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O filósofo teen
Biografia dá a dimensão certa de Albert
Camus: um bom autor para jovens


Mirian Paglia Costa

Revista Veja 18/11/98

Dizem que jovem não lê. Desconsideradas as horas que passa fazendo isso diante do computador, aceitemos que é verdade. Cabe perguntar, no entanto, se existem mesmo tantos livros essenciais à juventude, capazes de dialogar com a rapaziada de igual para igual, com seus sonhos, loucuras e tormentos. Muita gente procura fabricá-los, mas de maneira tão calculada que dificilmente falam à alma, ao coração. Essa era uma especialidade do francês Albert Camus (1913-1960), prêmio Nobel de Literatura de 1957. Camus não foi um grande pensador, como às vezes sugerem que ele tenha sido. Mas foi um inigualável autor para jovens, por representar como ninguém as mais belas características da juventude: a pureza dos ideais e a paixão por plantá-los no mundo real.

Um provérbio cínico diz que todo homem é incendiário na juventude e bombeiro na idade adulta. Camus foi um incendiário pela vida inteira e aí está o trabalho de Olivier Todd, Albert Camus: Uma Vida (tradução de Monica Stahel; editora Record; 877 páginas; 60 reais), para prová-lo. Nascido pobre na Argélia ainda francesa, Camus só não foi operário, como o irmão, porque conseguiu bolsas de estudo. Formado em filosofia em Argel, a tuberculose o impediu de seguir carreira universitária e comprometeu seus sonhos épicos: ele não pegou em armas na guerra civil da Espanha, na II Guerra, nem na Resistência aos nazistas. Participou desses eventos em missões civis ou como jornalista. E até o fim da vida, amargando a hostilidade de antigos amigos, nunca arredou pé de sua crença na liberdade do homem.

Muita coisa mudou de lá para cá, está claro. A URSS virou uma referência histórica tão remota quanto o império austro-húngaro, e maoístas apostam no livre mercado. Contra esse pano de fundo, parece intransponível a distância que nos separa do tempo em que Camus se dilacerava pregando seu humanismo sem Deus, tentando ser gauche sem rezar pelo catecismo soviético e defendendo igualmente árabes e franceses da Argélia, contra direita e esquerda que preferiam resolver o problema com bombas e atentados. É pouco provável que nossos jovens se interessem por essa trama política antiga. Além do mais, a leitura exige dose superior de paciência. Agravado por uma tradução dura, o texto da biografia é longo, cobre situações complexas sem situar muitos detalhes. Mas nada consegue abafar Camus, sua aura de herói atormentado, sua paixão pelo jornalismo, pelo teatro e pelas mulheres, sua coragem de pagar o preço por "estar certo antes do tempo".

Ensaio comovente — Além disso, pela rica documentação inédita que Todd juntou sobre seu herói, o livro constitui uma fonte de consulta permanente para quem lê qualquer obra de Camus — seja A Peste, O Mito de Sísifo ou o excelente A Inteligência e o Cadafalso (tradução de Manuel da Costa Pinto e Cristina Murachco; editora Record; 140 páginas; 17 reais), lançamento que reúne a crítica literária do escritor. Aqui, sim, se encontrará sua prosa preciosa, a serviço de uma leitura muito particular — porque determinada por seus conceitos de criação literária. O ensaio sobre Oscar Wilde é comovente, atestando a que ponto Camus se identifica com o dândi irlandês que não teve medo de afirmar sua homossexulidade. Uma vez, Camus disse que felicidade era fazer a vida coincidir com as idéias. O mal pior? "Privado do direito de dizer não, o homem torna-se um escravo." Todo jovem diz isso em cada mínimo ato de rebeldia e permanecerá camusiano enquanto a revolta durar.

Fonte: Camus, Albert. Estado de Sitio; O estrangeiro.
São Paulo: em Abril as Cultural. ca 1979









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