do dia. Do lado das ruínas, tão longe quanto a vista nos permitia discernir, viam-se apenas pedras erodidas pelo granizo e os absintos, árvores e colinas perfeitas na transparência do ar cristalino. Tinha-se a impressão de que a manhã se tornara fixa e de que o sol parara durante um instante incalculável. Nessa luz e nesse silêncio, anos e anos de furores e tristezas se dissolviam pouco a pouco. Ouvia dentro de mim um rumor quase esquecido, como se meu coração, parado há tanto tempo, recomeçasse a bater suavemente. E agora, desperto, eu ia reconhecendo, um após outro, os imperceptíveis ruídos de que era feito aquele silêncio: o baixo-contínuo dos pássaros, os leves e fugazes suspiros do mar, ao pé dos rochedos, a vibração das árvores, o obscuro cântico das colunas, as roçaduras dos absintos, os lagartos furtivos. Escutava tudo aquilo, ouvindo também as ondas de felicidade crescerem em mim. Pare­cia-me ter finalmente chegado ao porto, por um instante que fosse, e que esse instante a partir de então jamais acabaria. Entretanto, pouco depois o sol visivelmente subiu um grau no céu-. Um melro entoou um breve prelúdio e, logo a seguir, provenientes de toda a parte, cantos de pássaros começaram a explodir com uma força, um júbilo, uma alegre discordância e um encantamento infinitos! O dia retomou seu curso. Deixar-me-ia levar por ele até o cair da tarde.

Ao meio-dia, sobre as encostas semicobertas de areia e heliotrópios, como uma espécie de espuma ali deixada pelo escoar das vagas furiosas daqueles últimos dias" eu contemplava o mar que, nessa hora, se erguia imperceptivelmente num movimento cansado,e saciava as duas sedes que ninguém pode enganar por muito tempo, sem que nosso ser se estiole - a sede de amar e a de admirar. Porque não ser amado é apenas questão de pouca sorte; mas não ser capaz de amar é uma desgraça. Todos nós, atualmente,morremos dessa desgraça. Isso porque o sangue e os ódios descarnam o próprio coração; a longa reivindicação da justiça esgota o amor que, no entanto, foi o que lhe deu origem. No clamor em que vivemos, o amor é impossível e a justiça não basta. Essa é a razão pela qual a Europa odeia o dia e não sabe senão opor a injustiça a si própria. Contudo, a fim de impedir que a justiça se endureça, belo fruto cor de laranja que nada contém a não ser uma polpa amarga e..seca, descobri novamente em Tipasa que há que quedado intactos, dentro de si, um frescor, uma fonte de alegria, saber amar o dia que escapa à injustiça e depois, uma vez conquistada essa luz, retornar ao combate. Aqui reencontrei a beleza antiga, um céu jovem, e avaliei minha boa sorte, compreendendo,enfim, que nos piores anos de nossa loucura a lembrança desse céu jamais me abandonara. No final de contas, fora justamente essa lembrança que me impedira de desesperar. Sempre soubera que as ruínas de Tipasa eram mais jovens que nossos canteiros de obras ou nossos escombros. Ali, o mundo recomeçava todos os dias numa luz sempre nova. Õ luz!- é o brado que lançam todos os personagens dos antigos dramas, quando colocados diante de seu destino. Esse último recurso era também o nosso e,agora, eu o sabia. Em pleno inverno, aprendia por fim que existia em meu ser um verão invencível.

Uma vez mais, tornei a sair de Tipasa para ir ao encontro da Europa e de suas lutas. Mas a recordação daquele dia ainda me serve de alento, ajudando-me a aceitar com idêntico ânimo as coisas que nos arrebatam e as que nos abatem. No momento difícil em que estamos, que outra coisa posso desejar senão que nada seja excluído e que aprendamos a trançar o fio branco junto ao fio negro numa mesma corda retesada, prestes a romper-se? Em tudo aquilo que fiz ou disse até agora, parece-me reconhecer bastante bem essas duas forças, mesmo quando se centrariam. Não pude abjurar da luz onde nasci e, no entanto, não quis recusar as servidões desta época. Seria fácil demais pôr em confronto aqui ao doce nome de Tipasa outros nomes, mais sonoros e mais cruéis; para os homens de hoje existe um caminho interior que conheço bem, por tê-lo percorrido em seus dois sentidos: o caminho que vai das colinas do espírito às capitais do crime. E, certamente, podemos sempre descansar, adormecer sobre a colina ou, então, fazer do crime nossa morada habitual. Mas, a partir do momento em que renunciarmos a uma parcela daquilo que é, é necessário que renunciemos,nós mesmos, a .ser. Portanto, é necessário renunciar a viver ou a amar de uma outra maneira que não seja por procuração. Assim, existe uma vontade de viver sem nada recusar da vida que é a virtude que mais aprecio no mundo. De tempos em tempos, pelo menos, é verdade que eu gostaria de tê-la exercido. U ma vez que poucas épocas exigem tanto como a nossa que nos tornemos iguais ao melhor ou ao pior, gostaria justamente de não eludir nada e conservar exata uma dupla memória. Sim, existe a beleza e existem os humilhados. Quaisquer que sejam as dificuldades dessa tarefa, jamais desejaria ser infiel quer à primeira, quer aos últimos.

Mas ainda isso tem certa semelhança a uma moral; e nós vivemos para alguma coisa cujo alcance é muito mais amplo do que a moral. Se pudéssemos defini-Ia, que silêncio! Sobre a colina de Santa Salsa, a leste de Tipasa, a tarde está habitada. Na realidade, ainda não escureceu de todo, mas na luz um desfalecimento invisível começa a anunciar que o dia chega ao fim. Eleva-se uma brisa tênue como a noite e, súbito, o mar sem ondas toma certo rumo e desliza, como grande rio infecundo, de um extremo a outro do horizonte. O céu escurece. Então começa o mistério. os deuses da noite, muito além do prazer. De que maneira traduzir tal sensação? A pequenina moeda que levo daqui possui uma face visível, belo rosto de mulher que me repete tudo aquilo que aprendi, no decorrer do dia, e uma outra face corroída cuja superfície sinto sob os dedos durante o regresso. Que pode dizer essa boca sem lábios senão o mesmo que ouço de outra voz misteriosa, falando dentro de mim, a ensinar-me diariamente minha ignorância e minha felicidade:

"O segredo que procuro descobrir está enterrado num vale de oliveiras, sob a relva e as violetas frias, em volta de uma velha casa que cheira a vide.Durante mais de vinte anos, tenho percorrido este vale e todos os que se lhe assemelham, interrogando cabreiros mudos, batendo à porta de ruínas desabitadas. Por vezes, ao nascer da primeira estrela no céu ainda claro, sob uma chuva de luz sutil, acreditei que sabia. Em verdade, sabia. Talvez eu saiba sempre. Mas ninguém deseja possuir esse segredo, nem mesmo eu, sem dúvida; e não posso separar-me dos meus próprios segredos. Vivo em minha família que crê reinar sobre cidades rica... e medonhas, construídas de pedras e brumas. Noite e dia, ela fala alto, e tudo se inclina diante dela, que não se inclina diante de nada: surda a todos os segredos. Seu domínio, que me arrasta, aborrece-me no entanto; e, às vezes, acontece que seus gritos me cansam. Porém, sua infelicidade é também a minha, somos do mesmo sangue. Igualmente enfermo, cúmplice e ruidoso, acaso não lancei meus gritos por entre as pedras? Também eu esforço-me por esquecer, caminho através de nossas cidades de ferro e fogo, sorrio corajosamente à tristeza, chamo ao longe as tempestades, serei fiel. Em verdade esqueci: sou ativo e surdo a partir desse momento. Mas um dia talvez, quando estivermos prestes a morrer de esgotarem e ignorância, eu possa renunciar aos nossos túmulos espalhafatosos para ir deitar-me no vale sob a mesma luz, e possa aprender pela última vez aquilo que sei.

[1952]









© 1996 - ALBERT CAMUS EM PORTUGUÊS - Todos os direitos reservados ALBERT CAMUS EM PORTUGUÊS - PÁGINA DE DIVULGAÇÃO E ESTUDO DA OBRA DO ESCRITOR E FILÓSOFO ARGELINO ALBERT CAMUS