BEATRICE E DANTE, O Amor no movimento das Estrelas

Simone Alauk (*)


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Ilustração de Gustave Doré, 1868


A Origem das palavras rencontra sua pele sensível, seu lugar de repouso. Vide cor tuum¹ surgia do som no despertar da caminhada percorrida pelo esquecimento das almas.

Neste Lugar não era possível reconhecer os acessos do mundo visível, os astros ocultavam-se no movimento das palavras escritas sob a terna escuridão do véu do desconhecido.

Dante entrega-te ao teu Senhor, este ser que surge das profundezas e laterais dos mundos ocultos, finda a sua alma no banho do mar desses céus no conhecimento profundo.

O Amor chegou a ti, como chega o trovão ao mundo, e reverberou este som da criação inteira das palavras, das cores mais vivas.

Do Caos intransferível, dos surtos invioláveis, da presença da alma no corpo do mundo terreno. A distância se pronuncia sem verbos, nas alturas dos campos celestes.

Vigiam-te nossos medos ancestrais. Beija-te a alma, como num toque que eterniza o tempo, violando a distância dos céus no movimento puro e disposto a escalar as estrelas.

Beatrice conheceu o Sol. Figura prisioneira da eternidade do tempo. Na ternura do olhar pela Vita Nova, o amor descobre a origem das palavras.

A Escrita do tempo é a súplica vinda a nós, como os astros ao mundo, na flâmula de uma eternidade materializada pelas palavras que saindo a ver, tornamos as estrelas.

A toda alma prisioneira, a todo o coração gentil,
até aos quais correndo vá o meu lamento
e que diga cada um aquilo que sente
saúde em seu Senhor, a saber o Amor.
Quase se tinha atingindo a hora
Em que a luz estelar mais viva nos parece,
quando de súbido o Amor se me mostrou,
e de tal forma que lembrá-lo me horroriza.
Alegre me parecia, tendo
numa das mãos meu coração, e nos braços,
envolta num cendal, minha dama, adormecida.
Despertou-a; e desse coração, que ardia,
ela comia, receosa, humildemente.
Vi-o depois afastar-se soluçando.
²

O Tempo como era impossível imaginar, assim são as estrelas que conhecem o silêncio nu dos olhos de um apaixonado, presenciando o infinito encontro das almas.

O Amor toca-te o corpo numa intensidade milagrosa, esta arte invisível capaz de perfurar as mais profundas almas, movimenta-se além dos céus, do tempo e das estrelas.

Deixa teu Nome a este lugar, nada lhe pertence. Tuas obras inteiras descortinam o oculto do mundo pela presença que reconhece em um único som l'amor che move il sole e l'altre STELLE

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(¹) Vê o teu coração.
(²) Vita Nova, Dante Alighieri (1295)
(³) O amor que move o sol e as outras estrelas.

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(*) Simone Alauk é jornalista, com pós-graduação em cinema. E é aluna do Curso de Filosofia da Universidade Mackenzie



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Amor e Filosofía