Pàgina Literária de Jorge Luis Gutiérrez |
AGORA QUE O DESEJO (Jorge Luis Gutiérrez") Agora que o desejo se aconchegou em minha alma e o tempo que te envolve, como um mistério suave, arrasta-se por onde quer e tenho meramente meu vigor e minha ternura: resolvo singelamente que saibas que te amo e tudo o que anseio é alegrar-me em ti. Só sento no recôndito teu existir indelével, tecendo a rotina de uma manhã sem sol, quando um halo cinza declinava na impávida janela e as horas se deslizavam indiferentes e neutras. E neste ocaso claro peço tão só ver-te, sabendo o arriscado dessa ilusão atroz e vazia minha alma de toda esperança contemplo as montanhas, gélidas e cruas, em toda tua verdade. Nada há em meu desejo a não ser tua figura, e nada em tua lembrança que não me faça feliz. E serenamente me vou por ruas luminosas; e hermenêuticas homilias sobretudo teu afazer. Minha fome é ter-te, sem pensar como e quando. Podes até dizer-me que não acontecerá: que meu desejo é triste e minha alma lúgubre, aziaga, lutuosa, infausta... Mas quero sem mais que me deixes detalhar-te: nada neste mundo te apagará de minha crônica; nada te fará nada, nem serás inexistência e até na própria morte, estarei morto em ti. E por enquanto só quero tua silhueta descalça, e tua entrega que amainaria a tarde cinzenta. No sigilo de minhas ânsias desejo teu corpo plácido, teu ventre afável, tua morfologia impetuosa. E frente à eterna urgência de estreitar-te procuro-te sem descanso, e tudo o que encontro é o deserto de minha alma, vital e lasciva, padecendo tua exigüidade pelos parques soturnos. Não voltes teu olhar para este outonal instante, não digas o infalível de um nunca, nunca, nunca; e que uma lúgubre sede me envolverá para sempre. Localiza entre minhas coisas algo que te agrade, toma-o somente, faz-te dona dele. Não te desperdices por essas paragens tenebrosos, não fiques sem mim; porque tudo o que há entre nossos destinos é um pouco de doçura desdenhada por Deus. Simplesmente dá-me tua graça indomável e um pouco de tudo o que tu sabes dar e afunda-te no incerto de meu desejo mais fundo e ascende na paz de um meio-dia de luz. Porque o que não posso dar-te, só o nada pode; E o que eu não te entrego, é porque não o é. Por isso nesta vigília de inquietude e desconsolo, procuro entre tuas coisas um pouco de afabilidade e sossego. E quero insistentemente teus olhos de fogo e que não sejas longínqua sobre este mundo vazio. Eu tão só requeiro que a apetência e a vida sejam uma única essência; e me deixes amar-te com todas as cores e todos os aromas. E me confies aberta a porta do jardim: quero entrar sossegado sobre teu corpo tórrido e descansar a teu lado como sempre o quis. Eu somente sou algo que perambula e deseja. Eu somente sou um ser que te ama e permanece. Um homem que existe e sente tua falta. Sou vontade e ardor que não pode relegar-te. Vida em tua vida cheia de vida. Vontades, anseio, duração e silêncio. E sobre a terra inerte abro meu espírito sozinho e desamparado: porque se que se quisesses estarias junto a mim e me oferecerias teu calor, num abraço intenso e fidedigno, e perdurarias nos limpos raios de uma aurora sem sentido.
AHORA QUE EL DESEO
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