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ALBERT CAMUS EM PORTUGUÊS PÁGINA DE DIVULGAÇÃO E ESTUDO DA OBRA DO ESCRITOR E FILÓSOFO ARGELINO ALBERT CAMUS

DA FRANÇA À AMÉRICA
Albert Camus viaja pela alegria e loucura brasileira
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MARCELO REZENDE
FOLHA ILUSTRADA

São Paulo, sábado, 22 de março de 1997.

O escritor argelino Albert Camus, de sua primeira impressão do Brasil, ao ver a costa e as montanhas do Rio de Janeiro, em 15 de julho de 1949, escreve que ``a natureza tem horror aos milagres longos demais''. Esse seu momento de êxtase com a beleza -que será seguido de espanto, tédio ou horror com o país- estão em ``Diário de Viagem'', textos escritos durante sua passagem pela América (do Norte e do Sul), que a Record relança agora no mercado.

As lembranças de um Camus viajante fazem parte do projeto da editora em republicar -com a revisão de todas as traduções- a obra do escritor, dramaturgo, filósofo e, talvez como parte essencial de todas essas qualificações, combatente autor do romance ``O Estrangeiro'' (1942). Albert Camus cumpriu o papel de embaixador da cultura francesa um ano depois do fim da Segunda Guerra (1939-1945).

Aos 33 anos, estava ainda distante da unanimidade que conseguiria nas décadas seguintes, coroada com o Prêmio Nobel de Literatura, em 1957. Vivia em depressão e imaginava que novos cenários poderiam ser um alívio. Ambicionava ver o mundo em contraplano. Sua primeira decepção acontece quando entra no navio que o levará até os EUA. Descobre-se em um cargueiro adaptado. O camarote para quatro pessoas recebe cinco: ``É impossível respirar sem derrubar algo'', escreve.

O diário passa a funcionar como um reservatório de suas mesquinhezas e reclamações. Camus se incomoda com os banheiros, o vizinho inconveniente porque ridículo ou a falta de gentileza no ar. Consegue distrair-se lendo ``Guerra e Paz'' e amando um dos personagens do romance de Tolstói: ``Como teria me apaixonado por Natacha!'' A Nova York surge pela primeira vez com um misto de espanto e gigantismo opressivo, precedido de uma experiência infeliz no departamento de imigração. Camus é retido por mais tempo que os outros turistas e viajantes.

Recebe um pedido de desculpas e uma explicação. O funcionário diz que foi obrigado a isso, mas não pode explicar os motivos. O país parece desconfiar de Camus tanto quanto ele desconfia dos EUA. Retorna para a França em maio do mesmo ano. Leva do cenário a recordação de uma fartura violenta e a sensação de que Manhattan é ``um deserto de ferro e cimento''.

Três anos depois é a vez dos vizinhos menos afortunados. Viaja pelo Sul do continente e descobre no sol do Brasil traços de Oran, pobre cidade argelina onde nasceu.

Albert Camus, no Rio ou em São Paulo, é quase uma estrela de cinema ou um cantor de rádio.

O alcance não é popular, mas os intelectuais que conhece em sua passagem não escondem o encantamento com a oportunidade. É levado a rodas de samba, palestras e uma macumba.

Seu olhar é o de um antropólogo. Não entende por que sempre atrai as damas da sociedade e vê no trânsito uma oportunidade para uma metáfora: ``Os motoristas brasileiros ou são alegres loucos ou frios e sádicos. A confusão e a anarquia só são compensadas por uma lei: chegar primeiro, custe o que custar".

Fonte: Camus, Albert. Estado de Sitio; O estrangeiro.
São Paulo: em Abril as Cultural. ca 1979









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