ARTIGO - OPOSIÇÕES E CORRESPONDÊNCIAS EM MEMÓRIAS DE DUAS JOVENS ESPOSAS: UM UM ESTUDO DO DUPLO EM BALZAC

Danielli de Cassia Morelli Pedrosa

            Este estudo se propõe a identificar e analisar os aspectos de construção e organização das personagens Luísa de Chaulieu e Renata de Maucombe, na obra “Memórias de duas jovens esposas” de Balzac. Pretende-se destacar elementos da relação de duplo, estabelecida entre as personagens e do movimento especular sobre os quais toda a ação da obra é articulada. Essa dinâmica é apresentada em dois movimentos opostos que evoluem em intersecção - cada um representando os posicionamentos e a vida de uma das protagonistas – que, em constante contestação, mais do que alcançar uma complementaridade, acabam por nutrir o antagonismo, cada qual se fortalecendo e se consolidando em seu lado da polarização. Ao final, o fenômeno estabelecido a partir desse jogo dialético é o início de uma discussão fundamental para o delineamento de um novo tipo de representação social feminina, com toda sua bagagem de duplicidade e conflito, a saber: a mulher moderna.

            De forma geral, a obra se trata de uma extensa correspondência entre duas amigas de longa data, que ao abandonar o convento em busca de uma vida não religiosa, trocam as experiências vividas, cada uma em sua própria circunstância, descrevendo seus acontecimentos, sentimentos, ideias, planos e visão de mundo. Encontram-se também cartas do marido de Renata, dos dois maridos de Luísa e de um dos cunhados, todas necessárias para esclarecimentos dos fatos em si, sem que estas interrompam ou alterem o foco narrativo, que é a relação das duas personagens principais entre si.

            Segundo Ronai (2012), a primeira menção desta obra por parte do autor acontece em 1834 quando em cartas para sua noiva, Condessa Hanska, Balzac anuncia que vaiocupar-se “com as memórias de uma jovem esposa”. Apenas em 1841 define como título definitivo “Memórias de duas jovens esposas”, revelando inicialmente uma óbvia intenção de escrever, não em forma de cartas entre duas amigas, mas, sob a forma de memórias escritas por uma só. Muitas informações corroboram a ideia de que a primeira figura a ser imaginada por Balzac tenha sido Renata.Falas de Renata para Luísa, como “é que tu me afiguras uma outra eu mesma” ou como “Tu, querida Luísa, serás a parte romântica de minha existência” ilustram por si mesmas essa ideia.

            Evidências atribuem o quadro da vida conjugal de Renata, tão realista para os padrões da época, a confissões reais de uma amiga do autor, Sra. Zulma Carraud. A figura correspondente de Renata, Luísa, parece ter nascido de uma necessidade de melhor explicar a vida da primeira por meio de uma oposição.

            A temática do duplo é recorrente na literatura a partir do século XVIII, se num primeiro momento é utilizada como um reforçador da ideia de homogeneidade nos aspectos identitários, no romantismo passa a ser retomada do ponto de vista contrário, ou seja, da heterogeneidade. Nesse período o conceito de singularidade do sujeito é deixado de lado, consequentemente, trazendo uma fragmentação da ideia de eu. É da perspectiva dessa quebra de unidade do eu que o duplo heterogêneo surge, tornando-se várias vezes metáfora da busca pela identidade. Em sua heterogeneidade, o homem objetiva afirmar uma integralidade, uma unidade, uma identidade homogênea que precisa se re-pensar e se re-construir a cada instante. ¹

            A identidade se constrói por meio das relações com o outro. O eu só existe através do outro, o outro é aquele que nos direciona, só podemos definir nossa posição em relação ao outro. O processo de compreender-se só pode se realizar mediante a alteridade. O duplo é uma instância sempre presente, crítica e sempre gerando opiniões por parte de seu outro, já que é por meio dela que o sujeito constrói sua identidade.(Bakhtin, 1992) É desse movimento constante de compreender a si e ao outro através da constante oposição que surge a força dessa narrativa.

            A dicotomia Apolíneo-Dionisíaco - expressão referente aos mitos gregos de Apolo e Dionísio - foi popularizada por Nietzsche, na obra O nascimento da tragédia, como um contraste entre o espírito de racionalidade, ordem e harmonia intelectual, representado por Apolo e o espírito da espontaneidade e do êxtase, representado por Dionísio.

           

No que tange à arte e a vida podemos denominar apolíneas as manifestações que expressem exatidão, harmonia, prudência, ilusão (como por exemplo, as artes plásticas) e dionisíacas as manifestações que expressem desmedida, vibração, autenticidade (como, por exemplo, a música, o sofrimento, o sexo) entre outras. ²



            Apolo surge como um deus de ‘poderes configuradores’, pois governa a forma, a proporção, a perspectiva (entre outros elementos) gerando harmonia e a ‘ilusão’ da bela aparência das coisas. É o mito que representa a semente do pensamento racional, desenvolvido posteriormente pela filosofia, trata de experiências que se relacionam com a exatidão, característica própria da razão, sendo que mesmo a fantasia apolínea nasce da crença na supremacia da objetividade, da dominação da vida por meio de artifícios reflexivos. O caráter apolíneo, de propensão filosófica, possui o dom de considerar homens e todas as coisas como imagens oníricas e interpreta a vida através dessas imagens. Através de uma limitação mensurada por elementos racionais, de uma liberdade em face das emoções mais selvagens, desfruta de uma sapiente tranquilidade e de uma ênfase no princípio da individuação (conceito junguiano que descreve o processo através do qual o ser humano evolui de um estado infantil de identificação para um estado de maior diferenciação, o que implica uma ampliação da consciência).

           

Apolo, como divindade ética, exige dos seus a medida e, para poder observá-la, o autocontrole. E assim corre ao lado da necessidade estétetica da beleza, a exigência do ‘conhece-te a ti mesmo’ e ‘nada em demasia’, ao passo que a auto-exaltação e o desmedido eram considerados como os demônios propriamente hostis da esfera não apolínea. (Nietzsche, 2007, p.370)



            No duplo balzaquiano, cabe a Renata o caráter apolíneo, tem esse papel reafirmado pela própria parceira de dualismo em falas como as que se seguem: “Portamo-nos as duas de modo bem singular: muita filosofia e pouco amor, é o teu lema; muito amor , pouca filosofia, o meu.” (Balzac, 2012, p. 351) “Ó minha sublime Renata, acho-te agora muito grande! Dobro os joelhos diante de ti, admiro tua profundeza e tua perspicácia.” (Balzac, 2012, p. 404) “Querida imbecil, a tua carta bem mostra que só conheces o amor teoricamente.” (Balzac, 2012, p. 440) “O que vais classificar de minha loucura, minha Renata, eu a quis realizar só por mim...” (Balzac, 2012, p. 467).

            Ao aceitar o papel imposto pelos pais, de casar-se cedo com um homem mais velho e conveniente, imediatamente a personagem se apropria de uma severidade e de uma maturidade pouco esperada numa moça tão jovem. De quase noviça a espécie de oráculo, Renata desliza por sua trajetória previsível, recheada de estratégias de ascenção social e econômica, numa posição bastante confortável enquanto soberana de um marido velho totalmente submisso e, senhora de si, através de um controle milimétrico e ferrenho de cada emoção e desejo que a sorte poderia lhe trazer. Em raras exceções, quando confrontada pela felicidade amorosa de Luísa, demonstra algum sentimento pelo fato de ter aberto mão de suas ansiedades adolescentes pelo amor e consola-se sempre na possibilidade do amor materno, embora reconheça que a presença de Luísa e de sua oposição lhe possibilita manter-se em seu equilíbrio apolíneo, apesar de constamentemente lhe criticar os “desvarios”.

            Apolo deseja sempre conduzir os seres a uma vida sensata e tranquila, traçando linhas fronteiriças entre eles e trazendo à sua memória, através de exigências de autoconhecimento e comedimento, que tais linhas são as mais sagradas do mundo. (Nietzsche, 2007) No caso de Renata, tais linhas estruturantes são as normas sociais e as exigências culturais da época, suas imposições ao papel feminino adequado. Embora seja impossível não comentar, que ao contrário do que era esperado pelos padrões de então, Renata se torna a franca soberana de sua casa. Ainda que mascarada pelas aparências para não ridicularizar o marido, fica explícito em toda a narrativa, que uma jovem de 17 anos dominava e conduzia um marido de 37 em todas as coisas, realizando a contento cada uma de suas ambições.

            No discurso da persongem são explícitas as características formais do caráter apolíneo. Em cartas recheadas de descrições imagéticas e de análises filosóficas, todos os outros personagens e as circunstâncias surgem como elementos de um quadro sobre o qual ela reflete, analisa e disserta. Construindo para si mesma e apregoando a Luísa, as bases da ilusão de um controle absoluto – sobre si mesma, sobre a vida, sobre as pessoas que a cercam e sobre o destino – e através da qual estabelece suas escolhas e posicionamentos de vida, como demonstram suas falas abaixo:

           

..vejo a vida como uma dessas grandes estradas da França, lisa e suave, sombreada por árvores eternas.(Balzac, 2012, p. 305) Minha vida está agora determinada. A certeza de seguir por um caminho traçado convém igualmente ao meu espírito e ao meu caráter. Uma grande força moral corrigiu para sempre o que denominamos os acasos da vida. (Balzac, 2012, p. 324) Se empreendo reerguer esse caráter deprimido, restituir seu brilho às qualidades que nele entrevi, quero que tudo pareça espontâneo em Luis. Tal é a tarefa suficientemente bela que me impus e que basta para a dignidade de uma mulher. (Balzac, 2012, p. 345) Estudei cruelmente o papel da esposa e da mãe de família. (Balzac, 2012, p.365) Durante essa vida animada por festas (...) e à qual assisto como a uma peça teatral bem representada, eu levo uma vida monótona e regrada, à semelhança da vida de convento. (Balzac, 2012, p. 395)



            A individuação apolínea, revelada num desejo perene de proteger seu verdadeiro eu, evitando emiscuir-se no outro, o que representa o oposto do anseio dionisíaco pela unificação, é muito bem ilustrada por Renata ao dizer que “Permanecendo na solidão, uma mulher nunca se torna provinciana, conservando-se o que é.” (Balzac, 2012, p.325) ou em “eu muito desejava permanecer nessa bela estação da esperança amorosa, que, não gerando o prazer, deixa à alma a sua virgindade”. (Balzac, 2012, p.341)

            Assim como em Nietzsche, sem a relação fraterna complementar Apolo-Dionísio, a tragédia não seria um espetáculo possível - pois sem Apolo ela perderia seu caráter mimético e sem Dionísio perderia o vigor e a expressão de vida, tornando-se apenas uma expressão formal e uma supremacia da razão – não seria possível uma Renata sem Luísa, o que parece ter sido bem intuído e bastante investido por Balzac na construção das personagens. Renata sem Luísa não passaria de um diário de uma jovem casada ao gosto dos costumes da época, às voltas com suas múltiplas obrigações de mãe e dona de casa ambiciosa, por sua vez, Luísa sem Renata traria talvez as delícias e martírios de uma jovem passional e espontânea em conflito com as exigências da sociedade, lugar comum nos romances do século XIX. Já as oposições e correspondências entre as duas, acentuadas pelo estilo epistolar que enriquece muito a narrativa ao permitir maior ingresso no universo subjetivo das personagens, acaba por transformara obra em uma criação de “extraordinária penetração psicológica, com intensa dramaticidade” (Ronai, 2012, p.271) que pode ser considerada de fato uma grande obra e com uma sofisticada atmosfera trágica, que dificilmente poderia ser produzida de outra forma.

            Como possível primeiro vértice do duplo, Renata retrata Luíza num tom profético que sempre destaca seus lugares antagônicos e sua ligação de almas:

           

Em que sociedade brilhante vais viver! Em que tranquilo retiro terminarei eu minha obscura carreira! (Balzac, 2012, p. 301) Enquanto te preparas a colher as alegrias da mais ampla existência, a de uma srta. de Chaulieu, em Paris, onde reinarás, tua pobre corça, Renata, essa filha do deserto, caiu do empíreo onde nos alcandorávamos nas realidades vulgares de um destino simples de uma margarida. (Balzac, 2012, p.305) Tu, querida Luísa, serás a parte romântica da minha existência. (Balzac, 2012, p.306) Afligiste-me sem querer, e, se não fôssemos duma única alma, eu diria que me feriste, mas não nos ferimos também a nós mesmas? (Balzac, 2012,p.362) Tuas cartas dão um sabor passional `a uma vida doméstica tão simples, tão tranquila, uniforme como a estrada real num dia de sol. (Balzac, 2012, p. 373) ...teus amores parecem-me um sonho! Por isso sinto dificuldades em compreender como os tornas tão românticos. (Balzac, 2012, p.396) Das duas eu sou um pouco a Razão, como tu és a Imaginação; eu sou o grave Dever, como tu és o louco Amor. Essse contraste de espírito que não existia senão para nós duas, à sorte aprouve continua-los nos nossos destinos. (Balzac, 2012, p.432)



            Surge então Luísa - provavelmente a segunda criada pelo autor, mas a primeira a surgir no romance - dotada de um caráter dionisíaco ilustrado até mesmo por uma profunda relação com a música, arte dionisíaca por definição: “Unicamente a música me encheu a alma, só ela foi para mim o que foi a nossa amizade.” (Balzac, 2012, p.319)

            Dionísio aparece como oposição à ilusão apolínea de controle. Entre outros atributos, é “o deus da vida, da metamorfose, da desmedida, da morte, do sexo, da dor e da música. “² Dionísio é a expressão da vida autêntica, “na qual a alegria é vivida quando a situação o pede e o sofrimento não é negado quando a dor se lhe apresenta”². Insta a uma experiência de vida sem artifícios, espontânea, verdadeira, onde a dor é vivenciada sem anestésicos metafísicos, em total oposição ao caráter simétrico e harmonioso de Apolo. Através do caráter dionisíaco, acontece um lançar-se à radicalidade da vida, para a realidade dos revezes do destino. É comum uma associação dos cultos dionisíacos com o estado de embriaguez e desenfreada licença sexual, que conduz a um esquecimento de si próprio e a uma libertação de si mesmo culminando num entusiasmo, resultado da possessão pelo deus. Desta forma, o indivíduo com todos os seus limites, afunda numa espécie de auto-esquecimento e com ele, esquece-se também dos preceitos apolíneos, o desmedido surge como a verdade, toda a contradição da existência humana aparece com suas dores e prazeres, surgindo como do coração da natureza. Não se fala mais de ascese, espiritualidade ou dever, apenas de uma opulenta e triunfante existência.

           

...o único Dionísio verdadeiramente real aparece numa pluralidade de configurações, na máscara de um herói lutador e como que enredado nas malhas da vontade individual. Pela maneira como o deus aparentemente fala e atua, ele se assemelha a um indivíduo que erra, anela e sofre. (Nietzsche, 2007, p.67)



            Luísa demonstra em cada carta, em cada observação, em cada descrição, tamanho entusiasmo e magnetismo, que torna impossível ao leitor uma não identificação instantânea. Toda sua sede de viver e sua curiosidade pela vida são reveladas a cada situação vivenciada e na maneira como a personagem muito mais sente, do que pensa as situações. Existem uma verdade e uma espontaneidade características em Luísa, que a despeito de sua inteligência e de sua perspicácia, acabam por dominar suas escolhas, nem sempre acertadas e quase nunca precavidas. Aspectos preponderantes de seu caráter passional se revelam constantemente em sua fala:

           

É uma vantagem imensa não ser uniforme. (Balzac, 2012, p.293) Sinto ainda vivamente o golpe desse primeiro choque de minha natureza franca e alegre com as duras leis do mundo. (Balzac, 2012, p.315) O amor é, certamente, uma enncarnação, e que condições não serão necessárias para que ela se realize! (Balzac, 2012, p.319) Há não sei que apetite em mim para as coisas desconhecidas ou, se quiseres, proibidas, que me inquieta e revela, no meu íntimo, um combate entre as leis da natureza e as da sociedade, mas surpreendo-me a fazer transações entre essas potências. (Balzac, 2012, p.374)



            Em toda a obra de Balzac observa-se uma preocupação intensa e, inclusive admitida pelo próprio, pela retratação autêntica dos costumes de sua época. É nítida em toda obra balzaquiana essa nuance visionária que lhe permite intuir, através dos acontecimentos históricos, políticos, econômicos e sociais, o sentido de seu tempo, identificando as potências anônimas e as forças do invisível, suas tendências e probabilidades. Ainda que se atribuam muitas vezes ao autor a alcunha de conservador, o mesmo não consegue evitar ver-se fascinado por personagens que escapam ao seu controle como Luísa de Chaulieu, exatamente por não se encaixarem nas exigências e papéis de sua época. Talvez desse fascínio tenha surgido essa leitura da história em colisão constante com a progressão romanesca evidenciada na construção dessas duas personagens. ¹

            Embora o desfecho trágico de Luísa corresponda exatamente ao apogeu de Renata, quando da conquista de todas as suas ambições: Paris, os filhos, a ascensão do marido e sua afirmação como grande dama da sociedade, Balzac não nega a Luísa a dignidade de sua escolha, uma vez que seus amores foram verdadeiros, demonstrando aqui uma equivalência dos contrários e uma autenticação da importância de cada um. Ao final, ao ver a amiga morta (seu duplo), de coração despedaçado, Renata chama pelos filhos, a base sobre a qual todo sentido de sua vida e de seu controle ilusório fora construído, sem Luísa lhe resta apegar-se a eles para manter-se viva.

            A correspondência entre as personagens se dá, não só por sua visão de mundo e características pessoais, mas também na forma como o autor trabalha as relações detempo e de espaço. Se de início temos Luísa debutando em Paris e Renata começando uma vida de casada provinciana, vemos aos poucos as duas invertendo tudo, Luísa morrendo ao final, isolada em um chalé no campo enquanto Renata acompanha o marido em seu sucesso profissional e social em Paris. Enquanto Luísa, sem conseguir gerar filhos, se aprofunda nas experiências amorosas por dois homens diferentes, em dois momentos diferentes, em duas relações muito diferentes, hora sendo adorada, ora adorando, Renata gera três filhos a quem se dedica e com quem se relaciona mais profundamente na impossibilidade de entregar-se amorosamente ao marido, sentido sempre como homem inferior, a quem cabia a ela elevar. Se no início temos a sensação de que Luísa abre-se para a vida, enquanto Renata se enclausura, ao final, temos o sacrifício de Luísa em prol da ascensão de Renata, concluindo a dualidade das personagens.

            Seguindo o conceito de Antonio Candido, em que “o escritor dá a personagem, desde logo, uma linha de coerência fixada para sempre, delimitando a curva de sua existência e a natureza de seu modo de ser” (1995, p.59), concluímos que na obra citada, onde o duplo Luísa-Renata se contrapõem constantemente em valores renovadores e conservadores da sociedade vigente, observa-se através da natureza de cada personagem e de suas relações, um trabalho de revisão constante de questões fundamentais para a construção de uma nova identidade feminina, díades como: dever x paixão, amor x maternidade, dependência x autonomia, dominação x submissão, são discutidas exaustivamente e organizados num posicionamento apolíneo x dionisíaco por si mesmo muito produtivo. Acompanha-se no enredo o desdobramento das escolhas das personagens, sendo que o destino de cada uma define e é definido pelo da outra, não de forma intencional, mas de forma especular. Deste modo, destacamos a importância desta obra ao discutir questões pertinentes, ainda hoje atuais, revelando a multidimensionalidade do autor, a acuidade de suas percepções e a atemporalidade de suas contribuições.

Referências bibliográficas: BALZAC, Honore de. A Comédia humana: estudos de costumes: cenas da vida privada. Memórias de duas jovens esposas. 3. ed. – São Paulo: Globo, 2012.
RONAI, Paulo. Balzac e a Comédia Humana. 4.ed. – São Paulo: Globo, 2012.
NIETZSCHE, Friedrich. O Nascimento da Tragédia. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.
ALVAREZ, A.G.R.; LOPONDO, L. (org) Leituras do Duplo. São Paulo: Universidade Presbiteriana Mackenzie, 2011.
BAKHTIN, Mikhail. Marxismo e Filosofia da Linguagem. 12 ed. São Paulo: Hucitec, 2006.
CANDIDO, Antonioet al. A personagem de ficção. São Paulo, Perspectiva, 1987.
PERROT, Michelle. História da vida privada : da Revolução Francesa à Primeira Guerra . v. 4, São Paulo, Companhia das Letras, 1991.

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NOTAS
¹ Disponível em:
GALLI, Joice Armani. 1997. A representação da mulher em Cenas da Vida Privada de ‘A Comédia Humana’, de Honoré de Balzac. Dissertação de Mestrado em Letras – Programa de Pós Graduação/Instituto de Letras e Artes/PPGL/ILA. Porto Alegre: PUCRS, 51 F.
http://verum.pucrs.br/F/?func=find‐local_base=puc01&find_code=SYS&request=000155922 ² Disponível em:
http://www.ufsj.edu.br/portalrepositorio/File/existenciaearte/Edicoes/2_Edicao/O%20APOLiNEO%20E%20DIONISiACO%20COMO%20MANIFESTACOES%20DA%20ARTE%20E%20DA%20VIDA%20%20Fernanda%20Belo%20Gontijo.pdf Referências bibliográficas:
BALZAC, Honore de. A Comédia humana: estudos de costumes: cenas da vida privada. Memórias de duas jovens esposas. 3. ed. – São Paulo: Globo, 2012. RONAI, Paulo. Balzac e a Comédia Humana. 4.ed. – São Paulo: Globo, 2012. NIETZSCHE, Friedrich. O Nascimento da Tragédia. São Paulo: Companhia das Letras, 2007. ALVAREZ, A.G.R.; LOPONDO, L. (org) Leituras do Duplo. São Paulo: Universidade Presbiteriana Mackenzie, 2011. BAKHTIN, Mikhail. Marxismo e Filosofia da Linguagem. 12 ed. São Paulo: Hucitec, 2006. CANDIDO, Antonioet al. A personagem de ficção. São Paulo, Perspectiva, 1987. PERROT, Michelle. História da vida privada : da Revolução Francesa à Primeira Guerra . v. 4, São Paulo, Companhia das Letras, 1991. GALLI, Joice Armani. 2000. A construção da personagem feminina em ‘Memórias de Duas Jovens Esposas’ de Honoré de Balzac. In: Revista ORGANON 28/29, Estudos da Língua Falada/Seção Livre, Vol. 14. Instituto de Letras/UFRGS. ISSN eletrônico: 2238‐8915 GALLI, Joice Armani. 1997. A representação da mulher em Cenas da Vida Privada de ‘A Comédia Humana’, de Honoré de Balzac. Dissertação de Mestrado em Letras – Programa de Pós Graduação/Instituto de Letras e Artes/PPGL/ILA. Porto Alegre: PUCRS, 51 F. http://verum.pucrs.br/F/?func=find‐local_base=puc01&find_code=SYS&request=000155922> .


Danielli Morelli




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Danielli Morelli

É Doutoranda em Letras e Literatura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Possui Mestrado em Letras e Literatura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Possui Graduação em Letras (Português e Inglês) pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (2015). Possui Graduação em Psicologia pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (2001). Tem experiência como professora na área de Letras, com ênfase em Literatura. Tem experiência como Psicoterapeuta na área de Psicologia Clínica.