dispneia paroxística sibilante :
três poemas


Luiz Camilo Lafalce






1


ambíguas fecundas adversas águas águias afiadas no inferno sonoro do verso espuma-espadas de amor e corte vertendo o fel de um coração submerso, a pulsar, a pulsar a pulsar ... quem poderá impedir este ritmo suicida a explosão delírica? não importa não importa o abnegado corpo mas estas escamas sílabas laminadas ardentias desfazendo-se em canto vagas de prateada e incontida ilusão ... o mais é o mar exausto ao largo deus adormecido em teus braços como um pássaro pássaro poema lançado na gravidez das ondas que te devolvem à superfície do texto:

boia plácida a reluzente incógnita











2


animal em riste em febre arrogante salivando cólera das narinas bêbadas animal animal que se debate cego lambendo a febre em paredes de espelho minotauro louco que torce em cólera a degradada imagem em círculo suicida animal indomável animal em febre contorcido em sílabas nas ácidas espadas que ferem o ar minotauro cego a insultar os deuses perdido e louco nesta voz labirinto vencido afinal o ofegar exausto de um corpo tombado ainda pulsando e confinado ao desterro:

as frias paredes do poema











3


ponto
por ponto não este ponto final em frase verso pausa maior para respiração e sentido descanso para o canto em recom eço não ponto afinal exclamativo nem mesmo indagativo p onto sem vírgula nem redundante ponto em reticências que são não são ponto por muitos pontos que têm aqueloutro q ue em surdo impacto não é visto nem rubrica feito de sobra s dobras franjas que a língua quase muda vai lambendo em periféricos volteios em volta de um ponto nó absoluto sem o qual não há fome nem língua ponto no limite em dó meno r sem dó nem piedade o ponto corpo morto só um ponto fin al não o que foi negado mas este que em sendo tecido sur ge legado em ponto a

final