E SE VOCÊ TIVESSE MORRIDO?

ERA TANTO QUE TE QUERIA


Angela Zamora Cilento(*)





E SE VOCÊ TIVESSE MORRIDO?

Se você tivesse morrido
Certamente a luz dos meus olhos
Teria também se esvaido
Junto com o mel que deixou em minha boca

Ai de mim, se tivesse partido
Para sempre e definitivamente
Sem possibilidade alguma de volta
Sem ter me dito o que quero tanto saber
E sem que eu soubesse o que de fato sente
Partiria sem me dizer adeus...É de enlouquecer
Qualquer gente.

O fato é
Que todos nós podemos partir
A qualquer momento sem aviso prévio,
Completamente de repente.

E então, mais profundas seriam ainda
As marcas que me deixou.
Lembranças cristalizadas
Nas esferas eternizadas
Da minha felicidade.

Ai de mim se tivesse morrido
Que dor seria a notícia desse som nos meus ouvidos!!

Não poderia lhe dizer também o que senti
Quando me abandonou
Não poderia também lhe dizer da minha mágoa
- mulher seduzida e abandonada
Como tantas outras .. repete-se a mesma história.

Não poderia lhe dizer que te esperava
Durante muitas noites
Mas não te procurava
Eu queria que sentisse minha falta

Afinal quem não queria ser a mulher
a quem você devota todos os pensamentos?
Aquela a quem dedica os mais obscenos desejos?
Aquela a quem se quer fazer feliz a qualquer preço?

O meu destino sorriu quando conheceu você.
Foi você quem preencheu alguns dos meus vazios,
Sigo plena de desejo...

Ai de mim se tivesse me deixado
Mais sozinha do que me sinto agora
Atormentada pelo ciúme que me devora
Ai de mim que não teria a chance de lhe dizer
O quanto te amo, de fato
E o quanto te odeio de vez em quando.




ERA TANTO QUE TE QUERIA

Sim, ja te olhei
como a leoa faminta
à espreita da caça
na savana dourada.
era tanto que te queria!
ora, mas antes era quem me amava
... Cada dia um novo afeto transparecia:
O de criança flertando o algodão doce - olhos arregalados.
o de ursinho de pelúcia no quarto de menina - olhos estáticos.
e aquele entao? - o de cachorro sem dono perdido na multidão...
a ardência do olhar de quem está no inferno e quer incendiar.
Ainda outro dia era o do gato buscando o aconchego da lareira ...
alguém querendo colo e se esquentar.
Vi também num dia em seus olhos o vazio
de quem não tem mais nada pra dar.
Mas o sorrateiro olhar de malandro
de vez em quando aparecia.. sem vergonha!
Maria que vai com as outras, Maria que vai com todas
Ah! e eu enfurecia!

Houve tantos outros olhares
que nao saberia enumerá -los
Meu desejo nunca fraturado
cambaleia entre becos
e outros beijos.

O que me motiva escrever é poder desabafar:
Eh pensar que você..alguém tão comum como você
Sem nenhum atrativo aparente
se tornou tão singular
Que não consegui esquecer


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(*) Angela Zamora Cilento é professora de Filosofia na Universidade Mackenzie.


Revista Pandora

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