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MÍDIA, CULTURA E EDUCAÇÃO: UMA DISCUSSÃO SOBRE AS FERRAMENTAS DIGITAIS PARA SE REPENSAR A INCLUSÃO DIGITAL


Heinrich Fonteles (Mackenzie)


RESUMO

O presente texto tem por objetivo identificar as possibilidades de uso da ferramenta blog como semântica educativa e comunicativa elaboradas a partir de atividades virtuais produzidas pelos alunos de alguns cursos de Licenciaturas como ferramenta de apoio às atividades de inclusão digital visando uma inclusão social. Por meio de um estudo de caso, busca-se estudar os blogs propostos como protótipo para análise dos conceitos estudados nas disciplinas - Educação e Novas Tecnologias e Tecnologias da Informação e Comunicação dos cursos de licenciatura de Pedagogia e Química e na disciplina de Teorias da Mídia do curso de jornalismo. Fundamentamos esse estudo nos conceitos das teorias culturais da comunicação articulado aos conceitos de educação como projeto de cidadania numa proposta crítica de educomunicação. Os blogs apresentam estruturas que possibilitam conectâncias que permitem certa construção de conteúdo colaborativo favorecendo uma relação entre os participantes.


Palavras-chave:
Tics; Inclusão digital; Licenciaturas; Blogs; (in)comunicação.




INTRODUÇÃO: BLOGS COMO ARTE-LINGUAGEM E AMBIENTE DE ESTUDO

Se considerarmos arte como espaço no qual os sujeitos podem experimentar, colocar as mão, sentir por outros meios e recolocar o mundo em outros ambientes para pensá-lo de forma mais poética, recriando-o na própria experimentação, julgamos a possibilidade desta atividade como um atelier virtual, na qual a tela eletrônica substitui a tela convencional. Nesta tela, muitas mãos se entrelaçaram para pensar possibilidades, testar e conjungar (novas) ferramentas, verificando as novas funções destas para até pensar e avaliar os desvios possíveis delas. E isto é possível quando se faz algo tendo uma mentalidade artística.

Nesse sentido, entendemos que as individuações são substituídas pelo coletivo. A assinatura do artista aqui é apagada pela ação coletiva. Assim como um grupo de engenheiros podem pensar juntos um projeto em equipe, os blogs experimentados pelos alunos e docente têm esta dimensão. A pretensão é fazer arte, hibridada com educação e tecnologia como possibilidade educativa, levando os professores em formação para experimentar os usos dos instrumentos tecnológicos. Mas não um uso mecânico em si, se não estaríamos apenas fazendo técnica. Mas para aprender sobre os instrumentos, refletir sobre seus usos e possibilidades, com o objetivo de provocar quebra de paradigmas, pela percepção e entendimentos que os ruídos advindos da criação podem causar.

Assim, os blogs desenvolvidos até o presente momento nos cursos de licenciatura de Pedagogia e Química têm como proposta articular teoria e prática de fomra poética, pois a pensar dos alunos e os resultados não estavam regidos por uma agenda determinada. Mas pretendíamos provocar e problematizar a temática da inclusão digital e usos das Tics para construção de ambientes com possibilidades conectivas objetivando o estabelecimento de relações e interações entre o conteúdo dos cursos e possíveis receptores – no caso os alunos da graduação para que estes possam avaliar os conteúdos destinados aos alunos(as) do ensino médio freqüentadores de Lan Houses (Local Area Net), repensando se possíveis LanEscolas pudessem ser pensadas dentro e fora da escola.

A construção projetada visando conteúdos de química geral e Pedagogia, sem formalizações de aplicações, devido ao próprio espaço em construção, não se configuram como laboratório, e sim como um espaço virtual de conceitos teóricos para educadores(as), tendo como motivação uma espaço conectivo de conceitos da química[1] e uma wikipédia pedagógica, chamada de Pedagopédia[2]. A primeira plataforma pensada como linguagem foi o moodle, mas dada a formação anterior dos alunos decidiu-se por uma linguagem simples de computador para construção dos blogs.

Os blogs são compostos por elementos de texto, hipertexto, links com o objetivo de favorecer conectâncias. Obviamente não foi possível desenvolver interfaces hápticas, combinando os sentidos humanos com o contato gerados com o computador. Esta etapa poderá ser desenvolvida futuramente. Nesse caso presente, o usuário irá navegar e ser direcionado para possibilidades de leituras, imagens, questões simples no intuito de fazer com que alguns conceitos de educação e, principalmente de química, tão complexos e muitas vezes não tão bem assimilados em sala, sejam explorados e experenciados em outro ambiente – o virtual, com o objetivo de problematizar se o ambiente virtual põe os conceitos de química e pedagogia em um espaço inautêntico – a mídia, para (re)pensarmos em estratégias que evitem o processo de vulgarização proposto por E.Morin (1997). Processos esses que acabam simplificando, binarizando e maniqueizando os conteúdos que por fim incomunicam aquilo que se pretende, ou seja, levam o usuário a navegar pelo blog como mero entretenimento.

Uma das formas para que se evite isso aconteça, é entendermos a mentalidade dessa juventude. Os futuros docentes precisam reaprender como os jovens de hoje pensam, sentem e se comportam para poder interagir, propor atividades para eles. Primeiro pilar pensado por Delors (2003) aprender a conhecer. Pensar o outro, é se colocar no lugar deste. Daí colocar os alunos de licenciatura para criar e repensar novas formas de ensinar. olocar os alunos de licenciatura para criar e repensar novas formas de ensinar, refletindo sobre perdas e ganhos possntem e s


NOVOS SUJEITOS MIDIÁTICOS?

Na atualidade, vivemos na era mídia, num momento histórico em que os meios de comunicação exercem uma força extraordinária sobre os sujeitos; as produções culturais adquirem um novo status, principalmente, na medida em que os sujeitos identificam a mídia como novo lócus social. Assim, por acreditarem nesse novo espaço, passam a organizar suas condutas e vivências a partir dessas imagens produzidas. Depositam certa “fé” no que atestam.

E esta perspectiva é facilmente observada em diversos espaços por onde andamos. Além de estarem presentes em ambientes como empresas, escolas, hospitais, as imagens invadiram os espaços, dividindo o território entre nossos corpos e seus suportes. Já não parece ser mais novidade a loja de lan-house em nosso meio. Virou um estabelecimento oficial da juventude. Se pensarmos em objetos nos quais as pessoas parecem fascinadas, citamos o aparelho celular. Por meio deste instrumento, já se pode jogar, acessar o banco, enviar mensagem, até ser guiado por um aparelho de gps acoplado ao mesmo. As raves e outros megaeventos utilizam deste instrumento como meio para divulgar e informar os participantes sobre os próximos passos do evento. As pessoas parecem estar encantadas com as câmeras instaladas em vários espaços públicos e no ambiente privado. Observar e ser observado estão ultrapassando os limites do voyeurismo. Segundo a revista Veja uma nova mania está em curso “(...) entre alguns internautas de carteirinha é revelar ao vivo a intimidade na rede.”. (Revista Veja, 2007:100-101). Não basta mais ter um blog, vídeoblog, ser membro de uma comunidade virtual, o que vale agora é estar visível e disponível a toda hora e quem sabe estabelecer contatos imediatos com outros observadores.

Conforme Fonteles (2008), se nesse tempo atual a mídia adquire tal status, podemos pensar que os sujeitos nascidos sob este tempo poderiam ser pensados como “sujeitos midiáticos”. Seriam sujeitos cujas produções culturais estariam de alguma forma permeados por este jugo midiático. E assim, acreditariam que é neste espírito e por meio deste espírito que as coisas funcionariam.

São pessoas que já nascem imersas nesta nova ambiência midiática, cujos aparelhos, programas parecem ser “amigos” bem próximos. Bem diferente das gerações anteriores que precisam aprender e se acostumar com toda esta parafernália eletrônica. Para os jovens as produções culturais da indústria cultural parecem ascender um status ontológico nunca antes imaginado.

Observamos que o contato prematuro desses sujeitos facilita todo um processo que os fazem admiradores das engenhocas eletrônicas. O que estes instrumentos carregam em si parece encantar a todos.

A comunicação, para além do paradigma da funcionalidade, revela-se como algo muito maior: um ato de amor. Nesse sentido, a comunicação pode ser também entendida como “estar em comunhão”. Contrera (2005) nos evidencia a raiz comum das palavras – comunicação e comunhão, que no percurso histórico da humanidade se divorciaram, no qual comunhão se alinhou à religião e comunicação ao pensamento técnico-funcional ou à máquina de guerra.

Nessa perspectiva, a comunicação se apresenta como processo de construção de vínculos e não apenas como um mero processo de transmissão e recepção de informação, conteúdo e imagem. Aquele que deseja comunicar-se deve tentar construir vínculos.

Segundo Baitello Jr. (2005), o sujeito primevo e em contato com seu grupo, respondia aos apelos, aos chamamentos do outro, por meio de seus sentidos. Estavam todos abertos ao campo sensorial da alteridade. Os atos comunicativos, no contato face-a-face, eram burilados não só no contato com o outro, mas também aperfeiçoados na construção dos sonhos, num ambiente em que apenas o pensar, de olhos fechados, era suficiente para relacionar as imagens externas com as memórias internas.

Como citado anteriormente, tais referências começaram a ser mediadas por suportes e imagens que projetam realidades superficiais, cujos sentidos, a não ser a visão e a audição, são embotados ou sedados. Nesse processo de comunicação, em que está envolvido algum tipo de aparato técnico no meio dos locutores, diz-se que há uma comunicação mediada. E a distância entre interlocutores é que se avizinha. A ausência presentificada pela imagem substitui os vínculos reais, os conflitos. O aparente é dado como real.

Mais do que vínculos, suspeitamos que os processos de comunicação mediados pelas máquinas só logram sucesso se estes forem abstraídos da sua materialidade fria e mecânica, sendo considerados um “elemento amigo”, no qual o sujeito confie. Assim, a mídia se reveste de uma simbologia imperceptível aos olhos desatentos.

Acreditamos que a funcionalidade da máquina midiática não responde a questão da vinculação. Cremos que outro tipo de vinculação se instaura, estimulando o consumo, ao partir da necessidade do sujeito de ter algo que o vínculo e dê um sentimento de pertencimento. No vácuo do totem, as tecnologias parecem preencher este vazio. No vazio do ritual, o espetáculo, ritual esvaziado de fé e sentido, produz um simulacro, um fingimento, revestindo a mídia de um valor ontológico jamais imaginado.

Segundo Baitello Jr. (2005), a natureza dos vínculos requer tempos e espaços determinados nos quais estes possam ser fortalecidos. O tempo lento favorece maior aproximação, consolida os laços sociais e familiares, e predispõe considerar a diferença. E para que sejam fortalecidos, esses vínculos precisam ser nutridos. Já os espaços, para que tonifiquem esses laços sociais, necessitam da interação e da interiorização no espaço do outro.

Essa ideia é posta em questão nesta nova era midiática, pois os sujeitos, segundo a revista Época, se falam por comunicadores instantâneos e sites de relacionamentos. Não necessitam da presença física para se comunicar. Muitos nativos têm a primeira experiência de namoro na rede. (Revista Época, 2007: 85). Muitos dominam vários jogos eletrônicos tais como GTA, SPORE, Club Penguin dentre outros. A estética da interação, da participação e muitas vezes da imersão proporcionada por tais jogos colocam o virtual em patamares de realidade. As vendas nesse segmento crescem a cada dia.

Observamos, aqui, que a indústria cultural, através de seus tentáculos, no caso, a mídia eletrônica, procura preencher justamente estes vazios causados pelo afastamento do homem em relação aos seus pares e à própria natureza. O desencantamento, resultante do desenvolvimento da técnica em ocasião do surgimento da indústria, deixou o homem oco, procurando caminhos outros para se vincular.


IMAGEM DE CONTEÚDOS VULGARIZADOS - CAMINHOS PARA INCLUSÃO SOCIAL?

Continuando as discussões propostas e para que o cidadão exerça de forma crítica seu papel na sociedade, o acesso a informação é essencial, mas considera-se que este acesso seja de qualidade. A qualidade da informação disponibilizada ou o acesso sem a construção de discernimento e mediação educativa pode como afirma Morin (1997), (apud Fonteles 2008) vulgarizar a cidadania devido ao acesso a uma informação e conhecimento vulgarizados, cuja simplificação, despolitização, binarização transformam os acessos aos conteúdos em meros produtos de entretenimento a serem consumidos nos tempos de lazer, não necessária e prioritariamente em tempos de formação e construção de conhecimentos. Assim, os acessos e usos da “Rede” possibilitam aos sujeitos uma participação na informação e não necessariamente do conhecimento, não gerando saberes e nem ciência, pois está em questão a construção de conhecimento por parte destes. Aspecto este considerado importante para alavancar uma sociedade, sua economia, sua sustentabilidade e futuro.

Nessas categorias, explicadas por Morin, para que uma imagem/obra seja simplificada deve conter os seguintes elementos: esquematização de intrigas, redução do número de personagens e dos caracteres a uma psicologia clara. Devido à natureza presente da cultura de massas, com ênfase no máximo consumo, a obra necessita que sejam suprimidos os níveis de complexidade, tornando-a mais inteligível e de fácil entendimento.

Quanto à maniqueização, a obra deve apresentar elementos do binarismo na estrutura da narrativa. Tal estrutura causa a participação afetiva do telespectador. Atualiza-se a obra por esquemas de psicologia e dramatização no seio da obra do passado; assim, aplica-se uma idéia, um conceito contemporâneo na antiguidade mais remota. Mais radical que a atualização, a modernização opera uma transferência pura e simples da ação do passado para o tempo presente, ou seja, um texto de uma narrativa do passado é reaplicado no presente, sem recontextualização. Um conteúdo eminentemente despolitizado configura a composição. Vale jogos, animação, som, hiperlinks, nonsense, sátiras.

Nesse formato apresentado acima, observamos que muitas informações produzidas pelos meios de comunicações fazem um sincretismo entre informação e romance. Exemplos dessa vulgarização são observáveis no filme “Olga”, exibido recentemente sobre a vida de Olga Benário[3], no qual foram suprimidas as lutas revolucionárias, os elementos históricos e críticos do enredo para enaltecer os valores românticos.

Esses processos, que vulgarizam uma obra, tornando-a mais fácil de ser assimilada, são uma das peças fundamentais da indústria cultural, que precisa produzir em larga escala, distribuir no mercado de consumo produtos que sejam consumidos no momento de lazer do homem moderno, sob diversas formas (informações, jogos, por exemplo), mas particularmente sob a forma de espetáculo. (Morin,1997:77).

Apontamos que as participações estéticas são intensas, e ao mesmo tempo "desligadas" de compromissos sociais; também que os objetivos dos processos de vulgarização são tornar algo complexo simplificado, mais fácil de ser assimilado e, assim, melhor compreendido; sabemos também que através dos esquemas de projeção-identificação, o emissor tem a intenção de se comunicar mais efetivamente com o receptor, persuadindo-o, dando credibilidade à cena por meio da presença de elementos de verossimilhança e veracidade.

O estudo dos Blogs visa justamente permitir que os alunos em formação observem estes conceitos elaborados por Morin para problematizar questões sobre o uso de objetos tecnológicos como ferramenta de estudo, e principalmente a distância, questionando alguns aspectos importantes da comunicação, tais como vínculo, interatividade, conectividade, ambiente, e relação.

Para tal foi necessária uma construção interdisciplinar entre os alunos dos cursos de licenciatura e jornalismo com o objetivo de identificar e estudar as mudanças provocadas pela construção dos blogs nos conteúdos, pontuando o que precisaria ser reduzido, limpo, apagado nos textos, vídeos e apresentações procurando analisar como o conteúdo seria alterado, e quais significações seriam possíveis a partir de tais mudanças elaboradas pela construção do trabalho.


EDUCAÇÃO E INCLUSÃO DIGITAL: UMA POSSIBILIDADE DE CIDADANIA

Já não é mais novidade a quantidade e proliferação de meios privados e políticas públicas voltadas a essa questão proposta. Jovens de diversas classes frequentam as famosas LAN houses (Local Area Net) e vários (tele)centros que são instalados nas comunidades, visando aproximar os sujeitos dos processos mediatórios das Tics como possibilidade de inserção e ascensão social.

Nesse sentido, a ideia da inclusão digital tem se colocado como mecanismo indispensável para formação dos jovens nessa sociedade contemporânea, e também é muitas vezes apregoada como uma forma de democratização do acesso às Tics (tecnologias de informação e comunicação), e que por si só esse acesso seria o suficiente como oportunidade de ampliação de conhecimentos. Acredita-se que, ao inserir, na era da informática, o maior número possível de usuários, ampliar-se-ia o conhecimento de mundo e consequentemente geraria uma maior consciência social, principalmente aos mais desprovidos. E isto seria e garantiria uma inclusão social.

Ora para pensarmos e irmos direto a centralidade da questão, colocaríamos tal discurso no campo da utopia. As tecnologias seriam por si sós capazes de determinar a inclusão social por meio da digital, ou simplesmente introduzem novos elementos de desigualdades sociais? O que essa disseminação revela e esconde?

Observemos as mudanças na economia global. As demandas econômicas exigem um novo tipo de profissional, cujas habilidades e capacidades passam necessariamente pelo domínio das Tics. Esse profissional foi ao longo do último século formado preferencialmente pela a escola. Coloca-se aqui uma questão importante, pois essas novas habilidades estão sendo formadas em outros espaços escolares e não escolares, cuja ausência de uma pedagogia educacional parece pontuar as ações, e uma nova pedagogia midiática, autoinstrututiva, parece está substituindo a anterior. Esta questão, aqui, apresenta-se como um sinal de alerta, pois a defesa de uma política pública de inclusão social não pode se dá à margem de um processo educativo, ou da presença de um educador, acreditando na prerrogativa que o simples acesso possibilita ao sujeito o conhecimento de forma completamente autodidata e autônoma. Este processo desejável pode ser mais presente aos que já tem certa maturidade cognitiva e educacional que os habilita a tal domínio técnico, semântico e eficaz sobre os usos das Tics e suas possibilidades.

A questão se coloca na forma do acesso aos mais pauperizados à “sociedade da informação”, pois a difusão e a apropriação dos recursos tecnológicos são apresentadas como solução para os mais diversos problemas sociais e econômicos, uma vez que melhorias na qualidade de vida, aumento da renda e das possibilidades de emprego seriam obtidas com a apropriação e utilização das chamadas Tecnologias da Informação e da Comunicação (TICs). Mais uma vez lembramos - a ausência de uma pedagogia educacional pode por em cheque tal defesa.

Ora, se para Silva Filho (2003, p. 01), a tecnologia de informação e comunicação, renda e educação são os três pilares que formam um tripé essencial para que ocorra a inclusão digital, e se a inclusão social é oferecer aos mais necessitados oportunidades de participarem da distribuição de renda do País, dentro de um sistema que beneficie a todos e não somente uma camada da sociedade. Então ajustar esse tripé é essencial para qualificar a defesa e proliferação de políticas públicas voltadas à inclusão digital.

Defendemos a presença e o acesso dessas tecnologias em comunidades e escolas em locais os mais diversos possíveis e principalment nos mais carentes. O acesso à informática deve ser visto como um direito e, nas escolas públicas, o estudante (que não deve ser apenas um usuário) deve usufruir de uma educação que no momento atual, inclua, no mínimo, uma alfabetização tecnológica, que não deve ser vista como um curso de informática, mas sim, como um aprender a ler essa nova mídia. Observar essa questão como fomento de discussão nos cursos de formação de professores urge-se como imperativo.

Como diz Freire (2003:19), “a comunicação é algo absolutamente necessário para que haja conhecimento”. E nestes tempos atuais, como os meios de comunicação têm se tornado um dos principais ambientes de produção, distribuição e circulação de conteúdos, muitas vezes esses conteúdos parecem competir com os conteúdos produzidos e ensinados nos ambiente escolares.

Assim sendo, o computador deve estar inserido em atividades essenciais, que desenvolva o raciocínio lógico, tais como: aprender a ler, escrever, compreender textos, entender gráficos, contar, desenvolver noções espaciais, pesquisar, etc. Se buscamos qualquer tipo de inclusão, precisamos começar pela Educação. E Educação não é instrução! Muito menos instrução de uso de produtos. Essa dimensão educacional deve ser pensada nos espaços escolares e não escolares.

Concordamos com Mattos (2009), quando este afirma:

“o que se deseja é que a inclusão digital seja feita incorporando fatores cognitivos importantes para que os usuários possam de fato dominar a linguagem utilizada e os conteúdos acessados, de tal forma que sua inclusão represente, conforme apregoa Silveira (2003): (a) uma ampliação da cidadania, (b) uma melhor inserção das camadas mais pobres ao mercado de trabalho e (c) permita progressos dos jovens em termos de educação formal que incorpore pensamento crítico, melhoria da formação sociocultural e participação efetiva deles na sociedade da informação do Brasil”.(Liinc em Revista, 2009,p.128)

Mattos continua sua argumentação, ao coadunar à sua mesma linha de raciocínio, as idéias de Aun e Ângelo (2007). Estes defendem que: “garantir a todos o acesso às novas tecnologias passou a ser uma questão da cidadania, ética, consolidação da democracia e da inclusão social de indivíduos e grupos tradicionalmente excluídos do desenvolvimento sócio-econômico, pela intensificação do gap entre inforicos e infopobres. (AUN; ÂNGELO, 2007, p.66).


CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após estudos a partir da construção dos blogs como ilustração daquilo que já está em curso nos diversos níveis de ensino, incomoda-nos pensar se o horizonte da escola está na mídia. Se for verdade, certamente observaremos um “boom” ainda maior de aulas virtuais, educação continuada via Internet, fórum via Internet, instalações de mais tele centros de inclusão digital, abertura de mais lanhouses, replicando o que já observamos nos meios organizacionais das grandes corporações. As organizações corporativas buscam com essas ações economia de tempo, recursos, verbas e pessoal, o que parece contradizer o fazer pedagógico, que demanda tempo lento, esforço, mais recurso materiais, verbas e professores mais qualificados.

Concordamos com Freire (2003), quando este afirma que nós, professores, devemos perceber nosso tempo, e que não devemos nos exilar deste, mas por outro lado consideramos sua advertência sobre os meios de comunicação, pois não podemos pensar na mídia sem pensarmos na questão do poder, assinalando quem faz essas produções culturas, e a quem se destina.

Sob esta ótica, nos preocupa a formação dos docentes, tendo em vista esta ambiência midiática. Ora, os alunos exaustivamente expostos, influenciados e já alfaBITizados a esta realidade, quando entram na escola encontram uma aula e professor ainda não ambientado e nem acostumados a esta realidade. Não só há um choque de gerações, fases de vida, e posições hierárquicas antagônica, mas também de cultura. Talvez esteja aqui um dos elementos geradores da indisciplina em sala de aula ainda não percebidos pelos educadores e pesquisadores. (Revista Nova Escola, 2007:32-39).

Nesse sentido, a reflexão proposta procura chamar atenção sobre os usos de objetos pedagógicos notadamente tecnológicos na escola. Os defensores da escola vão afirmar que os saberes produzidos fora do ambiente escolar são produções inadequadas. Os defensores dos meios de comunicações vão afirmar que a escolar está esvaziada de conteúdos, que seus recursos são artesanais e mecânicos, que escola precisa de novos conteúdos, mais recursos audiovisuais, que esta está falida precisando de novos formadores de opinião.

Conforme Fonteles (2008), nem tanto o grupo de defensores e nem o outro. É preciso rever a questão da escola enquanto produtora de saberes. Não só produtora de saberes conceituais, mas também produtora de modelos e de objetos culturais, definindo o momento de uso dos meios tecnológicos para que esses favoreçam o aprendizado do alunado. Este deve conhecer os objetos tecnológicos, mas também construir um conhecimento a partir da curiosidade sobre as facetas desse próprio instrumento. O que este faz? Como faz? O que esconde? O que não revela? Como edita? E assim por diante. Mostrar que a convergência das mídias, além de encantador, pode muito e também pode esconder muito sobre a realidade. A função da escola e das políticas de inclusão deve esclarecer, e não apenas encantar o aluno via acesso ao virtual. A verdade da realidade deve ser estudada, analisada e repensada pelos sujeitos que a produzem, ou que são atingidos por ela. Ou a escola questiona esta ambiência midiática ou reforçará os compromissos desta. Proposta esta razoavelmente percebida e materializada pelos discentes enquanto sujeitos de cursos de formação de docentes. Os blogs desenvolvidos enquanto protótipos têm sido levados aos alunos jovens-adolescentes para apreciação.

Nesse sentido, a escola deve ficar atenta à Pedagogia da Mídia, e aos elementos vulgarizadores propostos por Morin; avaliar até que ponto o uso de objetos tecnológicos têm esfriado as relações na escola, e entre os sujeitos; refletir como os alunos estão lidando com as complexidades inerentes ao seu próprio desenvolvimento e da vida contemporânea. Na “vida midiática”, nos “orkuts”, “blogs”, “avatares”, as soluções nos parecem que são práticas e efêmeras.

Valorizando os ensinamentos proposto por Freire, a escola deve usar os meios tecnológicos por meio de uma didática que favoreça o ato pedagógico, ajudando os alunos a não serem meros consumidores, domesticados a uma burocracia escolar e comunicacional, mas que os tornem produtores de cultura, ampliando o seu repertório cultural - cidadania. Nessa ótica, o ambiente escolar e os não escolares se tornarão um espaço de comunicação e não de incomunicação, um ambiente prazeroso de se estar, mas que não é um espaço de entretenimento, de espetáculo, na qual a aula é um show, o professor um artista, e o alunado a audiência. Mas sim ainda um espaço para a elaboração da crítica e não mais um espaço para depósito de críticas.

Para que o sujeito possa interagir, os meios de comunicação têm produzido encantamentos. Portanto, há que se pensar nos mecanismos proposto pela mídia cuja intenção tem por objetivo facilitar esta comunicação, por meio da eliminação do estranhamento, conferindo à máquina, à técnica, e suas invenções tecnológicas, outros encantamentos, e revestimentos que os tornem mais confiáveis. Pois para se confiar, há que se ter fé. Confiar, que este outro corpo – a mídia, aparentemente não causará danos, nem machucará, e sim trará somente benefícios aos seus usuários. Conforme nos diz Flusser (2002b), as imagens produzidas pelas máquinas procuram instaurar um novo senso de realidade, através da construção de um poderoso senso de religiosidade projetado nas imagens, as quais dão novo significado ao mundo, e por que não, aos conteúdos.

Sob esta ótica, afirmamos que de nada adianta fornecer a infra-estrutura básica, dimensionando a questão apenas do ponto de vista quantitativo, como se a mera disponibilização de computadores (Tics) fosse permitir, por si só, a capacitação intelectual dos indivíduos. Ao contrário disso, é preciso que, como recomenda Levy (2000), sejam criadas condições de participação ativa nos processos de inteligência coletiva, através das quais os cidadãos, alunos, professores, pais, e as comunidades, especialmente aqueles pertencentes aos extratos mais pauperizados da população, sejam de fato inseridos, compreendam o ciberespaço e deixem de ter um mero papel passivo de consumidor de informações, bens e serviços, para atuarem também como produtores de conhecimento na cadeia cibernética. A não atenção a esses aspectos, coloca em risco não só a inclusão digital, mas também as possibilidades educativas deste meio, pondo este possível educacional num campo inautêntico das mídias, como nos diz Flusser (2002b), no qual as superficialidades das imagens não nos conduzem a uma profundidade das realidades, questão essa fundamental para que a inclusão digital não se configure como apenas um momento de passa-tempo, num mero entretenimento, mas sim num espaço de construção de conhecimento que se desdobre em exercício pleno da cidadania.


REFERÊNCIAS

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BAITELLO Jr., N. A era da iconofagia. Ensaios de comunicação e cultura, São Paulo: Hackers editores, 2005.

CONTRERA. M.S. Incomunicação e amor. IN: BAITELLO Jr.., N., CONTRERA, M. S., MENEZES, J. E. O (2005) Os meios da incomunicação. São Paulo: Annablume.

DELORS, Jacques. Educação: um tesouro a descobrir : relatório para a unesco da comissão internacional sobre educação para o século xxi. 8. ed. São Paulo: Cortez, 2003.

FLUSSER, V. Filosofia da Caixa Preta: ensaios para uma futura filosofia da fotografia. Rio de Janeiro: Relume Dumará.(2002b).

FONTELES, H.A. O Processo de vulgarização na escola pela mídia. IN: DOLGHIE, J; FONTELES, H.A; CAMPOS, B.M. Cultura, Mídia e Educação: abordagens transdisciplinares. São Paulo: Livropronto: 2008.

FREIRE, P; GUIMARÃES, S (2003) Sobre educação. 3.ed. ver. E ampl. São Paulo: Paz e Terra, 2003.

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MATTOS, F.A.M.IN: Liinc em Revista, v.5, n.1, março, 2009, p. 117- 132 - http://www.ibict.br/liinc

MORIN, E (1997) Cultura de Massa no século XX: neurose. Tradução de Maura Ribeiro Sardinha 9. ed, Rio de Janeiro: Forense Universitária.

SILVA FILHO, A. M. Os três pilares da inclusão digital. Revista Espaço Acadêmico, ano III, nº 24, maio de 2003.

GENTILE, P.A Educação, vista pelos olhos dos professores. IN:Revista Nova Escola,n.207, 2007, Pág 32 – 39.

MELLO,K; VICARIA,L. Os filhos da era digital (IN).Revista Época, ed.486, 2007, Pág 82-90.

ROGAR, S. Intimidade, câmera, ação. (IN).Revista Veja, ed.2023, 2007, Pág 100-101.


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NOTAS

[1] Site disponível para navegação em estudo como simples exemplificação, acesso livre em 30/06/2009 http://www.mackquimica.blogspot.com/
[2] Site disponível como amostragem, acesso livre em 30/06/2009 http://www.pedagopediamack.blogspot.com/
[3] Morta na Alemanha, na câmara de gás, pelos nazistas e companheira de Luís Carlos Prestes, militar e político comunista brasileiro. Foi secretário-geral do Partido Comunista Brasileiro, membro da ANL (Aliança Nacional Libertadora) durante o governo de Getúlio Vargas (1930 – 1945). Mais informações sobre a história de Olga indicamos ler Morais, Fernando. Olga. 2a.ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1993.


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