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EU IA PENSANDO PELAS RUAS


Hoje,
quando uma magna primavera
acendia
as idílicas tochas da vida,
e te encontrei no Centro,
e me recebeste com um beijo
e caminhaste a meu lado:
eu ia pelas ruas perguntando-me
como seria este mundo sem ti;
como seria esta terra
se tu nunca tivesses nascido.

Eu pensava como seria,
se eu tivesse chegado
e tu nunca tivesses chegado.

Como seria esta cidade sem ti?

Pensava como seria o nada
tendo que conter
o nada de tua existência.
E como seria o vácuo,
sendo vácuo de ti.

E pensava como
seriam minhas mãos
se fossem as mãos
que nunca te tocaram
E como seriam meus lábios
sem nunca ter
roçado teus lábios.

E não podia imaginar meus olhos
sem esse fogo que me mandas
e faz que eu te veja.

E pensava como seria
a luz, se não te encontrasse,
e passasse por esse lugar
sem que tu fosses alumiada.

Como seria o abismo
no lugar que tu ocupas
em meus pensamentos?
Como seria minha alma
sem sentir-te e sem amar-te?
Como seria o tempo
sem o dia de nosso encontro?

Como seria o espelho
em que te penteias sem tua imagem?
Como seria essa cadeira se não
fosse a cadeira em que estas sentada?
E se o prato em que comes
não fosse o prato em que comes?
E se tua foto não fosse tua foto?
como seriam as folhas
sem teus poemas?
Como seriam as
linhas limpas de tua existência.?
como seriam as vozes do mundo
se lhe faltasse a tua?

Como seria minha espera
sem saber que é espera
e sem saber o que espero?
Como seria
esperar eternamente
algo que nunca chegará
porque nunca chegou a ser?

Como seriam minhas tardes,
se não fossem “tu estar-na-tarde”?

Se em vez de “estar-aqui”
fosses um “não-estar-aqui”,
um “sempre-vazio”,
um “não-ser” e “um não-estar”.

Como seria olhar para
onde estas e não ver nada?
Como seria esse lugar sem ti?
Como seria?!

E como seria eu sem que
me olhasses como me olhas?
Eu ia pensando pelas ruas...



Poema de Jorge Luis Gutiérrez (Chile)
Poema publicado no Livro
“Fragmentos de Ternura, Filosofia e Desterro”
São Paulo - 2006