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Revista Pandora Brasil - ISSN 2175-3318
Revista de humanidades e de criatividade filosófica e literária


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CLARICE LISPECTOR: PERTO DO CORAÇÃO SELVAGEM

Angela Zamora Cilento
Universidade Mackenzie


Mini currículo dos autores 


Esta palestra foi realizada em novembro de 2008,
por ocasião do evento "Quinta Poesia"
na Universidade Presbiteriana Mackenzie,
e pretende relacionar as poesias de Clarice Lispector à filosofia.



Para começar, vamos dizer que eu nunca fui atrás de Clarice Lispector, mas foi ela que veio até mim. Vou me permitir falar em primeira pessoa, porque é num tom muito pessoal que tecerei algumas considerações. Dizem que o mestre aparece quando o discípulo estiver pronto. Eis o que aconteceu comigo: agora mais madura, sua obra veio ao meu encontro. É possível dizer que houve um encontro de almas, aquilo que Goethe denominará por ‘afinidades eletivas’. Seus temas falam da vida, de sentimentos profundos que são expressos pela literatura e poesia, assim ouso reunir ao som de ‘Coração Selvagem’ de Belchior – a nossa “solidão, o meu sonho, essa fúria e essa pressa de viver e esse jeito de deixar sempre de lado a certeza e arriscar tudo de novo com paixão.”

De família judaica, ucraniana, a menina Haia Lispector é a terceira filha de Pinkouss e de Mania Lispector. Seu nascimento ocorreu durante a viagem de emigração da família. Chega ao Brasil quando tem um pouco mais de um ano de idade. Em 1944 publicou seu primeiro romance – Perto do Coração Selvagem, e falece na véspera de seu aniversário de 57 anos, de câncer.

E é por conta deste romance – perto do coração selvagem, menos pelo enredo, mas pelo título que tentarei decifrar, como um estudante de arqueologia, a enigmática Clarice. Escrevendo sobre si mesma diz: “Há três coisas para as quais nasci e para as quais dou minha vida. Nasci para amar os outros, nasci para escrever e nasci para criar meus filhos. O ‘amar os outros’ é tão vasto que inclui até o perdão de mim mesma. (...) As três são tão importantes que minha é curta para tanto. Tenho que me apressar, o tempo urge. Não posso perder um minuto do tempo que faz minha vida. Amar os outros é a única salvação individual que conheço: ninguém está perdido se der amor e às vezes receber amor em troca.” (cartas, 8)

Clarice admite em uma das suas últimas entrevistas concedidas em 1977, que é muito maternal, e é por isso que escreveu alguns livros para crianças sob a ordenação de um de seus filhos. Não se acha profissional, pois escrever para ela não é uma obrigação, quer estar livre para fazê-lo quando quiser. E que, ao contrário da literatura infantil, para se comunicar com o outro, ela precisa ir até o mais secreto de si mesma.

Para tanto, seu discurso é pleno de conotações trágicas – ela pressente todo o horror da existência, sua produção emerge do caos que é a vida, caos que está dentro dela – um vulcão em erupção que procura traduzi-lo de modo intenso. Em outros termos, há, para o conceito de trágico, algumas interpretações que nos ajudarão a mergulhar neste universo particular – o de Clarice Lispector. Para alguns, segundo Abbagnano, o trágico diz respeito tanto à forma de arte quanto à vida humana ou à cena do mundo.

“O ponto de partida implícito é a definição aristotélica de tragédia segundo a qual ela é a ‘imitação de acontecimentos que provocam piedade e terror e que dão início à purificação destas emoções. (...) As situações que provocam ‘piedade e terror’ são aquelas em que os personagens são postos em perigo ou em que os conflitos não são resolvidos de modo a determinar piedade e terror nos espectadores’.” (Abbagnano,1982, p.929)

Em Schopenhauer, é a “representação da vida no seu aspecto terrificante. (...) A dor sem nome, a pena da humanidade, a escarnecedora senhoria do acaso e o fatal precipício dos justos e dos inocentes nos são apresentados por ela; de modo que ela constitui um sinal significativo da natureza própria do mundo e do ser.” (Abbagnano, 1982, p.930)

Diante disto ou se se resigna ou se desespera – não há outra saída. Em Nietzsche, e aqui nos interessa sobremaneira, há a apresentação do caráter terrível da existência e seu absurdo, que nos gregos é representada pelo espírito dionisíaco; e a única possibilidade é a aceitação de que a vida é como é – naquilo que compreende inclusive, o medonho e o incerto.

“ (...) O que sou eu então? Sou então uma pessoa que por vezes percebe, sou uma pessoa que pretendeu por em palavras um mundo ininteligível e um mundo impalpável. Sobretudo, uma pessoa cujo coração bate de alegria levíssima quando consegue em uma frase dizer alguma coisa sobre a vida humana ou animal.” (Cartas, 5)

“Renda-se como eu me rendi
Mergulhe no que você não conhece
Como eu mergulhei
Não se preocupe em entender.
Viver ultrapassa todo entendimento.”

Não há como não aproximá-la da concepção trágica da filosofia de Nietzsche. Em ambos, idéias ousadas e tão pessoais, compreendem a vida, lapidam o caos: exaltam-na e apreciam esta ‘divina comédia’ e são capazes não só de rir, mas de exaltar o seu inferno. Podem contemplar o abismo inefável, a consciência da finitude da existência, a representação “de tudo o que é ‘cruento, misterioso, aniquilante, de fatal no fundo de tudo o quanto é vivo.” ( O.T., 4,p.17) e o vazio.


MAS HÁ VIDA

Mas há vida
Que é para ser
Intensamente vivida.

Há o amor
Que tem que ser vivido
Até a última gota
Sem nenhum medo.
Não mata.

“A visão mais penetrante não será por isso mesmo dotada de uma temeridade irresistível, que busca o terrível como quem busca o inimigo, que procura o adversário digno contra o qual possa experimentar sua força? Não pretenderá ela saber o que é ‘pavor’?”(O.T.,1, p.14)

“Não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é passível de fazer sentido. Eu não: quero a realidade inventada.” (Clarice Lispector em entrevista para Hélio Pólvora – Panteras e Rosas –Jornal de Poesia-10.12.05)

É preciso criar uma interpretação que dê sentido para a vida, ainda que esta não seja completamente inteligível. Como sempre, tal perspectiva é só para poucos, porque Clarice “tem esse jeito de deixar sempre de lado a certeza e arriscar tudo de novo com paixão, andar caminho errado, pela simples alegria de ser.” (Belchior, Coração Selvagem)


DÁ-ME A TUA MÃO

Vou agora te contar
Como entrei no inexpressivo
Que sempre foi minha busca cega e secreta.
De como entrei
Naquilo que existe entre o número 1 e o número 2
De como vi a linha de mistério e fogo
E que linha sub-reptícia.
Entre duas notas de música existe uma nota
Entre dois fatos existe um fato,
Entre dois grãos de areia, por mais juntos que estejam
Existe um intervalo de espaço
Existe um sentir que é entre o sentir
- nos interstícios da matéria primordial
Está a linha de mistério e fogo
Que é a respiração do mundo
E a respiração contínua do mundo
É aquilo que ouvimos
E chamamos de silêncio
E nesse silêncio profundo se esconde Minha imensa vontade de gritar.

Em outros termos, seu pensamento luminoso advém das profundezas; perigoso porque expõe aquilo que nunca deveria ter sido dito, o inter-dito, aquilo que só pode ser lido nas entrelinhas, aquilo que ainda não tem nome. Tal desvelamento, o das profundezas, só resulta porque talvez a única adversária à altura de si mesma seja ela própria. Tal qual uma egiptóloga, ela se põe a decifrar os hieróglifos que são partes de si mesma. Clarice, certamente, tem uma ‘alma rasgada’ em tantas partes quantas são suas poesias e escritos, visto que em cada uma, o leitor pode encontrar uma parte dela mesma. Poderíamos até pensar num ‘atomismo da alma’ – isto implica considerar que a pluralidade de elementos dispersos e contraditórios que coexistem numa alma, precisam ser reunidos e organizados de alguma forma, de modo que a única possibilidade de realizar esta necessidade de união é através da criação. Nietzsche chamará esta necessidade de metafísica de artista.

“O pensamento de um ‘Deus’ se quiserem, mas, nesse caso, um deus puramente artista, absolutamente liberto do que se chama escrúpulo ou moral, para quem a criação ou a destruição, o bem e o mal, sejam manifestação do seu arbítrio indiferente e da sua onipotência; que se desembarace ao fabricar mundos, do tormento de sua plenitude e da sua pletora, que se liberte do sofrimento dos contrastes acumulados em si próprio. O mundo, a objetivação libertadora de Deus, em consumação perpétua e renovada, tal como a visão eternamente mutante, eternamente diferente, de quem é portador dos sentimentos mais atrozes, dos conflitos mais irredutíveis, dos contrastes mais perfeitos, de quem não pode emancipar-se nem libertar-se senão na aparência: eis a metafísica de artista.” ( O.T.,5, p. 43)

SINCERAMENTE SOU DIFERENTE

Gosto dos venenos mais lentos
Das bebidas mais amargas
Das drogas mais poderosas
Das idéias mais insanas
Dos pensamentos mais complexos
Dos sentimentos mais fortes...
Tenho um apetite voraz e os delírios mais loucos
Você pode até me empurrar de um penhasco que eu vou dizer:
- E daí? Adoro voar!
Não me dêem fórmulas certas
Porque não espero acertar sempre
Não me mostrem o que esperam de mim

Porque vou seguir meu coração
Não me façam ser o que eu não sou
Não me convidem a ser igual
Porque sinceramente sou diferente
Não sei amar pela metade
Não sei viver de mentira
Não sei voar de pés no chão.
Sou sempre eu mesma,
Mas com certeza não serei a mesma para sempre...”.


TEU SEGREDO

Flores envenenadas na jarra
Roxas azuis, encarnadas, atapetam o ar
Que riqueza de hospital
Nunca vi mais belas e mais perigosas.
É assim então o teu segredo.
Teu segredo é tão parecido contigo
Que nada me revela além do que já sei.
E sei tão
Como se o seu enigma fosse eu.
Assim como tu és o meu.


FICO COM MEDO

Fico com medo, mas o coração bate.
O amor inexplicável faz o coração
Bater mais depressa.
A garantia única é que eu nasci
Tu és uma forma de ser eu,
E eu uma forma de te ser:
Eis os limites de minha possibilidade.

Cada hieróglifo que se revela, só pode ser traduzido após uma implacável guerra, porque no fundo é essa a busca de si mesmo e talvez como despojo também se alcance o outro, porque este também não deixa de ser parte de si. Em Para Além de Bem e Mal, podemos apreender um pouco mais sobre este atomismo da alma:

“ – mas é preciso ir ainda mais longe e declarar guerra, uma implacável guerra de baionetas, também à ‘necessidade atomista’, que assim decantada da ‘necessidade metafísica’, continua vivendo uma perigosa sobrevida em regiões que ninguém suspeita: é preciso inicialmente liquidar aquele outro e mais funesto atomismo (...). Permito-me designar com este termo a crença que vê a alma como algo indestrutível, eterno, indivisível, como uma mônada, um atomon: essa crença deve ser eliminada da ciência! Seja dito entre nós que não é necessário, absolutamente, livrar-se com isso da ‘alma’ mesma renunciando a uma das mais antigas e veneráveis hipóteses: como sói acontecer à inabilidade dos naturalistas, que mal tocam na ‘alma’ e a perdem. Está aberto o caminho para novas versões e refinamentos da hipótese da alma: e conceitos como ‘alma mortal’, ‘alma como pluralidade do sujeito’ e ‘alma como estrutura social dos impulsos e afetos’, querem ter, de agora em diante, direitos de cidadania na ciência. Ao pôr um fim à superstição que até agora vicejou com luxúria quase tropical, em torno à representação da alma, é como o novo psicólogo se lançasse em um novo ermo e uma nova desconfiança – para os velhos psicólogos, as coisas talvez fossem mais cômodas e alegres; mas afinal ele vê que precisamente por isso está condenado à invenção – e quem sabe à descoberta.” (PABM,12 p.19)

Neste sentido, podemos inferir que há uma ‘multiplicidade de almas’ que moram em Clarice. Entretanto, tal multiplicidade não é exclusividade sua, mas pertence a todos os sujeitos, a diferença é que ela própria vale-se de si mesma como matéria-prima, enquanto os outros continuam estranhos para si mesmos.

“Nós, homens do conhecimento, não nos conhecemos, de nós mesmos somos desconhecidos – e não sem motivo. Nunca nos procuramos: como poderia acontecer que um dia nos encontrássemos? Com razão alguém disse: ‘onde estiver o teu tesouro, estará também o teu coração.’ Nosso tesouro está onde estão as colméias de nosso conhecimento. Estamos sempre a caminho delas, sendo por natureza criaturas aladas e coletoras do mel do espírito, tendo no coração apenas um propósito – levar algo ‘para casa’. Quanto ao mais da vida, as chamadas ‘vivências’, qual de nós pode levá-las a sério? Ou ter tempo para elas? Nas experiências presentes, receio, estamos sempre ‘ausentes’: nelas não temos nosso coração – para elas não temos ouvidos. Antes, como alguém divinamente disperso e imerso em si, a quem os sinos acabam de estrondear no ouvido as doze batidas do meio-dia, e súbito acorda e se pergunta ‘o que foi que soou?’, também nós, por vezes, abrimos depois os ouvidos e perguntamos, surpresos e perplexos inteiramente, ‘o que foi que vivemos?’, e também ‘quem somos realmente?’, e em seguida contamos, depois, como disse, as doze vibrantes batidas de nossa vivência, da nossa vida, nosso ser – ah! E contamos errado... Pois continuamos necessariamente estranhos a nós mesmos, não nos compreendemos, temos que nos mal-entender, a nós se aplicará para sempre a frase: ‘cada qual é o mais distante de si mesmo’ – para nós mesmos somos ‘homens do desconhecimento’. (GM, Prólogo,I).

Como vimos, o que nos diferencia de Nietzsche e Clarice, entre vários quesitos, diz respeito à ousadia de investigar o interior da alma. Só alguém muito forte, muito sensível poderá fazê-lo. A maioria de nós preferirá, pelo contrário, como afirma Heidegger, a decadência, isto é, para o autor, faz parte de nossa estrutura ontológica viver com os outros, gastando seu tempo não exatamente no aprontamento de si a fim de si mesmo próprio, passando a maior parte do tempo que se esgota vivendo para e com os outros – impropriedade. Nosso contexto histórico atesta um feroz avanço do sistema capitalista, a exploração é nítida, levando homens e mulheres a uma carga de trabalho exacerbada, a mídia exercendo uma inclassificável potência sobre gostos e comportamentos, de modo que somos mais que convidados a ser como os outros são, somos seduzidos e tragados pelo mundo que nos cerca, de modo que evitamos, consciente ou não, estabelecer um encontro frente a frente consigo mesmo. Tal encontro provocaria a inevitável dor, da qual pretendemos fugir e para qual dificilmente estaríamos preparados.

Estes momentos de crise, de encontro seriam, segundo Heidegger, causados pelo sentimento de angústia, trazendo à tona o Nada, o vazio. Clarice, ironicamente, anseia por este vazio.

“Até esta glorificação – eu amo o nada. A consciência de minha permanente queda me leva ao amor do Nada. E desta queda é que começo a fazer minha vida. Com pedras ruins levanto o horror e com horror eu amo. Não sei o que fazer de mim, já nascido, senão isto: Tu, Deus, que eu amo como quem cai no Nada.” (Clarice,6)

MEU DEUS, ME DÊ A CORAGEM

Meu Deus, me dê a coragem
De viver 365 e noites
Todos vazios de sua presença
Me dê a coragem de considerar
Este vazio como uma plenitude.
Faça com que eu seja tua amante humilde,
Entrelaçada em Ti em êxtase.
Faça com que eu possa falar deste vazio
Tremendo e receber como resposta
O amor materno que nutre e embala
Faça com que eu tenha coragem
De te amar sem odiar as tuas ofensas
À minha alma e ao meu corpo
Faça com que a solidão não me destrua
Faça com que minha solidão me sirva de companhia.
Faça com que eu tenha a coragem de me enfrentar
Faça com que eu saiba ficar com o nada e mesmo assim
Me sentir como se estivesse plena de tudo.
Receba em teus braços meu pecado de pensar.


Assim como o deus-artista de Nietzsche que precisa se libertar do sofrimento, dos conflitos e dos contrastes que borbulham de si; Clarice também só se ‘salva’, como ela própria diz destes conflitos e da dor, criando. Em Nietzsche, o deus-artista cria mundo, e Clarice parece que os descreve. Escrever é desvendar os hieróglifos que estão submersos: é necessário perder-se para encontrar-se, abrem-se caminhos com discursos que retratam essa ‘legião estrangeira’, sentimentos que ainda não tem nome. E é desta pluralidade sem trégua entre elementos conflitantes do autor que surge a necessidade de se expressar numa visão libertadora, “porque só assim, abismado na contemplação da beleza, permanecerá calmo e cheio de serenidade, levado em sua frágil barca por entre as vagas do mar alto.” (O.T.,1, p.30 )

Na Origem da Tragédia, Nietzsche menciona Schopenhauer: “como um pescador no seu barco, tranquilo e pleno de confiança em sua embarcação, no meio de um mar desmesurado que, sem limites e sem obstáculos, levanta e derruba montanhas cheias de espuma, mugindo e bramindo, o homem individual, no meio de um mundo de dores, permanece sereno e impassível porque se apóia confiadamente em si mesmo, ‘principium individuationes’.”(O.T., 1.,p.30)

Sobre o abismo que se oculta no interior de cada um, sobre este mar alto que é o mundo, Clarice é um ótimo exemplo daquilo que Nietzsche denominou de princípio de individuação: trata-se de um indivíduo que sabe da fragilidade do seu barco, mas que não renúncia à vida; pelo contrário, exalta-a em si mesmo, senhor de si, pleno e afirmando-se como tal – esplendidamente, como se a existência fosse apenas um sonho cheio de beleza, indispensável e perseverante o suficiente para prosseguir, esculpindo a sua vida como obra de arte.

O SONHO

Sonhe com aquilo que você quiser
Seja o que você quer ser
Porque você possui apenas uma vida
E nela só tem uma chance
De fazer aquilo que quer.
Tenha felicidade bastante para fazê-la doce
Dificuldades para fazê-la forte
Tristeza para fazê-la humana
E esperança suficiente para fazê-la feliz

As pessoas mais felizes não têm as melhores coisas
Elas sabem fazer o melhor das oportunidades
Que aparecem em seus caminhos

A felicidade aparece para aqueles que choram
Para aqueles que se machucam
Para aqueles que buscam e tentam sempre
E para aqueles que reconhecem
A importância das pessoas que passam por suas vidas.

Neste sonho, o mais bonito com certeza é o amor, que deve ser vivido por inteiro, sem medo da entrega, entretanto, algumas vezes dissimulado, porque profundo. Ora diz uma coisa, mas quer dizer outra, que muitas vezes cala o que sente vontade de dizer. Uma máscara. “Tudo o que é profundo ama a máscara: as coisas mais profundas, tem mesmo ódio à imagem e ao símile. (...) Há eventos de natureza tão delicada, que faríamos bem em soterrá-los e torna-los irreconhecíveis através de uma grosseria. (...) Esse homem oculto usa a fala para calar e guardar, é incansável em esquivar-se à comunicação, deseja e solicita que uma máscara ande em seu lugar, nos corações e nas mentes dos amigos; e supondo que não o deseje, um dia seus olhos se abrirão para o fato de que no entanto, lá está a sua máscara – e de que é bom que seja assim.” (PABM, 40 p.46)

Como neste poema atribuído a Clarice que também pode ser lido de baixo para cima.

NÃO TE AMO MAIS

Estarei mentindo dizendo que
Ainda te quero como sempre quis
Tenho certeza que
Nada foi em vão
Sinto dentro de mim que
Você não significa nada
Não poderia jamais dizer que
Alimento um grande amor
Sinto cada vez mais que
Já te esqueci!
E jamais usarei a frase:
Eu te amo!
Sinto, mas tenho que dizer
É tarde demais...

Falar dos poemas de Clarice é encontrar neles um pouco de cada um de nós, visto que ainda que tentemos camuflar, minimizar, amortizar certos sentimentos e pressentimentos, são tão humanos, demasiadamente humanos!


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BELCHIOR - letras.terra.com.br. Belchior

ABBAGNANO- Dicionário de Filosofia.São Paulo, Ed. Mestre Jou,1982.

LISPECTOR – cartas in www.pensador.info/poesias_clarice_lispector.

NIETZSCHE – ORIGEM DA TRAGÉDIA.São Paulo, Cia das Letras, 1992.

NIETZSCHE – GENEALOGIA DA MORAL. São Paulo, Brasiliense, 1988.

NIETZSCHE – PARA ALÉM DE BEM E MAL. São Paulo, Cia das Letras,1992.





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