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POEMA DE AMOR
À MANEIRA PRÉ-SOCRÁTICA
Neste instante
diante do brilho do sol
e diante da suave
doçura da luz
que declina sobre o cosmos,
dou-me conta
que tu és
minha água,
meu ar,
meu fogo,
minha terra.
Que és
infinita e persistente.
imperecível,
perene,
inextinguível,
pertinaz,
inesgotável.
Em ti me encontro
e me diluo.
Em ti me reúno
e me dissolvo.
E te amo
quando te moves
e quando não te moves.
Quando mudas
e quando não mudas.
Pois és o Princípio:
amoroso e erótico.
És a Causa:
primordial e sublime.
És Sedução ilimitada:
harmonia perfeita
da forma e do limite.
Concórdia consumada:
da beleza e da linha.
És fogo:
que nunca se extingue:
que me queima e me excita,
consome-me e me alimenta.
És a impossibilidade
lógica do não ser:
pois és.
E sendo existes
e existindo vives,
e vivendo és vida.
E sendo vida és duração...
E permaneces no infinito:
de nada careces.
Nada te falta:
és a plenitude do ser.
E sob o ardente sol
eu tento compreender
a infinidade de tua figura.
Tento entender
como a forma e o encanto
se uniram em teu corpo.
E depois percebo
somente
tua materialidade.
Teu existir sensível,
evidente, sensitivo,
visível, notório,
patente, indubitável.
E te vejo:
estás ali,
estás no lugar
que ocupas.
Estás no espaço de teu ser.
E teu lugar é teu lugar.
E nada te sobra
e nada te falta:
estás ali
plena e suficiente.
Estás no espaço
e no tempo.
E és matéria desejada.
Substância cobiçada.
E amo
os detalhes de tua natureza
e a realidade de teu prevalecer.
Amo tua alma:
plena e contingente.
Amo quando passas
da potência ao ato.
Da sensibilidade
à supra-sensibilidade.
E amo quando
posso percorrer
em tempo finitos
tua compleição infinita.
Amo quando me
revelas teu ser
e eu sei que és.
Amo quando és suficiente.
Quando não me faltas,
quando és,
quando não és ausência,
quando és plenitude.
Quando tua presença me basta.
Quando não és escassez,
nem vácuo.
Quando sou feliz somente
porque sei que existes,
e tão só porque existes.
Te amo
quando nada me é escasso
neste universo
porque tu estás aqui.
E parece que no mundo
não há nada mais que tu:
porque transbordas
e és profusão caudalosa.
Então penso
que no princípio eras água,
apenas água...
eras água de chuva,
água de uma lágrima,
água de um beijo,
água de um desejo,
água na cálida
umidade de teu corpo:
umidade primordial,
fundamental,
essencial,
inata,
primária.
Eras água...
singela água
na gênese de teu ser.
E então
penso no ar
mexendo teu cabelo
e induzo que és ar...
vento que vai e que vem.
Espírito desta terra
ensolarada e generosa.
És turbilhão
que atinge minha alma
e me infunde prazer,
és sopro essencial,
alimento saboroso.
E depois penso que és sol:
que és chama,
destelho e esplendor.
E te amo quando o sol
se detém em tua pele.
Amo ver-te sob o céu,
na sideral calma
de um meio-dia.
Te amo quando me entregas
o fulgor de teu olhar
e deixas em minha alma v
o gostoso sabor da vida.
E a teu lado sou grato.
Sob tua luminosidade
me encho de gratidão,
e me abro à suave
expectativa do devir,
e a fraternal lucidez
da simplicidade da tarde,
caindo benévola
sobre teu sorriso,
pelas ruas
de uma cidade
farta de vida.
Poema de Jorge Luis Gutiérrez (Chile)
Poema publicado no Livro
“Fragmentos de Ternura, Filosofia e Desterro”
São Paulo - 2006
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