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A ESSÊNCIA DO CATOLICISMO, DO LIVRO DO SENTIMENTO TRÁGICO DA VIDA DE MIGUEL DE UNAMUNO.


Leandro de Queiroz Albuquerque


É aluno do Curso de Filosofia da Faculdade de Filosofia São Bento (São Paulo). Nasceu em São Paulo, em 12 de setembro de 1989. Em 2005 ingressou no seminário menor de São Francisco de Paula em Guarapuava – Pr, onde passou três anos terminando o ensino médio. Em 2008 ingressou no seminário maior em São Paulo onde atualmente está, terminando a filosofia, para no ano de 2010 ingressar nos estudos teológicos. (seminaristaleandroqueiroz@hotmail.com)



Introdução

A essência do catolicismo, do capitulo IV, do livro de Miguel de Unamuno. Do sentimento trágico da vida, que foi escrito em 1913. Tem como objetivo mostrar o caminho Cristão da ressurreição em Cristo. Este capítulo é bem especifico no campo religioso filosófico, com as passagens históricas da vida salvifica do cristão católico.

O cristianismo nascente tem com líder e fundador o próprio Filho de Deus, que a tradição diz que seu nascimento se deu no dia 25 do mês de dezembro, do século IV.

Mas com não temos fatos cientifico da data do nascimento, temos essa aporia em relação à data do seu nascimento.

Do cristianismo primitivo ate os dias de hoje, temos na tradição a ressurreição do homem, em relação com o desprendimento da vida terrena, para viver a vida eterna. Mas com um alimento material e espiritual, que o próprio Cristo deixou para levar a sua Igreja no caminho da salvação, com o alimento da alma, que é a Eucaristia. Cristo presente no pão eucarístico e no vinho consagrado, pelo poder da transubstanciação dada no sacrifício da missa.

A influência de Unamuno, em relação a essa ânsia de imortalidade, remete-nos a uma busca incessante de vida eterna, que no cristianismo se encontra no “pão da vida”, que é o próprio Jesus.


O problema vital íntimo, a fome de imortalidade

Vejamos a solução e a demonstração cristã católica, pauliniana ou atanasiana, de nosso problema vital íntimo, a fome de imortalidade. Que é o ponto central do cristianismo, que é a vida eterna. [Unamuno de, Miguel, 1996, p. 57.]

O marco fundamental da origem do cristianismo refere-se ao nascimento e vida pública de Jesus Cristo, que não temos dadas certas. A esse respeito, Mateus diz que Jesus (filho de Maria, que Deus predestinou a ser mãe do verbo encarnado, para formar-lhe um corpo. Deus quis a livre cooperação de uma criatura. Por isso, desde toda a eternidade, Deus escolheu, para ser a Mãe de seu filho, uma filha de Israel, uma jovem judia de Nazaré na Galileia, “uma virgem desposada com o varão chamado José, da casa de Davi, e o nome da virgem era Maria” (Lc 1,26-27). nasceu “no tempo de Herodes” (Mt 2,1), e Lucas, que o evento se verificou durante o censo realizado “enquanto Quirino era governador da Síria” (Lc 2,2). As indicações, como se vê, são muito vagas, devem ser completadas com informações oferecidas por outros autores. Quando a Herodes, o escritor hebreu Flávio Josefo afirma que ele morreu antes da Páscoa (= 11 de abril) do ano 750 da fundação de Roma. Deve deduzir, então, que o nascimento de Jesus, ocorrido muito antes da morte de Herodes, verificou-se necessariamente antes de 750, e que Dionísio, o Pequeno, estabelecendo o ano do nascimento em 753 da fundação de Roma, errou em três anos: Cristo, então, nasceu ao menos três anos... antes de Cristo. Pelo menos três anos, mas provavelmente também não mais do que sete anos. De fato, o censo a que Lucas se refere deve ter sido, conforme indicam os dados arqueológicos, o segundo convocado por Augusto, promulgado no ano 746 da fundação de Roma. Pode-se concluir, pois, que Jesus nasceu depois do ano 746 e antes de 750 “ab Urbe condita”. [Pierini, Franco, 1931, p. 43]

Quanto ao dia do nascimento de Cristo, a data de 25 de dezembro (ou 7 de janeiro, segundo o calendário Juliano, em uso nas igrejas orientais) nem entra em questão, porque, como se sabe, trata-se de uma data litúrgica, introduzida no séc. IV para substituir as festas pagãs do solstício de inverno.

Já o início da vida pública de Jesus deu-se após o batismo no rio Jordão, por João Batista (filho de Isabel e Zacarias e primo de Jesus). Jesus tinha 30 anos, quando saiu para pregar o reino do céu e a vida eterna. Chamou doze discípulos que o seguiram. Sua morte deu-se na sexta-feira da paixão. Pois era a festa judaica ia do pôr-do-sol do dia 14 ao pôr-do-sol do dia 15 do mês de Nisan, que correspondia a uma parte dos nossos meses de março e abril. Daí que o cristianismo teve seu triunfo com a ressurreição do mestre Jesus que abril a porta do reino dos mortos a inaugurou a vida eterna. Com isso que a doutrina do cristianismo baseia-se na crença de que todo o ser humano é eterno, a exemplo de cristo, que ressuscitou após sua morte. A fé cristã ensina que a vida presente é uma caminhada e que a morte é uma passagem para uma vida eterna e feliz para todos os que seguirem os ensinamentos de Cristo.

O cristianismo brotou da confluência de duas grandes correntes espirituais, uma judaica e outra helênica, que antes se haviam influído mutuamente, e Roma acabou de dar-lhe cunho prático e permanência social. [Unamuno de, Miguel, 1996, p. 57.]

Tendo Javé, o Deus judaico, começou sendo um deus dentre muitos outros, o deus do povo de Israel, revelado entre o fragor da tormenta no monte Sinal. Mas era tão ciumento, que exigia que só prestassem culto a ele, e foi pelo monocultismo que os judeus chegaram ao monoteísmo. E a fé no Deus pessoal, no pai dos homens, trás consigo a fé na eternização do homem individual, prenunciada no fariseísmo mesmo antes de cristo.

Já a cultura helênica, por sua vez, acabou descobrindo a morte, e descobrindo a morte é descobrir a fome de imortalidade. Esse anseio não aparece nos poemas homéricos, que não são coisa inicial, mas afinal, não o ponto de partida, mas o término de uma de uma civilização. Eles marcam a passagem da velha religião da natureza, a de Zeus, à religião mais espiritual de Apolo, a da redenção. Mas, no fundo, persistia sempre a religião popular e íntima dos mistérios eleusinos, o culto das almas e dos antepassados. [Unamuno de, Miguel, 1996, p. 56.]

Mas a característica do cristianismo como também os muçulmanos e os judeus têm uma marca central, que são três religiões com a tradição abraâmicas que é o monoteísmo, tendo um só Deus, criador e todo poderoso.

“O monoteísmo cristão tem uma origem dupla: bíblica e helênica. A primeira é evidente e remota às primeiras palavras do Gênese; poderá surpreender que se acrescente a esta origem outra independente da revelação, nem sequer religiosa; pórem o caráter teológico da religião cristã vinculou-a desde seu começo a conceitos cuja procedência é a filosofia helênica.” [ Marías, Julián, 2000, p. 25.]

O marco central do cristianismo é a ressurreição de Cristo, que os evangelistas narram em seus escritos evangélicos. Podemos encontrar em Lucas no capítulo 24 inteiro. Segundo o evangelista São Lucas, algumas mulheres, que acompanharam Jesus em vida, no domingo foram até o túmulo para prepararem, como era costume, o funeral judaico envolvendo o seu corpo com aromas e bálsamo, pois não o puderam fazer no sábado, que era guardado pelos judeus como um dia de repouso. Ao chegarem pela manhã daquele domingo ao túmulo, encontraram-no aberto e com a pedra removida. Espantadas entraram, mas não encontraram o corpo de Jesus. Apareceram então dois anjos, que lhe disseram:

“Porque buscais entres os mortos aquele que está vivo? Não está aqui, mas ressuscitou. Lembrai-vos de como eles vos disse quando ainda estava na Galiléia: o filho do homem deve ser entregue nas mãos dos pecadores e ser crucificado, mas ressuscitará ao terceiro dia. Então elas se lembraram das palavras de Jesus”. (Lc 24,5-8)

Com esse fato histórico da história da salvação, que temos a certeza da ressurreição dos mortos. Pois o cordeiro imolado, abriu as portas do paraíso, para viver segundo com a alegria da eterna morada. Com isso que temos o fato da ressurreição do verbo de Deus, que se fez homem e habitou entre nós.

A certeza da ressurreição de Jesus é o fundamento de nossa fé cristã, e se dela duvidarmos, ou pior ainda, se nela não acreditarmos, então não há sentido nenhum nos identificarmos como cristão, que significa, entre tantas outras coisas, sermos herdeiros da ressurreição iniciada com o próprio Cristo, o primeiro a ressuscitar dentre os mortos. (Por isso que Unamuno, com a sede de imortalidade, teve em sua vida esse grande ideal, de viver para sempre. Pois, ele queria ter tudo àquilo que ele tinha, que durante sua vida conseguiu: mulher, filhos, e profissão de reitor da universidade de Salamarca na Espanha. Mas essa vontade de viver para sempre, não era de ressurreição, pois ele não queria morrer, ele só queria viver com seu corpo, alma e memória. Ao contrário da ressurreição que Cristo veio nos dar.)

Afirmou-se do cristianismo primitivo que depois da definitiva glorificação de Jesus ao céu, que se deu o nascimento da comunidade de Jerusalém, composta, como afirma Lucas em At 1,15, de cento e vinte pessoas; nasce a comunidade cristã primitiva propriamente dita, situada não só em Jerusalém mas também em outras localidades da Palestina, pois o cristo ressuscitado aparece em mais lugares, como em Emaús (Mc 16,12; Lc 24,13), no lago de Tiberiades (Jo 21,1-22). Com essas comunidades primitivas, que talvez com a precipitação, que foi anescatológico, que nele não aparece claramente a fé em outra vida depois da morte, mas sim num próximo fim do mundo e no estabelecimento do reino de Deus, no chamado quiliasmo “que é uma crença milenarista, segundo a qual Jesus Cristo e os Santos deviam estabelecer um reino de mil anos na terra, antes do fim do mundo” [ dicionário de termos da fé, 1989,p. 645.]. No fundo, acaso não eram a mesma coisa? Seja dito que a Fé na imortalidade da alma, cuja condição talvez não fosse muito precisa, é uma espécie de subentendido, decerto tácido, em torno do evangelho, sendo essa a situação do espírito de muitos dos que hoje o lêem, situado oposta á dos cristãos dentre os quais surgiu o Evangelho, o que os impede de vê-lo. Sem dúvida, aquilo da segunda vinda de cristo, com grande poder, rodeado de majestade e entre nuvens, para julgar os vivos e os mortos, abrir para uns o reino dos céus e jogar os outros no geena “um vale situado perto de Jerusalém, onde foram outrora queimadas crianças em honra do deus fenício Moloc (2 Rs.16,3). Lugar onde Deus punirá Judá infiel (Jer.19,6). E lugar do castigo escatológico (Mt.23,33)” [ dicionário de termos da fé, 1989,p. 333.], onde tudo é choro e ranger de dentes, deve ser entendido quiliasticamente. Também se fala de Cristo no Evangelho de (Mc, IX,1) que havia com ele alguns que não experimentaram a morte sem antes ter visto o reino de Deus. Que fazendo uma interpretação na citação de Marcos, dá para ver a expectativa da comunidade por uma parusia iminente. Porque eles já tinham o Cristo com eles, mas o Cristo tinha que passar primeiro pela paixão para inaugurar a ressurreição e abrir as portas do paraíso para os justos e os arrependidos.

Mas essa não era a ressurreição, não. A fé cristã nasceu da fé em que Jesus não permaneceu morto, mas Deus o ressuscitou, (uma da grande questão que os teólogos estudam, é essa sobre a pessoa trinitária de Jesus Cristo. Pois Jesus sendo Deus, ele o ressuscitou por sua própria vontade e poder. Então daí que surge a dúvida da passagem bíblica que diz que “Deus o ressuscitou”), e que essa ressurreição era um fato. Mas isso não supunha uma mera imortalidade da alma do modo filosófico. Mesma para os padres da igreja, a imortalidade da alma não era uma coisa natural; bastava para sua demonstração, como diz Nemésio, o ensinamento das divinas escrituras, sendo, segundo Lactâncio, um dom gratuito de Deus.

Lúcio Cecílio Firmiano Lactâncio “(nasceu em 250, aproximadamente, na África, morto em 317); ele nasce numa família pagã, é discípulo de Arnóbio, ensina eloquência em sua pátria e, depois, em Nicomédia, chamado pelo imperador Diocleciano em 292; mas neste meio tempo converteu-se ao cristianismo, e a perseguição o reduz a um estado de extrema indigência. Passada a tempestade, Constantino envia-o a Tréveros como preceptor do filho Crispo, e aí morre, não se sabe bem quando.

Mas a grande oportunidade de sua vida aconteceu justamente com a conversão, que lhe permite exercitar as armas afiadas da retórica, usada não tanto para construir quanto para combater a polemizar, como reconhece o próprio Jerônimo (Cartas, 58,10). Ele começa em 303, aproximadamente, com o pequeno tratado de antropologia teológica A obra de Deus, na qual procura evidenciar a sabedoria divina na construção do microcosmo-homem, completando as teorias de Cícero e de mostrando, em especial, que a alma é imortal e criada diretamente de Deus, contra as ”teorias materialistas dos epicureus”. [Pierini, Franco, 1931, p. 140].

Com a descoberta, a de imortalidade, preparada pelos processos religioso judaico e helênico, foi especificamente cristã. Levou sobretudo Paulo de Tarso, aquele judeu fariseu helenizado.

“Paulo (Saulo) nascido em Tarso, na Cilícia, pelo ano 10 d.c, e decapitado em Roma, pelo ano 67; fariseu rigoroso formado em Jerusalém, junto de Gamaliel, perseguidor dos primeiros cristão,. Repentinamente convertido por uma aparição de Jesus em Damasco (At 9, 22-26) e tornado o apóstolo por excelência. Duramente perseguido, tanto pelos judaizantes como pelos judeus, pregou a liberdade cristã face à lei Mosaica (Gal 5), sobretudo para os gentios, cuja evangelização lhe fora confiada (Gal 2,7), e percorreu, livre ou prisioneiro, o Oriente e o Ocidente, ao serviço da palavra”. [ dicionário de termos da fé, 1989,p. 575.]

Paulo, um dos mais profícuos autores das sagradas escrituras, responsável por treze dos setenta e três livros da Bíblia, em sua época encontrou, por parte de muitos cristão neo-convertidos, resistências e dúvidas (até natural por causa de muitos de sua ignorância quanto às coisas celestes) acerca da ressurreição de Jesus, não testemunhada pessoalmente por eles, e, consequentemente, sobre a nossa ressurreição. Na primeira Carta aos Coríntios, Paulo assim se manifesta:

“Eu vos transmiti primeiramente o que eu mesmo havia recebido: que Cristo morreu por nossos pecados, segundo as escrituras; foi sepultado e ressurgiu ao terceiro dia, segundo as escrituras; apareceu a Cefas (Pedro), e em seguida aos dozes (os que por Ele foram escolhidos). Depois apareceu a mais de quinhentos irmãos de uma vez, depois apareceu a Tiago e em seguida a todos os apóstolos”. (I Cor 15, 3-8).

A pregação e o testemunho convincente de Paulo foram fatores preponderantes para que o Cristianismo se propagasse velozmente nos primeiros séculos, mas, ainda assim, entre os primeiros convertidos, havia pessoas que, por duvidarem, insistiam que não haveria ressurreição para todos, mas somente para Jesus Cristo, o filho de Deus. A este, Paulo respondia:

“Ora se pregar que Jesus ressuscitado dentre os mortos, como dizem alguns de vós que não há ressurreição de mortos? Se não ressurreição de mortos, nem Cristo ressuscitou (pois ele morreu verdadeiramente!). Se Cristo não ressuscitou, é vá nossa pregação, e também vã a nossa fé”. (I Cor 15,12-14). E com autoridade, concluía: “E, se Cristo não ressuscitou, ilusória é a vossa fé; ainda estais nos vossos pecados. Por conseguinte, aqueles que adormeceram em Cristo, estão perdidos. Se temos esperança em Cristo somente para esta vida, somos os mais dignos de compaixão de todos os homens!”. (I Cor 15, 17-19).

O dogma central do apóstolo convertido foi a da ressurreição de Cristo; o importante, para ele, era o Cristo se tivesse feito homem e tivesse morrido e ressuscitado, não o que fez em vida, não sua obra moral e pedagógica, mas sua obra religiosa e eternizadora.

Portanto, a páscoa de Cristo é o evento único, que decorre da íntima união existente entre sua mor te. O evento pascal de Cristo é sua passagem deste mundo ao Pai, sua glorificação.

Em torno do dogma, de experiência íntima pauliniana, da ressurreição e imortalidade de Cristo, garantia da ressurreição e da imortalidade de cada crente, formou-se toda a cristologia. [Unamuno de, Miguel, 1996, p. 62.]

Com o passar dos anos da era cristã, os crentes ainda pensava neste dogma central da ressurreição e da imortalidade da alma individual. “Veio o concílio de nicéia e, nele, o formidável Atanásio, cujo nome já é um emblema, encarnação da fé popular. Atanásio era um homem de poucas letras, mas de muita fé e, sobretudo, de fé popular, cheio de fome de imortalidade” [Unamuno de, Miguel, 1996, p. 62.]. O concílio de Nicéia realizou-se num período de tempo que vai de maio a agosto de 325, o primeiro concílio ecumênico da história da Igreja é convocado, organizado a até presidido pelo imperador, através do seu homem de confiança Ósio de Córdoba, ajudando logo em seguida por dois presbíteros representantes do papa Silvestre (que não pôde intervir nos debates por causa da idade avançada). Neste concílio deu-se um novo símbolo da fé, proposto por Eusébio de Cesaréia, em uso da sua Igreja, no qual aparece claramente enunciada a unidade de natureza entre o pai e o filho, através da fórmula do “omoúsios” (“consubstancial”). [Pierini, Franco, 1931, p. 149]. Neste grande concílio ecumênico, teve um participante muito importante da a doutrino da Igreja. Que era “Atanásio, que nasceu em Alexandria em 295, participou desse concílio como diácono e secretário de seu bispo Alexandre. Ao suceder-lhe, em 328, já tem uma obra apologética dividida em duas partes, composta por volta do ano 318; o discurso contra os pagãos (na qual demonstra a verdade do monoteísmo, contra o politeísmo) e o Discurso sobre a encarnação do verbo (na qual expõe as provas dessa realidade, contra judeus e pagãos). A doutrina trinitária de Atanásio tornou-se clássica na teologia oriental: a divinização do cristão exige que Cristo seja Deus como o Pai e como o Espírito Santo, pois a salvação do homem se baseia na encarnação, e a encarnação, no dogma trinitário; esse dogma, por outro lado, é considerado em perspectiva dinâmico-linear: o Espírito Santo procede do pai por meio do filho. A doutrina cristologica ressente-se, ao invés, de certo realismo exagerado, segundo o esquema do “Logos-sarx”, que coloca na sombra a presença de uma verdadeira alma humana. Por outro lado, porém, para Atanásio, Cristo é uma autêntica pessoa e Maria é verdadeiramente mãe de Deus.” [Pierini, Franco, 1931, p. 153]

Saindo do ponto de vista da ressurreição e imortalidade da alma para os antigos, que deram seus pensamentos e exemplos de pessoas que acreditaram na vida eterna e nesta vida de imortalidade. Entrando no pensamento de Unamuno, que durante sua vida inteira, foi em busca dessa meta, que era a imortalidade. Mas viveu com essa tristeza de não conseguir. Como ele dizia que queria poder brigar com Deus, para poder agarra e puxar um pouquinho dessa imortalidade.

“Embora de início nos seja angustiante, essa meditação sobre nossa mortalidade acaba nos fortalecendo. Recolha-se em si mesmo, leitor, e imagine um lento desfazer-se em você mesmo, em que a luz se apague, as coisas emudeçam e não lhe dêem sons, envolvendo-o em silêncio, de rretam entre as suas mãos os objetos que você segura, escorra sob seus pés o chão, desvaneçam como num desmaio as recordações, tudo se vá dissipando em nada, dissipando a você também, e em que nem mesmo a consciência do nada lhe reste, nem sequer como fantástica âncora de uma sombra.” [Unamuno de, Miguel, 1996, p. 41.]

No compêndio do Vaticano II está escrito que a questão da morte é um enigma que aflige e angustia o homem, pois as grandes descobertas humana não a decifraram: “É diante da morte que o enigma da condição humana atinge seu ponto mais alto. Pois o homem não se aflige somente com dor e a progressiva dissolução do corpo, mas também e muito mais, com o temor de destruição perpétua. Todas as conquista da técnica, ainda que altíssima, não consegue acalmar a angustia do homem. Pois a longevidade, que a biologia lhe consegue, não satisfaz inelutavelmente m seu coração”. [compêndio do Vaticano, O mistério da Morte. P. 159 art.250.]

A critica de Unamuno em relação á vida eterna, é que lá teremos um lugar eterno, mas não teremos memória das coisas vivída na terra. Essa angústia que o levou a essa “ânsia de imortalidade”. Pois sendo mortal, ele viverá tudo aquilo que viveu e vive e viverá. Mas esse recurso de ser imortal leva a viver nesta terra, vida, família e profissão. Diferente da vida eterna, que o cristianismo católico tanto prega esta eterna morada, onde viveremos em um corpo glorioso e sem distinção de raça e cor. Que o Cristo ensino e deixou a chave desse reino glorioso, que é o pão da imortalidade.

“O dogma central da ressurreição em Cristo e por Cristo corresponde um sacramento também central, eixo da piedade popular católica: o sacramento da Eucaristia.” [Unamuno de, Miguel, 1996, p. 65.]

A doutrina cristã católica tem a Eucaristia, com o próprio corpo de Cristo, pois foi o próprio que instituiu esse sacramento na quinta-feira santa, na sua ultima refeição com seus apóstolos, antes de ser entregue por Judas aos soldados.

O relado da força viva de Cristo no pão eucarística, é o testemunho de João no seus escritos “joanino”.podemos ver no seu capitulo 6:

“ Eu sou o pão da vida. Quem vem a mim, nunca mais terá fome, e o que crê em mim nunca mais terá sede. Eu, porem, vos disse: vós me vedes, mas não credes. Todo aquele que o pai me der virá a mim, e quem vem a mim eu não o rejeitarei, pois desci do céu não para fazer minha vontade mas a vontade daquele que me enviou é esta: que eu não perca que ele me deu, mas o ressuscite no último dia. Sim, esta é a vontade de meu Pai: quem vê o Filho e nele crê tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último.” (Jo, 6, 35-40)

O relato dessa passagem mostra-nos a eterna morada pelo pão descido do céu, que é o próprio cristo. Mas os judeus criticaram a atitude de Jesus Cristo: “então, contra ele, porque dissera: “Eu sou o pão descido do céu”. E diziam:

“Esse não é Jesus, o filho de José, cujo pai e a mãe conhecemos? Como diz agora: eu desci do céu!” Jesus lhes respondeu: “Não murmureis entre vós. Ninguém pode vim a mim se o Pai, que me enviou não o atrair; eu o ressuscitarei no último dia. Está escrito nos profetas: E todos serão ensinados por Deus. Quem escuta o ensinamento do Pai e dele aprende vem a mim. Não que alguém tenha visto o Pai; só aquele que vem de junto de Deus viu o Pai. Em verdade, em verdade, vos digo: aquele que crê tem a vida eterna. Eu sou o pão da vida. Vossos pais no deserto comeram o maná e morreram. Este pão é o que desce do céu para que não pereça que dele comer. Eu sou o pão vivo descido do céu. Que comer este pão viverá para sempre. O pão que eu darei é a minha carne para vida do mundo”.

Os judeus discutiam entre sim, dizendo:

“Como este homem pode dar-nos a sua carne e comer?” Então Jesus lhes respondeu: “ Em verdade, em verdade, vos digo: se não comerdes a carne do Filho do Homem e não beberdes seu sangue, não tereis a vida em vós. Quem, come minha carne e bebe meu sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia. Pois minha carne é verdadeiramente comida e meu sangue é verdadeiramente bebida. Quem come minha carne e bebe meu sangue permanece em mim, e eu nele. Assim como o Pai, que vive, me enviou, eu vivo pelo Pai, também aquele que de mim se alimenta viverá por mim. Este é o pão que desceu do céu. Ele não é como o que os pai comeram e pereceram; que come este pão viverá eternamente”. ( Jo 6, 44-58).

Eis a certeza que o cristianismo transmite, com a transformação do pão, no Cristo vivo e vencedor. Pois este pão é a vida de Cristo, a vida que nos transmite vida eternizada.

Quando pensamos no campo da razão, começamos a ter as interrogações em relação à transubstanciação do pão imortalizado. Pois se é uma substância separada dos acidentes? Na visão cristã católica, o pão na hora da transubstanciação, a substância e totalmente diferente, mas o acidente continua, pois tem formato e gosto de pão. “Hoje já apuramos muito esse problema da materialidade e da substancialidade, mas há até padres da Igreja para os quais a imaterialidade de Deus mesmo não era coisa tão definida e clara como para nós.” [Unamuno de, Miguel, 1996, p. 65.]

No sacrifício de Jesus, que é o ato último, e o ponto culminante da história dos homens, que se torna fonte de vida e de salvação para humanidade. Ele é o ato supremo de amor que permanece, a palavra última pronunciada pelos homens que permanece na vida gloriosa de Cristo. Vida que é transmitida a nós, que temos sede de eternidade, na qual a doutrina da Igreja colocar e instituir alguns atos de purificação para poder chegar à eternidade plena. Um desses atos é o da confissão; que é um alivio na vida dos cristãos católicos, que arrependendo-se de seus pecados na hora da confissão, seus pecados estarão apagados com a absolvição sacerdotal. E sem o arrependimento dos pecados, não podemos chegar a contemplar a gloria de Deus, pois temos que chegarem limpos de toda impureza cometido em vida, para termos nosso corpo glorioso.

“Tudo isso que confesso são, bem sei, misérias”. “Mas do fundo dessas misérias surge nova vida, e só bebendo até a lia o cálice da dor espiritual pode-se chegar a degustar o mel da borra da taça da vida.” “A angustia nos leva ao consolo.” [Unamuno de, Miguel, 1996, p. 55.]
“Essa sede de vida eterna muitos saciam, sobretudo os simples, na fonte da fé religiosa, mas nem a todos é dado beber dela; a instituição cujo fim primordial é proteger essa fé na imortalidade pessoal da alma é o catolicismo; mas o catolicismo quis racionalizar essa fé, fazendo da religião teologia, querendo pôr como base da crença vital uma filosofia.” [Unamuno de, Miguel, 1996, p. 55.]


Conclusão

Concluamos neste trabalho sobre a “essência do catolicismo”, com a visão cristã sobre a ressurreição da carne e a imortalização pessoal da alma humana. Que Umanumo tanto lutou e buscou durante sua vida terrena.

Com a base central na ressurreição de Cristo em nossas vidas, podemos ter a certeza dessa fé, pois quando passarmos desta terra, para o outro lado da vida gloriosa, teremos tudo em comum, pois lá não existirá nem distinção de raça e de cor, porque seremos transformados em um corpo glorioso. Daí que vem a tristeza de Unamuno sobre a visão religiosa sobre a ressurreição dos mortos; pois ele não quer passar pela morte, que é o esquecimento de tudo aquilo que ele viveu e teve em vida terrena.

Com essa certeza de vida eterna, encontramos nas palavras do próprio Filho de Deus, encarnado no ventre maternal da virgem Maria, que ao entregar seu próprio corpo na última ceia disse: “Este é o pão que desceu do céu. Ele não é como o que os pais comeram e pereceram; que come este pão viverá eternamente”. (Jo 6, 58). Este é o pão de imortalidade da alma, que é a esperança do cristão em sua jornada sobre a terra, ate chegar à coroa perecível da glória.

Portanto, no percorrer da história do cristianismo, houve vários exemplos de pessoas que tinha essa certeza da ressurreição e eternização da alma do individuo. Por exemplo, o apóstolo dos Gentios (Paulo de Tarso), que pregava a ressurreição de Cristo e a doutrina da ressurreição. Por isso que ele é considerado o primeiro teólogo do cristianismo. Outro personagem ilustre é Atanásio de Alexandria, que teve uma participação ativa no concílio de Nicéia, e contribuiu com várias teorias cristãs, entre as quais argumentou sobre a vida eterna.

Com a abertura da vida eterna, passamos de um estado de espera na mansão dos mortos, como nos diz no “creio”, e adentramos ao lugar de felicidade permanente, que é o paraíso, onde todos viverão em plena harmonia com Deus (nossa bem supremo) e com todos que amamos. Mas não era esse estilo de vida que Unamuno queria; ele tinha uma ânsia de imortalidade, para poder viver tudo àquilo que ele amava fazer e viver em vida terrena. Por isso que ele tinha em vida essa esperança de que iria alcançar a imortalidade. Mas infelizmente foi em vão alcançar essa eternidade de vida terrena, com o corpo, alma e memória, mas como o cristianismo prega um Deus “Pai” e “misericordioso”, tenho certeza que ele pelo menos alcançou a eterna morada, onde viverá a vida espiritual eterna, de corpo e alma.





Referências bibliográficas

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Fraijó, Manuel. O cristianismo: uma aproximação ao movimento inspirado em Jesus de Nazaré. tradução Pedro Lima Vasconcellos e José Afonso Beraldin. São Paulo: Paulina, 2002.

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