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VALORES: VIRTUDES E PRÁTICAS NO INTERIOR DA SALA DE AULA: a compaixão

Fabiana Ferreira
Maria Rosângela Rodrigues
Marina Lúcia dos Santos
Roberta
Vanessa Sarai


Para que o professor trabalhe com as virtudes na sala de aula, deve-se antes de tudo, entender o significado de virtude e como se educam tais valores.

Segundo Edith Stein (1999) no livro “A Mulher, segundo sua natureza e graça”, o educador pode agir sobre o educando de três formas: pela palavra que se ensina, pela ação pedagógica, pelo exemplo próprio.

Podemos então entender que, no âmbito escolar, para que a criança aprenda tais valores, o educador deve ser para ele modelo.

O ensino das virtudes se dará, portanto no próprio convívio em sala de aula, através do respeito para com o outro, da atenção e cuidado do professor-aluno e vice-versa. O educador deve ter o cuidado no respeito à diferença buscando sempre a socialização dos indivíduos, desenvolvendo entre eles a capacidade de escutar e de se expressar quando necessário.

Ao trabalharmos a virtude da compaixão em sala de aula, podemos fazer de modo que se aproxime da realidade do aluno, colaborando com o colega que tem alguma dificuldade na realização de alguma tarefa, se colocando no lugar do outro e ajudando-o de verdade.

Rubem Alves nos fornece o exemplo da virtude ao dizer “[...] aí eu sofro com ele. Ponho o outro dentro de mim. Esse é o sentido do amor...”. Então, cabe aos educadores proporcionarem a seus alunos um espaço agradável em que eles possam sentir-se vontade em trabalhar as virtudes, não como uma obrigação, mas através de exemplos, sendo coerente com o que fala e com o que faz, pois as virtudes podem ser ensinadas, mas também acontecem de maneira espontânea e vão sendo “treinadas” no dia-a-dia.

Assim como se leva certo tempo para aprender a ler, escrever, contar, também ocorre com as virtudes, necessitam que sejam vivenciadas e compartilhadas com o outro.

Na sala de aula, em especial, é um espaço propício para as virtudes, pois além dos alunos e professores manterem um convívio diário, tem possibilidades de compartilharem suas experiências, de modo a ensinar e também aprender com o outro, colaborando no processo de ensino e aprendizagem, que não ocorre de maneira individual, mas de uma forma coletiva.

O ser humano possui um poder muito grande de adaptação, constantemente vive em busca de sua felicidade, o que para uns é agradável, para outros pode ser desagradável, sendo necessário certo equilíbrio e medida entre as coisas.

A falta pode levar a escassez, já o excesso pode ocasionar um exagero, para que isso não seja presente na sala de aula, vale a pena o educador privilegiar o diálogo com seus alunos para saber o que pensam, considerando as experiências individuais, para que sejam compartilhadas com o coletivo e possam viver em harmonia, considerando as diferenças de cada um.

Neste texto, destacaremos a virtude “Compaixão” em sala de aula. Utilizamos como foco de estudos a definição de compaixão por Comte-Sponville: “A compaixão [misericórdia] é o amor enquanto afeta o homem de tal sorte que ele se regozije com a felicidade de outrem e se entristeça com seu infortúnio”.

Numa tarde de domingo, o grupo se reuniu e muita discussão se deu em torno do tema. “Nós educadores em formação, como podemos trabalhar a compaixão em sala de aula?”; “Quais as possibilidades de ilustrarmos a compaixão de tal forma que os alunos compreendam-na profundamente e passem a praticá-la diariamente em suas vidas?”. Após a troca de dúvidas e reflexões, o grupo chegou ao consenso sobre a necessidade de se considerar os seguintes aspectos para se trabalhar a compaixão:

-Professor deve ser exemplo em sala de aula. Portanto, deve praticar a compaixão;

-A educação deve se aproximar da realidade que alunos e professores vivem em sala de aula;

-Não basta só teoria, a prática também deve estar presente e ser discutida entre educadores e educandos.

A partir desses aspectos, surge uma grande idéia! Para que professor e alunos compreendam e reflitam sobre a compaixão em seus atos, durante alguns dias o professor irá propor uma atividade em que as crianças façam duas listas. A primeira com o título “Estou com dificuldade em....” e a segunda com o título “Posso ajudar em...”. As crianças colocarão seus nomes, se reunirão em grupos e a professora também praticará a compaixão auxiliando-os nas dificuldades apontadas.

Esses momentos serão essenciais, pois poderão ser colocados em prática dois dos três aspectos que destacamos: o professor como exemplo; a realidade da sala de aula.

Para atender ao terceiro aspecto (que compreende a reflexão dos atos) e concretizar a compaixão, esses encontros serão filmados. Um belo dia, ao questionar as crianças sobre o significado da compaixão, a professora colocará o vídeo e ambos assistirão cenas em que a compaixão esteve presente nos atos das crianças e do próprio professor. Atendendo aos três aspectos será possível definir a compaixão na prática e na teoria, colocando-a sempre presente em sala de aula, atendendo a realidade de educadores e educandos.

Uma aula assim pode propiciar aos envolvidos no processo educacional, um contato mais ‘’concreto’’ com a virtude da compaixão, para que todos comecem a refletir e a aprender a respeito da importância do outro, de seus sentimentos, e desta forma, dar início ao processo de humanização, no sentido de compartilhar dos sentimentos bons ou ruins do próximo, ouvi-los e acima de tudo respeitá-los.

Neste sentido faz-se necessário refletir a respeito do papel da educação e do educador para o desenvolvimento integral dos indivíduos, pois como afirmava Sócrates, a virtude pode ser ensinada, não sendo inata ao ser humano. O educador então, por meio de suas atitudes poderá servir de modelo para seus alunos e por meio de suas práticas poderá projetar ideais a respeito do tipo de cidadão que deseja formar, ou seja, questão referente a ‘’politicidade’’ do ato educacional.

Por fim, é necessário que entendamos que a compaixão como virtude não se dá somente por ações, mas principalmente pelo sentimento envolvido na relação entre as pessoas, sendo mais do que ações isoladas ou práticas resultantes de interesses sociais. A compaixão, como virtude, é acima de tudo um modo de vida!





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