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Revista Digital Pandora
Número 3 - Agosto de 2008
Os poemas de Jose Bruno Linares

Seleção de poemas de:
JOSE BRUNO LINARES (1930 - 2008)
Autor do livro "O melhor jeito de amar"




VISÃO DO INFINITO – 235

Distante, uma acauã dolente implora,
Enquanto a luz do luar resplandecia,
Golpeava o mar revolto a penedia
Em soluços penosos de quem chora!


Uma fonte a correr calma, inodora;
Além, no horizonte o sol nascia;
Naquele encanto que meu peito ungia
Eu delirava ao despertar da aurora!


Mas não posso negar que o mar queixoso
Para sempre me deixou saudoso
Ao abraçar-se aos cerros de granito!


Pássaros chegando de regiões remotas;
Em revoada nos céus,
brancas gaivotas
Qual emanações sublimes do infinito!...


A NATUREZA ME INSPIRA - 236

O dia chega; o sol nasce da aurora.
A névoa se desfaz, ténue, em fumaça,
Beirando o horizonte, vagarosa passa;
Despede-se da selva e vai-se embora!


E um sopro me inspira! E nessa hora
Eu sinto n'alma uma infinita graça
Vinda do além qual venerável taça,
E como um sopro divino me alcandora.


Eis a razão porquê da minha lira,
Que me emociona e que me inspira
É ter nela, inclusa a Natureza.


Nela eu me inspirei em prosa e verso;
Nela eu sonhei transpor o Universo
Desde a minha paupérrima pobreza!


NO LEITO DE DOR – 233
(BRANCA MINHA ESPOSA)


Sinto da angústia a mesma dor do pranto,
Que tu choras convulsivamente,
Que eu peço e rogo ó meu bem,
somente, Que Deus te cubra com o divino manto.


Mas, se pudesse te salvar, no entanto,
Pra viveres comigo eternamente,
Neste amor frutífero e ardente,
Que até hoje nos amamos tanto!


Se hoje eu te vejo neste triste leito
Pranteando de dor, angustiada
Onde mil vezes me cingiste ao peito,


Eu só quisera teu viver mais nada!
Pois eu já vejo o meu sonhar desfeito
Sem ti, meu grande amor, celeste amada!


VELHA PAINEIRA DA PRAÇA – 234

Ali na praça, inda me lembro onde
Te vi frondosa se esvaindo em flores:
Rubras, lilás; de diferentes cores,
Que despencavam ao trepidar do bonde.


Hoje estás velha e desfolhada a fronde!
Nem as abelhas nos cachos multicores,
Nem os ninhos dos pássaros cantores...
E a tua copa nada mais esconde!


Muito nós temos de comum na vida:
Tu foste a aurora na manhã florida!
Hoje, decepada, desfolhada e triste!


Nossos desígnios são, decerto, iguais:
As tuas lindas flores não verei jamais
Nem verás o jovem que a te olhar já viste.


NOSSAS PENAS
A TERRA, O CÉU E O MAR



Neste mundo de incertezas
Que a gente nunca tem paz,
Quando chega uma alegria
Vem uma tristeza atrás.


É tão difícil viver
Neste mundo de incertezas...
Quando vem uma alegria
Vêm atrás duas tristezas!


São mais felizes as aves,
Que voam com as leves penas;
Presos no chão nós ficamos
Às nossas pesadas penas!...


A FLOR-DE-LIS

Oh! lindas flores que nasceis mimosas.
Belas, cheirosas a pender do galho!
Té os rebentos, os botões em poma
Cheios de aroma, gotejando orvalho.


E nos jardins a borboleta adeja,
O sol dardeja o seu raiar dourado.
E as falenas vão deitando os ovos
Entre os renovos do vergel molhado!


E entre as flores onde há só perfumes.
Os vaga-lumes entre as rosas meigas.
Tremendo as asas a piscar fulgentes
Sobre as virentes e formosas veigas...


As libélulas de tenuíssimas asas
Vão sentar nas vasas lutulentas, frias...,
Porém, num jeito salutar, tão doce
Como se fosse em imperiais leirias.


Das mais alegres era a flor-de-lis
Igual ao Lis ao receber o Lena!
Mas eram tantas e de várias cores;
Eram mil flores!... Que beleza plena!


Era alta noite e se ouvia apenas
Calmas, serenas, murmurar as águas
Banhando o vale no sopé do monte.
Talvez, da fonte refletindo as mágoas,


Pra mais adiante, numa queda abrupta,
Na selva bruta, sucumbir além!...
Mas chega a aurora e a cantar suaves
As lindas aves que de longe vêm!


A lua cheia que brilhou na mata,
Sua luz de prata já no céu se finda.
Vai se escondendo lá no horizonte
Por detrás do monte pra nascer mais linda!


E a cachoeira a murmurar ruidosa
No luar de rosa quando ao céu voltar.
Oh! Natureza, que divino encanto
Em tudo quanto habita os céus, o mar!...


MEUS CINCO BOTÕES DE ROSAS.
MINHAS NETINHAS SILVIA,
REGINA, RENATA, FERNANDA E LÍGIA


Meus cinco botões-de-rosa
São flores do meu jardim;
São gardênia perfumosa,
São um fragrante jasmim.


Vê-las-ei já feitas rosas,
Sendo as rainhas das flores
Como as falenas mimosas
De asas de muitas cores...


Mas como algas do rochedo
Que as ondas levaram embora;
Se hoje meu peito chora,
Pois me deixaram tão cedo.


Esta vida num atroz degredo;
Minh´alma triste a divagar deplora
As lindas algas que já tive outrora
Como lamenta o milenar penedo.


TEMPO PERDIDO – 361

Viver sem Ti Senhor, não tem sentido:
É como o louco que sai de porta em porta...
Isso não é mais vida; é vida morta;
Já perdeu tempo por não ter morrido.


Perdido tempo em que viveu perdido
Dessa forma em vão que se comporta.
Morrer, viver ou nada mais importa?
Perdido é o tempo que já foi vivido.


A vida para ser vivida é necessário
Ser justo, honesto, solidário
Com aquele que sofre e passa fome.
Assim, somente assim lhe vale a vida
Por muito ou pouco tempo a ser vivida:
Senhor, honrar a Fé e bendizer Teu Nome!


ERA UMA TARDE DE OUTONO - 362

Belo e radiante a despontar no Leste
Dardeja luzes pelo hemisfério,
Rompendo névoas, que há no céu cinéreo
Incandescente, na direção do Oeste.


Na trajetória pelo além sidéreo,
Até me enlevo com um cenário deste:
A travessia do Equador celeste
Imaginário; encantador mistério!


Aves, à tarde, a pipilar nas ramas...
O sol desaba no poente em chamas
E a noite invade os espraiados campos...
E este sol que ilumina as serras
Mudou suas luzes para outras terras
E a nossa, entrega à luz dos pirilampos!...


AQUELE BEIJO-363

Naquela noite de tão clara lua
Tão brilhante como os olhos teus,
Inda mais linda para os olhos meus
Que a noite clara, era beleza tua.


Te lembras inda, ali naquela rua?
Teus lindos olhos a fitar, nos céus
As nuvens brancas como lindos véus
Na noite clara, transparente, nua.


Há para sempre de ser nossa amizade!
Desgosto causei, não porque qui-lo;
Foi minha ausência que te deu saudade.
E o beijo que dei, saiba que eu fi-lo
Só de puro amor e sem maldade
No mais perfeito e virginal estilo...


A LUZ DO TEU OLHAR - 364

Nem a luz do sol mais purpurina,
Que beija as praias e clareia o mar,
Nem a luz do luar que me fascina
São mais fulgentes que a do teu olhar!...
E aos eflúvios da Estrela-Matutina


Ou no nascente vendo o sol raiar,
Mnh´alma forasteira, e peregrina...
Quero os teus olhos, apenas, contemplar.


Desde quando um dia, tu partiste
Que minh'alma ficou aqui tão triste
E o mundo pra mim já desabou!


E é-me impossível conter a ansiedade.
E mais difícil é sofrer esta saudade
No meu peito cravada que ficou!...


MATILDE - 57

No ciciar das folhas, brandamente, a brisa
Faz, levemente, tremular ramalhos
No sopro glacial que desprendia orvalhos
E caiam gota a gota sobre a tenra briza.


Sereno, um rio para o mar desliza,
Cujas águas vão beijando os galhos
Nos meandros, nas curvas, nos atalhos
Até enquanto meu olhar divisa!


Tudo era belo: o campo, os céus, o mar...
Tudo era encanto pra quem sabe amar;
Só eu perdido neste meu caminho!


Mas de joelhos, reverente, humilde
Eu rogo aos céus me devolver Matilde,
Meu grande amor que me deixou sozinho!


ULTIMO ADEUS - 335

Inerte, no caixão, toda enfeitada
Numa aparência de quem está dormindo!
Os lábios entreabertos, penso estar sorrindo
No ataúde, tranquila, agasalhada


Do mesmo jeito pra dormir, deitada.
Já está sabendo quanto é belo, é lindo
O paraíso pra onde vai subindo
E de alegria, talvez, toda encantada!


Mas, de uma coisa, meu bem, tenho certeza;
Vou sempre levar minha tristeza
De ver seu rosto sob o branco véu!


E no meu último adeus, por despedida,
Leve estes versos de amor, minha querida
Pra você ler quando chegar no céu!...


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