DUAS RETAS PARALELAS AMANTES

Moyra Isabelle de Alcântara Madeira(*)


I

Os vaga-lumes reluzentes no céu
Dão destaque ás corujas
Que voando de maneira circular,
Pedem que os poetas dancem pelas ruas
Para escrever a música sem pretensão
Lá, semelhante a um cacto
O vejo.
Com a solidão do poeta
E com a paixão da chuva tardia.
Escultor da minha reta
Quando a luz percorre nossa via
Do seus olhos saltam uma seta
Tecendo as fases da Lua.

Ah! A sua cor não sai de mim
Do lilás: olhar de quem parte
Faz o azul de quem ficaria
E, frente a Eros e Afrodite
Fico incolor, cheia de cores vãs.


II

Se soubesse que o amor me envaidasse
Não teria dado a chance que eu me dei
Mas, chamo-te: Dante
Aguardando para pôr sua mão entre as minhas
Para adentrar, mais uma vez, o paraíso
Arcanjos cantam aos nossos ouvidos
E seu azul pinta as quatro paredes
Nossos rios encontram-se
Nossas águas confundem-se
E nossas cores não mais distinguem-se

Estávamos pintados apenas na cor da pele
Dance a minha valsa
Olhando em meus olhos
Que te ofereço o vinho servido em meu umbigo
E te embriago de mim.


III

Minhas jabuticabas alumiadas pelo Sol de outono
Estão sempre fixadas em você
Que sensação!
E fico lá: estampada em suas fotografias
Na nudez do que nunca acontecera.

Da profundeza à imensidão
Herdo também do mar sua inconstância
E meu único temor é morrer em seus pensamentos
Mesmo que ainda viva.

Ah! Travessia infindável a nossa
A admiro.
Infinita como as estrelas
Que deixam seu pó cair em suas sobrancelhas
Quando, enfim, meu pensamento te atinge
Faz-se um carnaval no engarrafamento
E as buzinas tocam flautas doces
No meu dizer finjo tender ao meio termo
Quando estou sempre voltando ao extremo

Então, minha imaginação triunfa
Junto à força do meu desejo
pulsante e “episódico”


IV

Já fez calor e temporal
E as noites revelam nossos olhares proibidos
E o meu sapato esquecido
Encorajando a minha volta
Volta?
Como voltar de caminhos nunca antes traçados?
Ilusão, fantasia
Meu entendimento e percepção pouco apurados
Destacam minhas pernas trêmulas; Minha garganta seca;
Meu coração acelerado;
Paixão.

Ah! Se pudesse escolheria apenas nossos caminhos
Cobertos de flores.
Tu e eu.
Caminhando de mãos dadas.
Já fui louca, Princesa, e Maria

Pinto com sentimento Seu sorriso
No rosto d’outrem


V

A saudade me consome
E o querer não lhe querer
É um não-querer
Nossa temporalidade me encanta, puro fascínio
Sigo, caminhando em nossa relação inexistente
No seu nada,
No meu tudo...
Sou distinta na minha igualdade de ser
Humana.
Amada.
Amante.
Eu.
Você.
Homem:
Não apenas meu corpo
Que esvai-se em pó,

Ame também meu pensar, Meu sentir
Ame minha subjetiva objetividade de querer-te


VI

Ah! Se pudesse tocaria minha valsa eternamente
Te colocaria entre meus seios
E, então, você poderia descansar teu corpo
A paixão saberia cuidar de nós
Passageiros como a luz do Sol.


VII

Você era o Sol
E eu, o seu deserto
No arriscar e cativar
Seus raios adentravam
em todos os meus grãos de areia
Nos contemplamos ardentemente
como se não houvesse o amanhã
Naquelas promessas impensadas e mui desejadas
De quem não tem apenas uma noite
Mas a vida toda para amar.
Houve o amanhã.
E ante tantas palavras
Não vejo sentido em mais nenhuma
Pois compartilho de sua conclusão:
Somos aquelas retas paralelas amantes
Que sonham, um dia, em encontrar-se em algum ponto
Do infinito.


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(*) Moyra Isabelle de Alcântara Madeira possui graduação em Filosofia pela Universidade Mackenzie (2010). Tem experiência na área de Artes, com ênfase em Performance.


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