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LITANIA DE OUTONO
Um diáfano abril
se propaga nas vitrines;
e a roupa que usas
é a evidência presente
de um momento outonal.
Teu olhar
ansioso de vida
se desenha a meu passo
e transluzes
a embriaguez fogosa
de um irresistível beijo.
E recolho algumas coisas
pelas ruas:
canções,
poemas,
imagens,
entardeceres,
ocasos,
pó de alguns caminhos
e a luz infinita de tua existência.
Vou recolhendo substâncias,
pois quero compor-te
uma litania.
Quero recolher
naturezas tuas
para minha litania jubilosa.
Quero fazê-la
exuberante e profusa,
acalentada pelo vento,
umedecida pela geada,
robustecida pelo tempo,
coberta de ardorosas metáforas.
E tens de florescer
na minha litanía de outono:
nela tens de abrilhantar-te
engrandecer-te,
alçar-te,
empinar-te,
subir-te,
arrumar-te,
inventar-te,
adoçar-te,
atessorar-te,
ascender-te;
e serás inesgotável
em minha letania.
Serás crescente,
forte,
firme,
consistente.
Uma litania de outono,
que fale que te amo
E que você fica linda
dormindo
no aconchego da cama
que te forje em minha alma.
Poema de Jorge Luis Gutiérrez (Chile)
Poema publicado no Livro
“Fragmentos de Ternura, Filosofia e Desterro”
São Paulo - 2006
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