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ARISTÓTELES: SOBRE A GERAÇÃO E A CORRUPÇÃO


Fabio Dantas da Cruz


Aluno do Curso de Filosofia da Universidade Mackenzie




Introdução

Aristóteles nasceu em Estagira, na Calcídica (384 a.C. - 322 a.C.). Tornou-se aluno de Platão e preceptor de Alexandre, o Grande. Aristóteles é considerado um dos mais influentes filósofos gregos, ao lado de Sócrates e Platão, que transformaram a filosofia pré-socrática, construindo um dos principais fundamentos da filosofia ocidental. Aristóteles prestou contribuições fundamentais em diversas áreas do conhecimento humano.

A substancia sensível é sujeita a mudança

[1]¹. Com essa frase Aristóteles inicia o segundo tópico do livro décimo segundo da “Metafísica” e sobre esse tema ele dedica um tratado inteiro composto por dois livros e denominado “Da geração e da corrupção” esse tratado faz parte das obras que tratam sobre a Física e se encontra entre “Do Céu” e “Meteorologia”, Nesse tratado ele visa explicitar as mudanças que ocorrem no plano sublunar e com base nisso iremos analisar alguns conceitos apresentados no tratado buscando expor com alguns exemplos o que se entende por geração, corrupção e outros aspectos da mutação, posteriormente tentaremos aplicar os conceitos analisados a uma vertente não física.


Aristóteles: sobre a geração e a corrupção

Como Aristóteles pretendia não apenas rever como também corrigir as falhas e imperfeições das filosofias anteriores, ele resgata e analisa os conceitos formulados pelos naturalistas, monoistas, pluralistas entre outros e criticando muitas vezes o que foi elaborado. Mesmo assim, é possível notar uma contribuição do pensamento pré-socrático e platônico ao pensamento aristotélico (essa contribuição parece ser a única concordância entre eles), tal contribuição pode ser formulada em uma única frase: Do nada, nada se cria. E por meio dessa afirmação temos uma breve concepção da forma com que a filosofia de Aristóteles ira trabalhar a natureza.

Se do nada, nada pode vir como é possível a geração e a corrupção da matéria? Em outras palavras, como a matéria aceita ser cria? Aristóteles sobre a matéria diz:

“A matéria é, antes de tudo e em sentido próprio o substrato capaz de receber a geração e a corrupção, mas de certo modo também é o substrato dos outros tipos de mudanças, porque tos os substratos são capazes de receber certas classes de contrariedade”[2] .

Partindo desse conceito da capacidade de mudança da matéria, tentaremos explicar como que isso se dá.

O que o sabemos é que essas mudanças se dão de quatro formas:

1- Segundo a essência, o que nos leva a geração ou a corrupção;
2- Segundo a qualidade, o resultado é a alteração;
3- Segundo a quantidade, temos aqui o aumento ou diminuição;
4- Segundo o lugar, temos a translação.


Deste modo a geração se da no âmbito da essência. Fazendo que o não-ser passe a ser e por assim dizer eu poderia afirmar que quando nasci passei da condição de criança-não-nascida-ainda para a condição de criança-recem-nascida. Assim fica evidente que a geração ela não se dá a partir do nada e sim que sempre se gera algo a partir de algo que pertence ao mesmo gênero ou espécie. “Quando o homem-musico se destrói e se gera o homem-não musico, o homem continua sendo o mesmo”[3] e isso se caracteriza como uma alteração. O aumento ou diminuição é de fato uma mudança por agregação ou dissolução da magnitude do objeto. E a matéria que se translada, muda totalmente de lugar. A corrupção é o efeito inverso e co-relacionado da geração é a passagem do ser a o estado de não-ser.

Vemos claramente que os conceitos apresentados seguem uma lógica rigorosa e que podemos constatar empiricamente que algo se gera, cresce ou diminui, se altera e se corrompe. Aristóteles diz:

“por que também as durações e as vidas das diferentes espécies de seres vivos tem um numero, numero pelo qual nos os distinguimos, pois, para todas as coisas, há uma ordem, e toda vida e toda duração é medida por um período; todas as coisas, no entanto, não são medidas pelo mesmo período; para umas, ele é mais curto, e para outras mais longo(...)”[4] .

Ou seja, tudo que existe no mundo sublunar existe por um tempo, tal afirmação nos levaria a afirmar a brevidade da vida, já que a vida do modo que conhecemos existe no mundo sublunar, essa afirmação se assemelha ao pensamento estóico. O que nos mostra que é possível arriscar dizer que os conceitos físicos também podem ser aplicados à forma de vida que nos concebemos, pois se aceitarmos que a vida é alteração, geração e corrupção constante, nos seriamos obrigados a nos ater em outras coisas que iriam alem de obter riquezas, prestigio, gloria e fama, por exemplo, voltaríamos a seguir a nossa tendência natural que é o saber e buscar fazer disso uma forma melhor de viver tanto individualmente quanto exercendo nossa função política na cidade. E por esse lado estando de acordo com a natureza estaríamos cada vez mais perto do que o Sêneca chamará de “Vida feliz”, pois ele afirma que feliz é aquele que vive de acordo com a natureza e faz dela seu mentor. No mundo de hoje em que uma parte da população só acredita em algo que tenha uma base ou referencia cientifica, essa aplicação dos conceitos Aristotélicos daria uma nova concepção de vida para essas pessoas.


Conclusão

Podemos concluir que os conceitos sobre as mudanças da matéria, por um lado permanecem atuais já que ainda hoje, nada de cria a partir do nada, vemos ainda a geração e a corrupção atuarem nos corpos e ainda podemos constatar as outras formas de alteração da matéria. Por outro lado, aplicar os conceitos materiais a causas não físicas, não acompanha a grandeza do pensamento desenvolvido pelo cidadão de Estagira já que ele se propõe a falar de temas práticos em outros livros, mas mesmo assim ainda podemos dizer que a vida é breve e dar uma explicação causal a tal afirmativa.


Bibliografia

1- Aristóteles. Da geração e da corrupção. Editora Landy. São Paulo, 200.

2- Aristóteles. Da geração e da corrupção das coisas físicas. Editora Logos LTDA. São Paulo 1958.

3- REALE, Giovanni. Aristóteles: Metafísica; ensaio introdutório, texto grego com tradução e comentário de Giovanni Reale. Trad. Marcelo Perine. São Paulo, Loyola, 2002. Vol. II.

4- http://pt.wikipedia.org/wiki/Arist%C3%B3teles 5- Sêneca. A vida feliz. Editora: Nova Alexandria. São Paulo Ano: 2005.





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NOTAS

[1] Metafísica, 1069 b 5 [2]Da geração e da corrupção, livro 1 capitulo 4 [3] Idem [4]Da geração e da corrupção 336 b 10